31/03/2012

Anna

Anna,
Estou de cama!
Vem, me chama,
E me ama!
Sem vergonha!
Ah, Anna!...
Annaaaaaa!!

30/03/2012

Cantos

Cantos de tristeza,
Cantos de lamento,
De dor.
Com movimentos sinistros,
Que ninguém vê,
Na calada da noite,
Que é você.
Calada pela dor de sobreviver.
Sem saber porquê.
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Homenagem aos familiares dos mortos e desaparecidos políticos durante as ditaduras latino-americanas.

29/03/2012

Arquivo morto

Arquivos são corpos mortos,
Cheios de pó
E palavras perdidas.
São verdades forjadas,
Mentiras guardadas,
A sete chaves,
A sete palmos,
Que fazem sofrer.
Ou viver (de saudades).
Arquivos abertos fazem matar as saudades.
Reviver as memórias,
As vontades...
Arquivos abertos não matam ninguém,
Mas conduzem a todas as etapas do "luto!"
Até o fim.
...............................................................................
Pela abertura imediata dos arquivos da ditadura!
Mesma que na marra,
Mas sem amarra!
Queremos contar nossa verdade!

28/03/2012

Arteira!

Arteira.
Artéria pulsante,
Sangrante,
Fazendo correr a vida
No sangue quente da paixão...
Equilibrada,
Como uma balança,
Que marca só quando quer;
Só quando pode.
Aferida em si,
Desequilibrada por mim
Sem ninguém saber
O que se deu:
Só você e eu.
Arteira na arte de enganar olhares,
De encarnar vontades
E desencanar dos medos.
Vestida pra matar,
Sem nenhum vestígio,
Entre quatro paredes,
Dois desejos
E muitas loucuras.
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Imagem: Foto da artista milanesa Betinna Werner, "a rainha do sal".

27/03/2012

Bebida bebida

Toma! Beba essa bebida. Saboreia o sabor adocicado e sem odor. Continua bebendo, sem babar. Até o fim. Agora respira. Abra os olhos e veja o que se passa ao seu redor. Veja tudo rodar. E sente sua musculatura retesar, até você cair, ajoelhado, deitado (de cara no chão). O corpo já perdeu sua razão. Mas a razão ainda não. E vai torturar você até apagar. Ouve (é o que lhe resta), adeus!

26/03/2012

Degelo pingante do meu amor pingente

Há uma frieza no meu olhar
Que paralisa meu coração,
Congela minha razão
E me enche de desamor.
Uma distância criada,
Cultivada.
Pra me esconder de você
E me matar aos poucos.
Pra você sentir pingar a dor do degelo:
Plim,
Plim,
Plim,
Plim,
Plim,
Plim,
Plim,
Plim,
Fim.

25/03/2012

Marcas do tempo

As marcas que o tempo deixa
E as marcas que o tempo apaga,
Não marcam o tempo que gastamos juntos,
Na alegria que nos torna sem tempo para o mundo.
Esse tempo não passa
De nosso, bem.
Para nosso bem.
Não se afasta de mim!

24/03/2012

Passo a vida

Passo a vida toda
Passando necessidade,
Buscando coragem
Pra realizar minha vontade.
E nem sei se vou.

23/03/2012

Uniformes

Ah, que medo dos uniformes!...
Dos mesmos iguais.
Como uma massa batida,
Uma massa coesa,
Que esconde cada ingrediente
E não deixa nada diferir.
E usa armas de ferir:
Capacetes,
Cacetes
E banquetes,
Regados a sangue
Espargido sobre as cabeças
De todos os lados opostos,
Distintos.

