31/01/2007

É o fim!


Fim do mês é aquele aperto econômico para o brasileiro. Mas também é tempo de renovar as esperanças, afinal o novo mês está às portas e, com ele, uma nova remuneração mensal, um novo planejamento orçamentário, uma nova possibilidade de gastos... Êpa, mas espera aí! De que tipo de brasileiro estou falando? Ah, estou falando dos brasileiros empregados regularmente no mercado de trabalho formal. Estes são cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros. Quer dizer que os outros 70% não são trabalhadores do mercado formal, divididos entre trabalhadores informais, autônomos, desempregados e pessoas consideradas fora da população economicamente ativa (PEA), como as crianças.
Se fizermos um cálculo otimista podemos dizer que temos um PEA de 60% da população brasileira. Se destes 60% descontarmos os 30% que estão no mercado de trabalho formal, podemos chegar à conclusão de que outros 30% dos brasileiros não podem contar com uma remuneração certa todo início do mês. Atenção que não estou falando de pobreza ainda, estou falando da PEA fora do mercado de trabalho formal. Quero dizer, entre a PEA, há pessoas que recebem menos de R$ 80,00 por mês e há pessoas que não sabem quanto vão ganhar no mês seguinte mas que ganham muito bem, como alguns autônomos.
Se formos falar de pobreza, que inclui parte da PEA, a estimativa da Fundação Getúlio Vargas é de que temos entre 25 e 30% de pobres na sociedade brasileira, algo em torno de 45 milhões de brasileiros. Isto significa que 45 milhões de brasileiros não renovam suas esperanças ao fim de cada mês. Vivem os dias como se fossem os mesmos. Podemos pensar, meu Deus, isso é loucura! É muita gente! Sim, é muita gente com pouca (ou sem) esperança. Então, dá para entender porque talvez não tenhamos conseguido resolver o problema da violência em nosso país?
Esta reflexão é pertinente, num ano em que pretendemos fazer algumas reformas: sindical, do Judiciário, política etc.

30/01/2007

Crianças Invisíveis


Ontem assisti a um filme muito bom e que nos desperta para o problema das crianças no mundo todo: a invisibilidade das crianças e de suas necessidades num mundo construído pelos adultos e para os adultos. O filme "Crianças invisíveis" é uma coletânea de curtas sobre a temática infantil. Destaque para os curtas dirigidos por John Woo, Spike Lee e Katia Lund, nesta ordem.
O filme do chinês Woo é o último, mas é mesmo o melhor de todos, trabalhando a desigualdade social na China, mostra duas garotinhas com destinos aparentemente tão distintos, uma é pobre e ao outra é rica, mas com necessidades tão idênticas: afeto, cuidado, proteção, amor. O filme é de chorar.
O filme do americano Lee aborda o problema das crianças portadoras do HIV nos Estados Unidos. Estas são mesmo crianças invisíveis. Quando pensamos nos problemas das crianças, lembramos logo de violência, pobreza, fome, exploração sexual e trabalho escravo. Mas esquecemos completamente dos doentes. As crianças portadoras do vírus HIV sofrem discriminações e perseguições das outras crianças e dos adultos. Muitas delas nem sabe o que é AIDS, mas seus coleguinhas gritam o tempo todo que elas são "aidéticas", que vão morrer etc. Como toda criança faz, elas perguntam inocentemente: o que é AIDS? Eu vou morrer, mamãe? O que responder? Elas saberão o que é a discrimimnação ou a morte antes mesmo de saber o que é AIDS. Tocante!
O filme da brasileira Lund, é sobre crianças catadoras de papéis e outros recicláveis na cidade de São Paulo. Esta realidade a gente conhece bem, mas isso não quer dizer que essas crianças sejam menos invisíveis para nós. A última cena do filme é emblemática do problema da desigualdade social que afeta as nossas crianças, que são trabalhadoras (embora não devessem ser): os prédios suntuosos de Sampa surgem, numa abertura de câmera, ao lado de uma favela e impondo-se sobre ela. Triste sentir a sensação de "a vida continua" na tomada final. As decisões das grandes empresas, com milhões de dólares envolvidos, são tomadas ao lado das favelas e das crianças invisíveis das grandes cidades brasileiras, que lutam para conquistar míseros reais.
Vale a pena assistir.

26/01/2007

Livre para escolher?!


