11/03/2012

Criancice

Não tive irmãos.
E achava que essa era minha maior frustração.
Concentrei todo amor dos pais por seus filhos.
Tive o monopólio do cuidado.
Isso ainda afeta meu afeto.
Quando tive meus filhos,
Não soube dividir meu amor
E virei criança.
Não queria crescer,
Mas continuar a depender
Do que já estava condicionado,
Do amor exclusivamente destinado,
Destilado (como veneno de amor).
De repente, a confusão da criançada alvoroçada
Me pareceu tão perturbador como deveria ser,
Já na casa da minha avó os netos a correr.
Mas naquela época tudo parecia tão normal,
Tão natural...
Nunca antes havia me sentido um peso,
Apesar do meu peso.
Já do lado de cá, tudo é pesado,
Até a comida na balança.
Fico incomodado de não agir como fazia minha avó,
Que parecia não se importar com tanta algazarra,
Por me sentir ainda tão criança,
Ainda tão carente!
Criançada agitada,
Animada
E amada,
Mesmo com tantos dilemas em mim,
E com minha dificuldade de demonstrar amor,
Não troco esse caos atual por nenhuma outra ordem.
(Impaciência não é infelicidade!)
Precisava muito ser menos ordeiro (e pacato)
E mais feliz.
Precisava muito de vocês!
Nessa criancice encontrei minha alegria de viver,
Apesar de continuar a me assustar com o ruído inaudível do vento cortado por vocês três.