31/10/2011

Marcha avante

Direita!
Esquerda!
Direita!
Esquerda!
Direita!
Esquerda!
Direita!
Esquerda!
Direita!
Esquerda!
Direita!
Esquerda!
Direito
À esquerda!
Direito
À esquerda!
Direito
À esquerda!
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Quem sabe se transformássemos essa poesia num mantra não conseguissemos levar o Direito a uma tomada de posição política menos conservadora? Vamos fazer direito com arte?!

30/10/2011

Tiro!

Tiro no peito
E na raça,
Condenada
Por lutar.
Sem poder,
Sem parar.
Quando se tem o controle...
Perde-se a vida.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
A obssessão pelo controle da vida do(s) outro(s) faz a gente esquecer de viver, faz a gente se matar! Às vezes perder o controle pode ser um bom começo de vida! Ela comprou uma cama que mal cabia no quarto em que dormia. Ela caiu numa cama de casal, sem saber que seu companheiro nunca fora seu. Ela daria sua vida só a quem quisesse dividir com ela o tempo de quitação de um carnê das Casas Bahia.

29/10/2011

Boatos

Beatas gostam de boatos.
Beatos, de boates.
Os demais não estão nem aí.
Nem eu.

28/10/2011

Poesia sobre fotografia

Quero um vaso de plantas em cada degrau
E uma banheira no final
Cheia de mim e você
Até o anoitecer.
E duas rosas são bastantes
Pra representar dois amantes.
Nenhum gradil vai nos prender
E nem os cães vão nos interromper.
E gritaremos juntos à liberdade em Beirute!
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Poesia sobre a fotografia de Reto Guntli da casa da designer Maria Ousseimi localizada a leste de Beirute, Líbano. A foto foi publicada na revista Wish Casa desse mês e imediatamente ganhou esses rabiscos poéticos.

27/10/2011

Atropelado

Você perdeu o que nunca teve:
Vergonha
Você perdeu o que nunca teve:
Juízo!

E nós perdemos só mais um.
Quer dizer, ganhamos mais um número
Na estatística das mortes de ciclistas
No trânsito dos astros dos asfaltos.
______________________
Poesia feita a partir de uma notícia de jornal em que o morto é o "culpado". O ciclista no Brasil é (será sempre?) culpado por seu próprio atropelamento: ele é culpado de querer viver sem poder num espaço que não foi feito pra ele. Passa um motorista, vê a cena ensanguentada e ainda comenta: "Esse idiota me faz o favor de andar de bicicleta onde não pode e ainda me fode!" Faz o sinal da cruz e dá graças à carcaça de ferro que o protege. E segue em paz. Tanto faz.
A notícia completa está no seguinte link: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/10/a_gazeta/minuto_a_minuto/1006563-ciclista-morre-atropelado-por-onibus-em-vitoria.html

25/10/2011

O inominável

Nem tudo que se escreve se tem,
Nem tudo se pode nominar.
Há palavras que não são coisas;
E há coisas que não tem nome, nem forma.
E se você não sabe definir tudo que há,
Não é porque não existe,
Nem por ser ignorante,
Mas porque nos faltam palavras
Para expressar a novidade
À descoberta.
Nessas horas se pode ser deus,
Nessas horas se deve sentir
E provar a falibilidade de Deus:
Ele também é humano
(E desconhecido),
Como você e eu:
Inominável!

24/10/2011

Moral é prisão

Não tenho moral,
Mas ela também não me tem!
Padeço do que careço.
E nem sei,
Nem sei dizer o que.
Sou um tiro atravessado no seu peito mais lindo,
Que leva pra dentro as impurezas do mundo que a cerca,
Aprisiona
Numa cama.
Sem mim.

23/10/2011

Casamento

Amor cercado,
Cerceado,
Controlado,
Monopolizado,
Casado.
Casamento:
Casa de cimento
Que prende o amor.
Pra dentro (ou pra fora),
É sempre a mesma história!

22/10/2011

Amoral da história

Alguém me perguntou por que critico tanto a moral?
Respondi sem penar,
Sem pensar:
Critico o que?
Deve haver um erro,
Só critico o que reconheço!
Mas me querem fora da lei.