22/03/2012

Esconderijo

Quero me esconder no trabalho.
Do trabalho que você me dá.
Quero fugir pras montanhas.
Pras montanhas de livros e afazeres.
E esquecer os prazeres,
Ais,
Bens,
Choros
E dores...
Trocados pelo sol na minha cara pelada,
Lavada e encerada,
Sem agendas,
Nem oferendas,
Nem relógios
Ou imbróglios.
Ah, o cheiriinho do café matinal
Servido no quintal,
Sem avental,
Nem moral!
Sem nada que nos separe de nós,
Com tudo que reforce esses laços.
Mesmo que por um dia,
Cheio de alegria.
Até transbordar a moringa que mata nossa sede
Deitados numa rede.
Essa rede em que me pega,
Até de madrugada,
E me faz peixe fora d'água.
E me deixa fora do ar.
Até o ar acabar,
Até o grito do peito aberto sair
E sorrir.
Mesmo sem querer.
E dormir
Até o encanto acabar.

21/03/2012

Galinha pelada

Atravessa essa linha (que nos cinde) e vira galinha,
Até dourar.
Pinga sua gordura em mim
E chupo seu pescoço,
Mordo até o osso!
Você me dá asas
E eu, pra você, brasas,
Que queimam sem marcar a carne.
Viro você de lado
Como franguinho assado.
E nada se tem passado
Que seja perdido.
Tudo é comestível.
Até você e eu.

20/03/2012

Ligue os pontos

Se faltarem pontos,
Não vou ligar.
Aumento um ponto
E viram contos.
Conto os pontos (que levou)
E os contos
Ditos
E feitos.

19/03/2012

Quando a morte chegar

Quando a morte é lenta
A gente não lamenta:
A tormenta a deixou em paz!
Mas quando tudo acontece num piscar,
A saudade fica
E o coração diz "pára!"
Um dia ele para.
E alguém vai gritar.

18/03/2012

Pudores dos mais despudorados

Sinto-me ultrajado,
Com sua vontade,
Tão à vontade,
De mim.
É como se pau tivesse
Vida própria
E agenda livre!
Você vai me pagar!
Vou te pegar,
Você não perde por esperar!
9878-9091/9279-0980/9543-3328/9965-4311/9297-0190
Mesmo os sábados precisam das sextas pra reconhecer seu valor. Dezembro de janeiro. E o domingo da segunda. Respeito é defeito (necessário). Vamos corrigir nossos erros com mais respeito! Com todo mal que se puder realizar para o bem do outro.

17/03/2012

Imprecação final

Você nunca irá perdoar
O bem que realizei?
Quem é você?
O que esperava de mim
Era o que me sufocava,
Era macabra.
Não tenho medo de você,
Nunca tive.
E pra bem dizer,
Nunca terei.
Seu choro não passa de uma mágoa manchada
De uma garota mimada,
Que quer brincar de casinha com a realidade alheia.
Alheia a toda expectativa do outro,
Transformado em objeto
E acusado de reificar,
Sem objetar.
Nunca fui o melhor pra você.
E talvez por isso tenha sido.
Nunca nos demos bem,
Só torto,
Escondido
E rápido.
E você quis sempre mais:
Quis mais tempo,
Quis mais qualidade,
Mais espaço,
Rapidez
E controle.
Quis tudo pra você.
E teve o que merecia:
Solidão.
Pra aprender a não dispor do que não é seu.
E nunca será.
Vai em paz,
Leva sua raiva de mim
E minhas penas.
Aprende a viver
Sem me querer.
Vive sem vida o seu luto.
E depois, vai à luta.
Não movo mais um músculo contra você.
Só a meu favor.
Faça-me o favor:
Esquece, meu amor!

16/03/2012

Cores, odores, ruídos e amores

Céu azul
E massa cinzenta.
Olhos verdes,
Moral bolorenta
E juízo rasgado
Pelo mal que trago.
Vamos apertar os olhos pra não ver o que devemos.
E gozar!

15/03/2012

Deitar e rolar sem seu amor encontrar na cama

Você deita na cama
Chegada da Lama,
Ainda arrumada
(E sem arrumar nada)
Pensando no seu bem
Deitado a seu lado,
Com uma cabeça para um lado
E a outra virada,
Buscando seu homem sem encontrar.
Assim não vai dar.
Mais uma vez
Dorme pra viver de sonhos.
E sem querer acordar.
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Foto de Carlo Mollino.
Ele se foi pra algum lugar distante
Pra descansar seu corpo,
Já que não consegue sua mente
Impenitente.

