27/07/2010

Inspirações

Não se pode viver sem inspirações.
Às vezes músicas,
Outras musas
Ou alucinações.
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Podem também ser filmes, pessoas, lembranças ou imaginações.

26/07/2010

Retrospectiva

Olho pra trás e entendo os equívocos,
Mas não me conformo com os acertos.
E tento corrigir os erros
E esquecer os acertos.
Os acertos que me acertaram em cheio,
Que me levaram ao chão,
Que marcaram a minha vida.

Olho pra trás e não vejo ninguém:
Não há pessoas,
Não há amores,
Não há intrigas,
Nem seduções.
Mas está tudo aqui comigo,
Tudo ao meu abrigo.

Olho pra trás e exercito minha memória.
Lembro de cada situação,
Lembro de cada complicação,
De cada rosto,
Cada expressão.
Mas não lembro de nada
Que não me cause alguma emoção.

Olho pra trás e vejo o fim.
A distância temporal cumpre um curso natural:
Faz amadurecer,
Faz apodrecer
E morrer sentimentos.
Se há um proveito a tirar dessa distância,
É matar a amargura que seca;
Que mata.
E não para por aí.
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Hoje não tenho ressentimentos, mas também não tenho ilusões. E sigo ligando os pontos, dando sentido aos rastros. E você pode me ajudar.

23/07/2010

Captura sociológica


Se eu não ensino Direito, o problema não é meu, mas do processo de socialização. Por um lado, talvez eu não tenha tido boas experiências com quem achava que era bom, quem achava que ensinava Direito. Aliás, o presunçoso está a um passo da tragédia. E aquilo que era pra ser Direito, fica torto. De outro lado, minha experiência com a sociologia na faculdade foi sempre muito libertária. Naquele meu momento histórico era tudo que eu queria, era o que eu precisava. E o que era pra ser um coadjuvante, passou a principal. Fui capturado por essa sociologia que não me deixa parar de pensar. Vivo nela. E vivo dela.
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Obs: Tive dois professores de sociologia já no primeiro ano da faculdade de direito que foram fundamentais para minha opção pela carreira sociológica: Ricardo Falbo, que lecionava Introdução ao Estudo do Direito; e Amélia Rosa de Sá Barretto, que lecionava Sociologia e, posteriormente, foi minha orientadora de monografia na graduação. Ainda tive outros encontros com a sociologia na graduação, em palestras, encontros, debates e como monitor de sociologia do direito. Aí não tive como escapar, fui capturado mesmo.

22/07/2010

Xenofobia

De tanto ser estrangeiro em terras estranhas,
Não consigo nutrir rivalidades por outros povos.
Nem no futebol.
Eu os vejo mais próximos do que minha própria gente.

Mas já sofri na pele esse ódio local.
E tive dificuldades para ser aceito como igual.
Precisei provar meu valor,
Sem descaracterizar o que sou.
Não sei se consegui,
Pois a xenofobia é intolerante
Até com a meritocracia.

O refúgio do estrangeiro acaba sendo um outro estrangeiro.
E assim se constituem os núcleos de resistência,
De lado a lado.
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Obs: Tudo seria mais fácil, se houvesse receptividade.

19/07/2010

O intelectual e sua condição econômica

Tenho tantas idéias na cabeça
E nenhum dinheiro no bolso.
E não tenho idéia de como conseguí-lo.
Não sei se as idéias vão sair de lá.
Sinceramente, se eu tivesse o dinheiro,
Não sei se teria as idéias
Ou se as pretenderia ter.
Tão forte quanto o coração de um atleta,
Bate as idéias na cabeça de quem não pode executá-las.
(E isso é angustiante).
Ainda bem que os ricos não tem tempo pra pensar...
De onde tirariam tempo para ganhar dinheiro se precisassem também refletir na vida?
Por isso estamos sempre na dependência econômica deles.
E eles precisam de nós pra mitigar o sofrimento de suas almas solitárias.
(Porque viver para ganhar dinheiro é isolar-se dos outros).
Mesmo que eu não queira,
Mesmo que eu não goste,
O governo do mundo está nas mãos dos capitalistas.