Em minha última postagem falei dos constrangimentos da vida. Um colega me telefonou e disse que eu estava defendendo um híbrido entre a escolha racional e o determinismo social e que, portanto, eu estava em cima do muro. Pode ser mesmo. Penso que as duas coisas acontecem mesmo todos os dias em nossas vidas. Ora com maior ênfase e possibilidade pra um (a escolha do indivíduo), ora para outro (os constrangimentos da vida). Mas ele me falou outra coisa que concordo e que não posso deixar de salientar: "mesmo que sejamos constrangidos por alguma situação da vida, no final das contas podemos escolher o que fazer com este constrangimento". Realmente, embora sejamos levados às vezes a experiementar coisas que nem desejamos, podemos escolher o que fazer com essas experiências. De novo, não sem sofrimento ou angústia. Ele quis elegantemente me tirar do muro e me levar para o lado da liberdade de escolha e eu aceito. Na verdade não estava inteiramente no muro, talvez tenha dado apenas mais ênfase às determinações da vida por uma questão momentânea. Não sei se ficou claro, mas o que quero dizer é que escolhemos o peso que as determinações da vida terão em nosso viver. Uma experiência ruim (ou boa) do passado não pode nos aprisionar a ponto de reproduzirmos sempre uma mesma visão de mundo. Somos livres para resolver um trauma ou transformar nossa visão de mundo sobre algum aspecto da vida. Acho que viver é mesmo resolver problemas. E que é mais feliz aquele que mais consegue resolver problemas, afastar de si o mal.
Bom, a vida continua, com ou sem estas divagações, apesar da reflexão. E continua conduzida por pessoas de carne e osso, sujeito a crises, paixões, angústias... O que não podemos é deixar de interferir nos rumos da vida. O "deixa a vida me levar" não combina com quem quer viver uma vida responsável e autônoma.

24/01/2007

Há vida. Ah, vida!


O pensamento não pára. Mas o que faz a vida seguir ou a vida parar não é o pensamento. A vida continua, a despeito de qualquer pensamento, de qualquer reflexão ou alienação. Não chega a ser uma roda viva, como cantou Chico, mas há algo de determinístico no viver. Nem tudo é escolhido por mim, embora nos pareça interessante pensar assim. Pensar assim dá maior autonomia ao indivíduo, mas também o sobrecarrega mais. Afinal, se tudo é escolhido pelo indivíduo, ele será sempre responsável por seus problemas, por suas escolhas. Mas sabemos que nem sempre isso é verdade. Há coisas que não desejaria, mas que meu pensamento positivo (ou negativo) não tem poder para barrar. Por isso parece haver alguma coisa além da nossa capacidade de escolha. O que não significa dizer que não haja possibilidade de escolha individual. Há. Mas também há coisas que não escolhemos viver e vivemos, não há? Há.
Ah! O pior desse jogo de forças entre a nossa capacidade de escolha e as determinações da vida é que há um indivíduo no meio, você e eu, sofrendo, ansiando, gritando, calando... Mas se esta é a vida que somos chamados a viver e a suportar, que vivamos com esperança e responsabilidade, que suportemos com força e alegria. Esperando o bom resultado de nossas escolhas responsáveis; suportando firmemente as angústias da vida e transformando-as em gargalhadas em algum momento futuro. Porque as adversidades da vida não são maiores que a nossa capacidade de suportar. Pode acreditar em mim.

23/01/2007

Depois do começo

Renato Russo tem uma música em que ele diz: "e depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim". O dia seguinte de um lançamento é tão frustrante quanto à expectativa pelo lançamento. São aqueles minutos que sucedem à partida de um foguete. Momentos tensos, em que o foguete pode se desintegrar no ar, explodir, colocando fim a um trabalho longo e árduo. E aquele momento de decepção, aquele ahahhahahahahahahhahah!, toma conta da sala de controle da NASA. Lágrimas, abraços, comoção, tristeza... Acho que este é o momento em que estou. O foguete ainda não se desintegrou, mas a expectativa é imensa. Será que ele consegue alcançar sua órbita? Bom, para não dizer que eu não tenho nada a dizer, e por falar em foguetes, quero deixar registrado que nesta data, em 2003, foi recebido o último sinal da sonda Pioneer 10 antes de se perder no espaço. A sonda foi lançada ao espaço em 1972.

22/01/2007

Começando pelo começo

Começar é sempre difícil, gera ansiedade e até dor. Os braços parecem até ficar pesados e o corpo prostrado. Quando começo alguma coisa tenho sempre a sensação de que o que se está iniciando pode não ser relevante, de que talvez não possa dar conta... Essas coisas que servem para nos tirar do foco. Mas o desafio de seguir em frente, de produzir algo, acaba me motivando a enfrentar estes obstáculos e, no fim, as coisas dão certo. E você, o que acha do começo? Para um começo, este é o meu primeiro blog, até que consegui sair da inércia e expressar sentimentos que nem sempre são conscientes. Acho que a cada dia estarei mais acostumado com este novo papel, de publicador de coisas que ninguém lê e ninguém comenta.