14/03/2012

Você não me obedece

Mandei você ir para o quarto;
Não lavar o prato!
Mandei você guardar a calcinha,
Não fazer uma boquinha!
Mandei você molhar as plantas,
Não rezar às santas!
Você não faz o que mando!
Por isso é tão feliz!
E me ensina sobre democracia
Ao me impor limites.

13/03/2012

Só viver com arte

Viver com arte
É o fim da vida!
A arte de só viver,
Sem parar.
Viver vendo
A vida passar,
Com todo prazer.
Viver a arte de ser
Mesmo você.
Pode só viver...

12/03/2012

Pra que poetar?...

Faço poesias
Pra encobrir estrias,
Marcas suaves deixadas na pele da alma pelas experiências mudas,
Aquelas sentidas e não resmungadas,
Como quem espera não alcançar a bóia,
Que me enche a barriga de pneu.
Faço poesias
Pra segurar enguias,
Cobras elétricas que descarregam suas cargas d'água em mim,
Buscando terra pra escoar tanta energia
E isolando em mim a vontade de você,
Sem re-ci-pro-ci-da-de.
E sai serpenteando por quem passa na sua vida
Como eu o pó em que arrasto minha face obscura de desejos.
Faço poesias pra esconder de você meu pensamento mais infante,
Pra esconder em você o que mostro nos meus beijos,
Pra revelar meu pensamento mais infame:
Querer e não poder dizer que só desejar não é viver.

11/03/2012

Criancice

Não tive irmãos.
E achava que essa era minha maior frustração.
Concentrei todo amor dos pais por seus filhos.
Tive o monopólio do cuidado.
Isso ainda afeta meu afeto.
Quando tive meus filhos,
Não soube dividir meu amor
E virei criança.
Não queria crescer,
Mas continuar a depender
Do que já estava condicionado,
Do amor exclusivamente destinado,
Destilado (como veneno de amor).
De repente, a confusão da criançada alvoroçada
Me pareceu tão perturbador como deveria ser,
Já na casa da minha avó os netos a correr.
Mas naquela época tudo parecia tão normal,
Tão natural...
Nunca antes havia me sentido um peso,
Apesar do meu peso.
Já do lado de cá, tudo é pesado,
Até a comida na balança.
Fico incomodado de não agir como fazia minha avó,
Que parecia não se importar com tanta algazarra,
Por me sentir ainda tão criança,
Ainda tão carente!
Criançada agitada,
Animada
E amada,
Mesmo com tantos dilemas em mim,
E com minha dificuldade de demonstrar amor,
Não troco esse caos atual por nenhuma outra ordem.
(Impaciência não é infelicidade!)
Precisava muito ser menos ordeiro (e pacato)
E mais feliz.
Precisava muito de vocês!
Nessa criancice encontrei minha alegria de viver,
Apesar de continuar a me assustar com o ruído inaudível do vento cortado por vocês três.

10/03/2012

Las Vegas

Las Vegas não tem regras.
Tem liberdades
E vontades.
Las Vegas não é longe,
É aqui,
Na esquina da vontade com a razão própria
(Onde se quiser).
Las Vegas é pra quem gosta,
Pra quem aposta
E põe o desejo à mostra.
Mesmo que de forma escondida.
Em Las Vegas ninguém veste mais do que precisa,
Só fantasia.
E vive a novidade nua.
Sem temores,
Sem pudores
Nem limites.

09/03/2012

Morro todo dia

Morro todo dia
Sem saber por onde,
Sem saber porquê.
Mato todo dia
A esperança que havia,
O amor que me tinha,
Sem expressar alegria
Nem dizer bom dia.
Sem dizer a Deus,
Nem dizer adeus.

