30/07/2011

Banca?

Saio do banco e sou roubado,
Violentado e humilhado.
Na banca também.
Mas a banca é soberana,
Ela manda e desmanda.
Bota banca que eu desbanco:
Arrebento e desanco.
Você me banca?
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Uma homenagem a todos que sofreram (e ainda sofrem) com toda violência simbólica das bancas de avaliação de monografia, dissertação e tese. É um absurdo!

29/07/2011

Estar, ter e ser

Enquanto estiver sem,
Só estará.
Sempre será.

Enquanto tiver bem,
Nunca estará.
Só terá.

28/07/2011

Censura, alienação e felicidade

Pra você não se ofender,
Melhor nem me ler.

Porque se você me podar,
Vou me fechar...
E azedar.

27/07/2011

Mudanças

Não quero mudar você.
Quero manter você,
Conservar você.
Mudar pra quê?
E logo você?

26/07/2011

Fee and free

Há o custo
E a custa.
Há o grato
E o grátis.
E tudo pode se confundir.
Quanto custa um grato?
Qual o custo do grátis?
O que gratifica o grato?
Quem é grato ao custo?

25/07/2011

Só quero

Só quero falar o que sinto.
Só quero falar o que
Só quero falar.
Só quero,
Só.
Só, quero.
Só quero saber.
Só quero saber o que?
Só quero saber o que quer.

24/07/2011

Tudo tendo demais embrulha

São muitas ilusões,
São muitas frustrações,
Muitas acusações,
E pressões.
E sem querer,
Você me dá o que já tenho demais.
E não quero mais!

23/07/2011

Fuga e esquecimento

Você se foi.
E esqueceu seu cheiro,
Meu tempero.
Você vai embora e não me deixa em paz.
Quer o que mais?
Fugir nem sempre é partir.
Às vezes é unir.
Inda mais quando se esquece das lembranças,
Em meio às andanças
E cobranças.

22/07/2011

Vou escrevendo... E vivendo.

Vou escrevendo tudo o que quero (e o que não quero) de uma tacada só, de uma penada só. Sem pena, nem dó.
Vou escrevendo na velocidade que vou vivendo (talvez mais devagar) de vagar.
Vou escrevendo sem escolher as palavras (elas me escolhem), nem os sentidos que quero dar. E até sem sentidos quero dar. Como as palavras não são minhas, não posso segurá-las. Os sentidos são (em parte) meus, porque também são seus.
Vou escrevendo e buscando finalizar. Mas a dificuldade que tenho pra começar só não é maior que a dificuldade pra terminar. Porque depois do ponto há sempre um espaço em branco, pedindo pra ser preenchido, completado, rabiscado, repontuado.
Vou escrevendo pra frente sem voltar atrás. Sem querer voltar atrás, sem querer que fique nada para trás. Sem reler, nem reviver.
Vou escrevendo parado num mesmo lugar, mas sentindo o movimento me arrastar: tudo gira a minha volta sem me dar a opção da volta, sem me dar a opção de volta.
_______
Imagem: Escultura de Giacometti, "o homem que marcha sobre a prancha"
Escrito em Serro/MG, em abril de 2011.

21/07/2011

Acalanto

Todo campo
Tem seu canto,
Seu encanto.
Sei que meu canto
É acalanto.
Mas me espanto
Com seu pranto.
Porque seu encanto
É meu manto,
E me cobre de paz.

20/07/2011

Sonhar e realizar

Penso em nossos desencontros
E me canso.
Penso em nossos encontros,
E me encanto.
Sonho com cada momento.
Realizo cada planejamento.
Será que é melhor sonhar ou realizar?

19/07/2011

Nocaute?!

Você, que abriu contagem,
Pensou que meu fim fosse a lona,
Mas não entrei em coma;
Não deitei na cama.
E o que parecia perdido,
Aconteceu!
E me tornei o maior vencedor
Depois que senti a dor,
Quando descobri que o valor do fim
Está em mim.

18/07/2011

Não posso, não devo

Não posso dar o que você quer,
O que você não pede
Não sei.
E não posso querer o que você não pode,
O que não deve.
Pois não há prisão maior que dever!
E você não me deve,
Deve saber.
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Imagem: Flores, pintura de Andy Warhol.

17/07/2011

Dormir pra acordar

Quero andar pelas montanhas,
Deitar na relva molhada,
Dar uma gargalhada cansada...
E dormir a seu lado,
Suado,
Pelado...
Feliz!
E quando acordar,
Recomeçar.

16/07/2011

Reencontrar

É sempre bom encontrar você!
É bom enxergar você,
Ver você.
Mesmo sem querer.
E saber que também sou visto,
Enxergado,
Encontrado.
(Por você)
E eu que ando perdido,
Fico ainda mais.
Encontro em você a minha perdição.
Meu perdão
À acompanhada solidão.

15/07/2011

Encontros e sensações

Encontro você na estrada
E meu coração dispara.
Meu coração diz: para!
Mas você avança e emudeço.

Abraço você e sinto minha calça apertar
Bem devagar.
E sinto a dor da saudade.

Espero nossos lábios se tocarem,
Se encaixarem,
Se lambusarem.

Meus braços ficam apertados em volta de você,
Sentindo sua respiração e palpitação.
Em silêncio nos olhamos e dizemos tudo:
Que delícia encontrar você!

14/07/2011

Saudade, vontade e maldade

Saudade
Queria que estivesse a meu lado,
De braço dado.
Queria que viesse ao meu encontro,
De beijo pronto.