[Pausa para pensar e para criar a expectativa pelo que virá depois]

Mas a minha vida quem governa sou eu:
Garçom, pendura mais essa!
Gente, é a saideira, mas vamos continuar a conversa enquanto caminhamos.
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Imagem: Jorge Castillo, Funámbulo/Tightrope Walker (Chinese ink and watercolor on paper, 50 x 35 cm, 1966)
Ah, antes que me esqueça, o artista também é um intelectual. Se bem que tem uns e outros aí...

18/07/2010

Equilibrando a vida

Pensei comigo mesmo: como faço para equilibrar as finanças sem desequilibrar/comprometer a existência?
Uma das respostas a que cheguei é que a vida (quando vivida) vale mais que qualquer organização financeira (que não dá vida, pelo contrário, tira o sono, os cabelos, a alegria, o apetite, o tempo, o humor, o dinheiro...).
Quer dizer, o melhor a fazer às vezes é jogar tudo para o alto e re-la-xar um pouco. Afinal, perder dinheiro para se permitir viver não é tão ruim quanto perder a vida tentando encontrar dinheiro.

17/07/2010

Lembranças

Encho a mala
E esqueço o que tem dentro.
Ali não cabe lembranças.

Quando chego vejo o quanto faltou
E o que sobrou.
Mas não há lembranças.

Guardo a mala vazia
E penso em um dia voltar.
Agora cheio de lembranças.

Se não houver mais o que colocar na mala,
Ou se não houver mais mala,
Levo só as lembranças.

13/07/2010

Interrogações sobre consumo e política

Vamos às ruas?
Quem sabe?
Vamos às compras?
Quem pode?
Até onde a política impede o consumo?
O consumo estimula a política?
Há verdade na política?
E no consumo?
Quanto dura a satisfação do consumo?
Até que ponto a política transforma?
E essa constatação da insuficiência de ambos deve nos levar à apatia e ao consumismo?
Vamos receber as bombas caindo em nossas cabeças de braços dados com os ícones do consumo?
Isso é política?
Podemos protestar para consumir mais?
Podemos consumir política?
Nada refreia o consumo?
Nada torna a política mais atraente?
O mundo global é um mundo sem ética?
E a sociedade de consumo também?

10/07/2010

Vida social

Não consigo dormir sem escrever pra você. Mas quando termino percebo que não passou de pretexto, que escrevi pra mim, que também fui egoísta, que usei o texto como terapia. E sabe o que é pior? É que o texto escrito cai com uma luva pra você. Nem preciso dizer o quanto comemoro essa nossa identificação. Porque só demonstra que estamos mais próximos do que imaginamos. Afinal, o que se passa aqui, também aí. Isso que eu chamo de vida social.

09/07/2010

Coisas da vida

Subi ao alto de um prédio e vi ao longe as iluminações da cidade. E lá de cima tive uma luz, descobri a verdade sobre a indiferença e a desigualdade social. A indiferença é um modo de suportarmos as dores insuportáveis. A gente não vê (nem sente) a desigualdade social porque se acostuma a viver sobre os outros. E a gente só se acostuma a pisar sobre as cabeças alheias porque não olha pra baixo.
Repararam que quando o avião decola os comissários de bordo começam o servir o lanche (mesmo que a qualidade desse lanche venha caindo)? O lanche servido ajuda a acalmar o passageiro quanto à altura da aeronave. Já pensou se o avião fosse construído com um material transparente como o vidro? Ia ser difícil relaxar durante a viagem, o que, provavelmente, produziria mais problemas para as empresas aéreas: crises de choro, incontinência urinária, desmaio, taquicardia, vômitos, gritaria, aumento do consumo de calmantes... Seria como um terror. Mas o lanche, o confinamento e a técnica (demonstrada pelos comissários) aumentam a sensação de segurança. Mas não deixe de ler os cartões de segurança que se encontram no bolsão à frente de sua poltrona.
Olhar pra frente é mais confortável que olhar pra baixo. Experimenta chegar na sacada de um apartamento localizado num prédio bem alto, colocar a cabeça pra fora e olhar pra baixo. Alguns até se sentem misteriosamente magnetizados ao solo. Vivemos lá no alto, tranquilamente, porque só olhamos pra frente, porque vivemos dentro de casa, com as nossas coisas. Mas olhar pra baixo é uma lástima, nos dá arrepios e vertigens.
Aí está a verdade: suporto a desigualdade porque adoto um modo de vida que me torna indiferente a essa desigualdade. E isso é razoavelmente simples, é só olhar pra frente e curtir as coisas da vida. Consigo encarar a hierarquia social ao longe, mas não suporto me enxergar nela. Isso também é alienação.
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Obs: Depois que escrevi o texto, busquei uma imagem que pudesse ilustrá-lo e encontrei essa preciosa charge do Angeli.
Tudo perfeito. Tudo bem. Sem pesadelos pra ninguém.