21/10/2011

Balança!

Vem balançando seu balanço
Balanceiro por inteiro:
Metade pra lá,
Metade pra cá.

Quebra as cadeiras na minha cara
E também vou balançar.
E se eu cair pra trás
Não vou deixá-la em paz:
Metida pra lá,
Metida pra cá.

20/10/2011

Suruba!

A roda está feita.
Agora é um de cada vez.
Começa quem tiver mais.
E os demais vão atrás.
Quem não tiver condição,
Fica na mão.
Passa!
Na próxima eu acerto!
Ganha quem ficar na dupla
E gritar suruba!

19/10/2011

Ferro quente

Já vi garotos a fim,
Mas nunca garotas assim.
E quando penso no futuro,
Já era!
A velocidade da produção
Inibe a compreensão
E gera confusão,
Dúvidas,
Temores...
E prantos.
E eu que não sou lenço,
Nem me pertenço,
Não posso ajudar você.
Para esclarecer o que passou,
Só passando.
À ferro quente.

18/10/2011

Verdades pra que(m)?

A caçadora de verdades
Busca uma mentira só,
Pra se justificar
E apontar.
Eu que não busco firmeza,
Balanço em cada passada
E apronto para o fim ideal:
Só dou meu melhor.
E quem não sabe,
Não come.
Mas também não some.
E não consome.
A ignorância é uma virtude!
E isso é uma verdade.
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Imagem clássica da repressão durante a ditadura militar argentina. Os intelectuais também foram tratados com muita violência pelo estado autoritário.

17/10/2011

Certo como o incerto

Ela está no lugar certo,
Incerto.
Ela só tem certeza
De sua beleza;
E ele, de sua safadeza.
E nada mais,
Nada demais.
Ela está certa,
Está inserta
Na sua vida incerta.

16/10/2011

Proteção

Protegido pela rotina me exponho à frieza do inverno: enrijeço meus dedos, afio minha língua e embaralho minhas passadas. E não vou a lugar nenhum sem você. Mas também não deixo pegadas para trás.

15/10/2011

Tentação

Quero delicadezas,
Cruezas,
Safadezas
E outras naturezas.
Quero faunas
E floras estranhas,
Entranhas.
Canso de me olhar no espelho e não me ver.
Quero ver você.
Mas nem tudo quero ver,
Nem tudo quero ser.

Não busco uma verdade.
Uma só não me satisfaz,
Quero sempre mais.
E você, que é crente,
Só sabe olhar pra frente.
Mas não vê nada depois do fim,
E não crê em nada além de mim.
Esse seu erro custa caro
Porque me faz raro:
Paciente,
Inteligente e...
Safado!
Como o diabo gosta
E você quer!
E nem adianta rezar.

14/10/2011

Segredo

Poderia amar você em segredo,
Em silêncio.
Mas não cabe em mim,
Não cabe a mim.
E você não quer.

13/10/2011

Artigo científico

Não sou nenhuma referência,
Mas sou mais que uma citação.
Não tenho limites,
Nem dou palpites.
Posso não ser entendido,
Mas sou lido.
Não sou,
Mas me jogam confete.
Tenho muitas marcas
De canetas fracas.
E como tudo passa,
Logo caio no esquecimento.
Sou um artigo científico,
Resultado de muitas pesquisas
E experimentações.
E cada um que tire suas lições.

12/10/2011

Mariposas não são borboletas

Sobrevoam-me essas mariposas cegas
A procura de uma luz
Que não sou.
Nem quero.
.................................
http://ciencia.hsw.uol.com.br/mariposa-ou-borboleta.htm
http://ciencia.hsw.uol.com.br/questao675.htm

11/10/2011

Caranguejo eremita

Caranguejo eremita vai aonde pode.
Vai lentamente,
Obstinadamente.
Seguindo o fluxo das marés,
Em meio ao revés.

Caranguejo eremita não come marmita,
Só comida fresca.
E não adianta disfarçar,
Ele só come o que puder carregar.

09/10/2011

Cortejar

Quero dar em cima de você.
E nem quero ver
O que vai acontecer
Depois.