08/03/2012

Loucuras passadas, presentes e fortunas

Às vezes a saudade é pura vontade.
Outras vezes, tortura e dor.
Quanto tempo será possível suportar o fim de nós,
Que nunca houve,
Que nunca se ouve nas batidas do coração?
Por que o passado idealizado,
O pretérito mais que perfeito,
Teima em não nos deixar em paz?
Amáramos!
Bem, vem sonhar comigo no presente
Vem enriquecer-me no presente que se me dá.
Quero já ser corpo inteiro da minha alma metade:
Metade verdade,
Metade sinceridade.
Mesmo sem futuro.
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Imagem: Polaroid de Carlo Mollino!

07/03/2012

Passarinho comendo piolhos em cima da cachola, embaixo da cartola

Nunca fomos nós,
Atados desde que nos vimos.
E, no entanto, precisamos de tantas ataduras
Para tantas fraturas...
Pouco estivemos sós,
E a multidão sempre me assustou.
Mas o que se passa em você,
É bem diferente em mim:
Você quer passarinho na gaiola.
E eu, fora.
Você o quer enjaulado pra poder cuidar,
Alimentar a dependência de você
E reforçar sua incapacidade de voar.
Já eu quero ver voar...
Sem se importar com o alpiste na cumbuca
Ou os piolhos nas cabeças.
Mãe Natureza tudo dá,
Problemas e soluções.
Mesmo a quem não merece.
E é aí que me fio,
Que me enfio no meu ninho.
E quem olha (me) acha estranho.
Mas não dou um pio.
E só canto no meu canto.

06/03/2012

Dedilhar você

Sofro ao ver e não tocar você,
Não sentir com os dedos
O seu corpo inteiro
Deitado no meu colo,
Com minhas mãos abraçando você.
Pra não deixar cair o que somos juntos,
O que realizamos um no outro.
Paixão desalmada,
Sentida com calma,
Inspirada pela tal
Poesia musical.
Eu me devoto a você,
Eu me curvo sobre você
Pra ouvir seus segredos de perto:
Somos confidentes.
E não há público que entenda nossa relação particularmente apaixonada.
E quando não posso explodir com você a paixão que me arde as entranhas
E aperta a garganta...
Sofro!

05/03/2012

Amor poético

Queria fazer poesia por amor.
Embora ache que todas são por amor.
Se não fosse por amor...
Não seriam.
Ninguém escreve se não ama
O que faz,
Quem faz
A caneta correr no corpo sinuoso e cheio de encanto,
Meu recanto
Cheio de prazer!
Amor
Terá
De mim
Até seu fim.

04/03/2012

Movimento estudantil

Uniformes diferentes,
Disformes.
Cabeças inquietas
E frágeis corpos fortes,
Agitando-se por motivo comum:
Resistir,
Num lugar incomum.

03/03/2012

Sobre ter peito e não ter coragem nem jeito

Você tem peito!
E me pega de jeito.
Você me carrega no peito.
Vou sem saber porquê,
Sem saber pra onde
Irei sempre com você.

02/03/2012

Sobre ter mais do que se pode querer

Imploro seu amor
E recebo mais:
Tenho você comigo
Inteiramente fantasiada
E fantasiando.
Vamos pular nosso carnaval
E ir direito pra semana santa,
Cheio de carnes brancas,
Cruas e nuas.
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Foto de Carlo Mollino.

01/03/2012

Ratoeira

Os ratos saem à noite para devorar as sobras,
Pra desarvorar as sombras.
Vejo da janela o movimento dos ratos nas ruas,
Nas suas
Sanhas.
Façanhas
De artes e manhas.
Artimanhas
Pra prender minha atenção
E intenção.
Meu mal é você
Saber
E não poder dizer
Que amo você.
Por uma questão de segundos
E terceiros
Entre nós:
Terreiros
E mosteiros
De lama e barros
Cheio de Joãos
Ninguém sabe
Quem sabe
Bem,
Adeus!