08/07/2010

Leite de pedra


Quero virar a noite escrevendo sem pensar,
De olhos fechados e coração aberto, sem parar.
Quero estudar a cultura de um outro longínquo,
Que de tão distante se torna próximo,
Igual a você e a mim.
Quero ouvir as músicas que gosto até cochilar
Pensando em você.
Quero atravessar o mundo atrás de uma peça descartada
Que me faça pensar nos limites.
Quero uma arte feita a todas as mãos,
Mas sem uma razão que explique a formação e a formatação.
E pensar que tudo isso é nada diante do possível.
Você é impossível!?!
Você pode tudo pra mim,
Embora nem tudo se possa realizar.

02/07/2010

Muito por aprender


Fico pensando sobre como é difícil levar para o âmbito profissional nossas competências pessoais. E o inverso também é complicado: às vezes a gente é profissionalmente muito capaz, mas nossos relacionamentos são um desastre. Há muito o que aprender, pessoal e profissionalmente, mas a arrogância, o sentimento de auto-suficiência, atrapalha essa aprendizagem e faz escoar pelo ralo nossas chances.
Se fosse possível escolher, preferiria ser habilidoso no trato com as pessoas. Mas sei que a atividade profissional por vezes impõe um distanciamento social, que a profissão sacrifica os relacionamentos. É preciso uma auto-crítica apurada pra não perder a linha, pra não se deixar levar pra longe dos outros. Senão, a queda é enorme e fatal.
Eu sempre preferi os humanos; valorizei, sem idolatrar, os cabelos brancos; gostei mais de tocar que de falar; admirei quem abre mão de seu poder; elogiei o cuidado com o outro; estimulei os ouvidos (e olhos) atentos; prestei atenção nos últimos; cumprimentei os excluídos... E quer saber, apesar de minha predileção pela fraqueza e humildade, continuo errando muito, continuo distante dos meus ideais e de algumas pessoas das quais gostaria de ser mais próximo.
E fico imaginando a dor de quem sequer se esforça pra ser agradável: sem respeitar o tempo (o nosso e o dos outros) não atentamos para o vencimento do prazo de validade.

01/07/2010

Sobre o hábito de escrever

Viver é inspirador, é matéria-prima da poesia. Não consigo experimentar sem pensar sobre, sem escrever algo. Escrevo todo dia porque vivo todo dia, experimento todo dia, e isso me faz respirar. Por aí você já imagina o volume de coisas que guardo. Fica tudo aqui, escrito em mim. Às vezes jogado num canto, às vezes bem arquivado. Mas raramente passo a limpo o que escrevo, pra manter a expontaneidade e o improviso. E não publico tudo o que escrevo, só o que me faz pensar. E o que me faz pensar vai além de mim, é o que não consigo controlar, a interrogação. A seleção para publicação é feita em cada momento, e repeito cada um desses tempos. E rio, depois, de cada um deles. E me alegro de todos eles. Apesar de tanto escrever há pouquíssimos papéis aqui, porque sempre escrevo primeiro na cabeça, fico pensando no texto o dia inteiro. (E às vezes dias e semanas). O tamanho do texto sempre varia, como os temas, para nossa alegria (ou infelicidade). Mas escrever é todo dia. É um hábito que se cria. No meu caso, vem das cartas, de conviver com quem as escrevia e de escreve-las também. Desde muito cedo. Numa época em que correio ainda existia. Acho que ainda continuo escrevendo cartas, só que agora abertas. Mas mantenho o tom intimista, particularista. Se há um segredo na escrita é que a fonte de inspiração é a vida, sempre vivida intensamente no cotidiano. Agora vou parar, pois preciso viver esse dia.