Vontade
Queria que fosse comigo,
Enfrentar o perigo.

Maldade
Queria ter sido mais solidário.
Aí não me sentiria tão solitário.

13/07/2011

Pensar é uma droga!

Tem gente que usa drogas legais pra pensar melhor.
Tem gente que usa drogas ilegais.
Há os que bebem pra pensar melhor;
E os que se abstém.
Tem os que transam pra pensar melhor;
E os que praticam esportes.
Há os que rezam,
Os que viajam,
Os que dormem...
Tudo pra pensar melhor.

Eu não paro de pensar!
E isso é uma droga.
Não quero droga
Nem pensar.

12/07/2011

Ações duvidosas

Vou casar;
Vou pescar;
Vou pastar;
Vou parar.
Vou?!
Vôo.

11/07/2011

Dormir para acordar

Aprendi a dormir com a noite
E a acordar com a alva.
E toda falta.

10/07/2011

Bela noite

Que noite mais bela!
A mais bela das noites!
Bela como a noite.
Que bela noite!
Bela da noite,
Sua negritude encanta,
Levanta!
Bela noite encantada,
Tão encantada como a noite!
Oh, noite que não vem!
Encanta-me sua beleza,
Sua bela negritude.
Néga que seja bela
E négo que seja nega, bela!

09/07/2011

Colar?

Escolar:
Esc o lar.
Descolar.
Colar
O lar?
Ar.
Decolar!

08/07/2011

Desafios

Preciso intolerar a morte,
Desafiar a sorte,
Cicatrizar o corte...
Mas, afinal, a morte sempre vem,
Sorte não se tem
E corte vai e vem.
O que fazer,
Senão aceitar?
O que fazer
Se não aceitar?

07/07/2011

Pingo

Essa poesia vai pingar.
Em algum lugar ela vai pingar.
Vai pingar transparente.
Vai pingar sem furar a pedra dura,
Sem romper a roda de ferro
Ou abater o coração musculoso.
Vai molhar sem machucar.
Pra quem sabe ler, um pingo é letra.
Essa é minha letra:
Sinto saudades de você!
´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´´´ ´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´´  ´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´    ´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´      ´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´        ´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´          ´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´            ´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´             ´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´            ´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´         ´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´   ´´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´
´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´
Pingou.
Caiu no chão e...
Acabou!

06/07/2011

Caminhada marcada

Busco entender o caminho percorrido,
Mas ele não existe mais.
Levanto a cabeça e aperto os olhos para tentar ver a estrada ao longe,
Mas ela não existe ainda.
Então, olho para meus pés e vejo o sulco cavado no ato,
Durante a caminhada.
E só aí entendo o sentido da existência:
Tudo não passa da experiência!
O calcanhar vê tudo passado,
A sola é presente
E os dedos apontam para o que virá
(E que nem sei se será).
Pés no chão é pra se equilibrar.

05/07/2011

Fundo

Há um fundo de verdade no que digo.
Não estou totalmente perdido.
Há um fundo de verdades em algum lugar,
Com créditos reais
E a fundos perdidos.
No fundo do poço?
No fundo do mar?
Vai confiar?

04/07/2011

Estômago

Se o estômago doi,
A biles rói
E o bafo ataca.
Ele me mata.

03/07/2011

Quero, vou

Quero sair.
Quero sair pela cidade,
Viver a realidade.
Sem mapa,
Nem grana.
Quero olhar ao redor
E saber de cor,
Aprender a saltar
E saltear.

Vou fugir.
Vou fugir da cidade,
Fugir da realidade.
Sem mapa,
Nem grana.
Olhar ao redor,
Aprender a observar
E admirar.

02/07/2011

Pequena história repetida de uma gente numérica

Viveu uma vida torpe: cheio de si, de aventuras e desilusões. Viveu sem pretensões: comendo, bebendo e dormindo. Passando os dias como se folheam livros vagabundos: com pressa e às vezes sem ler nenhuma linha. E olha que gostava de ler, de viver. Mas nem sempre tinha tempo, nem sempre tinha vontade. E a coragem que tinha pra enfrentar a lida ainda era menor que a vontade de abrir os olhos. Preferia ficar deitado, alienado... Esperando que sua morte recompensasse seus queridos (apesar de não querer ninguém) e que também recebesse seu quinhão, no além. Era uma pessoa simples, mas com todas as complexidades da vida de qualquer um. Trabalhou tanto por nada. Batalhou tanto mas cansou (antes do tempo), envelheceu (antes do tempo) e morreu (antes do tempo). Ante o tempo em que viveu. Mas enquanto viveu, sobreviveu: ombros arreados, sorrisos escassos e preguiça constante. Não viveu nem mais um instante. Morto por não chegar. Por não chegar a lugar nenhum, por nunca conquistar. Recebeu o prêmio de sua condição de classe: condicionado a resistir por prazer; a desistir por dever. Virou mais um. Entre tantos iguais. Mas a viúva, enfim, recebeu o prêmio do seguro de vida dele, o que garantiu mais um mês de fartura: uma cesta de alimentos, bisnagas todos os dias, dois palmos de fumo de rolo, uma garrafa de cachaça, um crédito de mil reais para empréstimo pessoal pré-aprovado e um vidro de veneno para rato.

01/07/2011

Interrogações

Quem vai fazer a sociologia dos humilhados?
Quem vai explicar as trajetórias desastrosas?
Quem entenderá como tudo aconteceu?
Por que?
Que variáveis podem explicar a exclusão e o fim da vida?