08/10/2011

Guilhotina

Ninguém quer o que não sabe.
Ninguém sabe o que não quer.
Sabe querer sem saber o que.
Quer saber o que quer saber.
Quer saber o que quer.
Quer saber o que?
Quer saber...
Quer?
Q!

07/10/2011

Incomodados que se mudem

Ninguém é obrigado a gostar de ninguém
E nem a tratar bem.
Qualquer um tem direito de não gostar de mim
E de falar mal de mim,
Até pra mim.
Quem fala mal da própria mãe não pode exigir respeito.
Mas quando percebo que minha presença incomoda
Ou quando seu incômodo comigo me incomoda...
É hora de ir embora!
Tchau!

06/10/2011

Rituais

Ela sobe em cima
E ele perde a cabeça.
Ela dá de ombros
E ele vai atrás.
Ela dá as costas
E ele aproveita,
Goza uma vida inteira,
De muitas maneiras.

05/10/2011

O mundo não está em nossas mãos, mas em nossas cabeças e sob nossos pés

Não quero o mundo,
Nunca quis,
Nem ele a mim.
E somos todos felizes
Assim,
Se soubermos viver
Sós.
Quero você
Como você
É,
Difícil de encontrar
Por aí.
Vou andar pra frente,
E nem sei onde isso é,
E nem sei onde vai dar,
Se vou parar...
Quem sabe?
Vou pisar o mundo,
Correr o mundo,
Sem buscar nada além.
Só viver.

04/10/2011

Feitos

Por acaso posso viver
Sem efeitos?
Por um caso posso morrer
Com defeitos?
Sem causa e sob efeitos
Você me deixa?
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Stencil do rosto do guitarrista e vocalista do The Clash Joe Strummer (21/08/1952-22/12/2002)

03/10/2011

Sinal verde

Vomita o mal que te assola.
Quem te consola?
Faz rodar o mundo nas suas mãos
E embrulha seu estômago com meu papel social
(Anti-social):
Casado,
Mimado,
Pai,
Ai!
Vê tudo ficar verde da cor da tua biles
E projeta sobre os outros todos que estão por aí,
Mas não sobre mim.
Porque não quero partir o queijo ao meio,
Quero comer inteiro,
Saboreando cada buraquinho que há.
Bem devagar,
Que é minha característica mais presente
Em você tão ausente:
Seu carrossel cheio de cavalos alados gira na velocidade do tempo,
Do seu tempo,
Que não é meu
Nem presente
Quero saber
Perder você.
Agora senta ao lado do vômito e vela
Os pedaços de mim,
Espalhados por aí.
E abre uma cerveja apoiada na bancada
De cabeça baixa.
Respira fundo,
Sorvendo toda acidez aromática da tua biles,
Apertando os olhos e franzindo a testa pra aguentar de pé
O cheiro do que não pode digerir
E teve que expelir.
Saboreia a cerveja deitar no estômago corroído.
E continuo ofendido,
Acreditando que o fim pode ser o início de um novo tempo,
Que não é meu,
Nem seu.
E esse foi seu mal:
Querer domar o que não se pode nada além de respeitar,
Aquietar
E aguentar.
Mas antes de ir,
Não deixe de lavar esse vômito esparramado e secar a pimenteira alheia.
Talvez precisemos de um mau olhado forte que coloque pimenta em nossos olhos
E nos refresque a memória:
Viemos do caos e voltamos pra lá,
De onde nunca devíamos ter saído.
Vou continuar caído.
Até você me limpar,
Até você me tirar
De dentro de si.

02/10/2011

Maquinação

Não sou nenhuma máquina
E você fica maquinando,
Fica me maqueando
E acreditando no que vê.
..............................................
Imagem: Pintura de Jenny Saville.

01/10/2011

Seu problema não é seu

Seu problema não é seu.
Esse mal é social,
Fruto de uma vida acelerada
Em que se perde o que não se poderia
E o que se poderia, não;
Perde-se o que sobra
E quer-se o que falta.
Essa velocidade
É responsável por tanta infelicidade,
Ansiedade:
Querer sem medida
O que o outro não tem na vida,
Paz!