30/09/2011

Eu!

Seu problema é só um:
Eu.
Não sou mais
Eu
Sou mais
Você.
Sempre
Fui!

29/09/2011

Espaço é bom gosto!

Preciso de espaço amplo,
Pé direito alto.
Não sei viver apertado,
Encurralado
Escapo.
E quando encontrar alguém
Quero dizer adeus.
Nunca falta casa,
Nem abrigo
Esperanças malditas
Que comem tudo
Que como.
Você me fez ver.
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Foto de um dos ambientes do estúdio do grande arquiteto italiano Achille Castiglioni (1918-2002)

28/09/2011

Respeito é bom gosto!

Respeito meus peitos e seus desejos.
E nada mais
Que você
Vive aqui!
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A gravidez como o momento mágico do nascimento de um outro no outro. Não é só carregar o outro, mas carregar um outro, outros. A pressão sobre um outro que ainda não nasceu não é apenas a pressão do líquuido em que o feto se encontra imerso na barriga, mas uma pressão do tamanho do mundo inteiro sobre ele(a)s: as expectativas do mundo circundante, circulante. E os peitos da mulher são a marca de um novo tempo em que sofrerá também a pressão masculina de dividir-se (em quantas forem necessárias) para atender seus múltiplos papéis: desejáveis e necessários. A gente costuma dizer: "respeito é bom e eu gosto!" Mas quem não gosta? Então, já que todos gostam de respeito, vamos suprimir o que é comum e refazer a frase pronta: "Respeito é bom e eu gosto!" Tem gosto de maternidade: aprender a conviver com seus inúmeros papéis, e com tantos outros diferentes de si e em si. Salve o respeito! Por uma questão de bom gosto.

27/09/2011

Apagão

Estou sem energia,
Sem luz,
Em plena luz do dia.
E pra pagar a conta
É preciso gastar energia.
Apague a luz do dia,
Que vou apagar!

26/09/2011

Apátrida!

Pulo barreiras,
Não respeito fronteiras,
Não tenho bandeiras,
Nem você.

25/09/2011

Liberdade pra lembrar/esquecer

Devemos lembrar tudo que quisermos,
Sem podarmos,
Sem pudor;
Ou esquecer tudo,
Se pudermos.

Devemos levar tudo que quisermos;
Ou se deixar levar,
Ser conduzido,
Até num lugar escuro,
(Nada seguro)
Pelas razões do coração.

Podemos errar o passo da dança,
Gargalhar feito criança
E fazer a maior lambança.
Mas há um fogo que não pode apagar:
Não devemos ter medo de apalpar,
De acertar
O ponteiro torto
Do relógio,
Que só incomoda quem tem a vida reta.
Somos loucos de pedra!
E felizes.
Quer mais?
E por que não?

24/09/2011

Identidade

Não respeito padrões,
Nem patrões.
E meu estado é
Onde cabe meu pé.
Porque minha cabeça não
Cabe
Você
Dizer
O que sou.
________________
Linda foto de indígenas brasileiros tirada pelo antropólogo Claude Levi-Strauss na década de 1930.

23/09/2011

Tento tanto e atento pouco

Fico tentando me distrair
Com o que não me distrai,
Com quem não me diz
Trai!
E a cabeça fica cheia
De sujeiras,
Besteiras...

Sigo em frente
Sem olhar pra frente
E só
Olho pra trás,
Esperando pousar,
Em algum lugar,
E refazer o que não se faz
Com você.

22/09/2011

Caminho das borboletas

Há muitas pegadas,
Deixadas no ar,
Em todo lugar.
Há um caminho desconhecido
De borboletas selvagens,
Instintivas,
Que pousam desconcertadas,
E chupam a seiva da vida,
Para reproduzir a vida.
Pelo vento que sopra,
São levadas!
Deixam suas marcas.
Revoada!
........................................................................................
Poesia criada depois que vi partes de um filme sobre a dança das borboletas na costa da África Oriental: não há razão para elas seguirem seu caminho, mas seguem. Norbert Elias analisa as sociedades humanas também a partir de seu carater instintivo, de como frequentemente realizamos a vida sem planeja-la, sem racionaliza-la. Aí pensei até em outra poesia mais ou menos assim (mas que não quero dar fim):
Nunca é bom ter sempre razão.
Às vezes é bom ficar sem palavras.
É sempre bom admirar uma borboleta a voar.
Mesmo sem razão,
Sem convicção.

21/09/2011

Do nada ao mito

Você vem sem nada,
Como quem não quer nada,
E tira tudo de mim,
E deita e rola em cima de mim.
E quando acordo do sonho,
Já se foi,
E nem sei se é verdade,
Se há verdade.
Quero voltar a sonhar.

20/09/2011

Inércia

Fico deitado,
Parado,
Amassado,
Passado
Perfeito.
Imperfeito.
Presente!

19/09/2011

Floresta

A floresta vive.
Só vive.
Vive com sons,
Com cheiros,
Cores...
E só.
Pode parecer pouco,
Mas isso é muito
Mais que eu.
A floresta é uma unidade coletiva
Que só vive.
Como eu mesmo
Até o fim.
Auto-fagia,
Auto-estima,
Sem rima,
Nem graça.

18/09/2011

Vem sonhar

Deite sua cabeça no meu travesseiro
E vamos voar juntos,
Vamos sonhar juntos.
Vamos nos encontrar
E nos perder
Em algum lugar,
Entre olhos abertos
E sinais fechados.
Vamos continuar juntos,
Separados pelos desejos
De viver intensamente o que se quer.
Pra poder parar o sonho distante
A qualquer instante.
E colocar o pé no chão
E a cabeça na lua.
Pra tomar um copo d'água,
Pingar um colírio
Ou comer a massa;
Quer dizer,
Pra tomar um colírio,
Pingar a massa
Ou comer um copo d'água;
Ou pra tomar a massa,
Pingar um copo d'água
Ou comer um colírio?
Sei lá!
Quem sabe?
Quem viu?
Quem foi?
Essa nossa distância
Não é física,
É metafísica,
É matemática,
É onírica.
E nem sei bem
A distância que tem,
Onde vamos parar,
Quando vamos começar,
Se vamos realizar.
Ou se sonhar já é realizar,
Viver sem querer,
Com prazer de rir sem fumar,
De gargalhar sem parar.
E de ler as mensagens ocultas que estão por aí:
A tatuagem no seu corpo
É minha marca de nascença,
Meu sinal de pertença,
O início do meu mal.
O meu fim principal,
Seu fim total.
Acorda!
Você precisa dormir,
Pra acabar com esse pesadelo.

17/09/2011

Enfeite

Não sou seu enfeite de cabelo.
(Que você nem usa)
Não sou seu,
Nem meu.
Melhor parar
Porque preciso enfeitar
Outras cabeças.

16/09/2011

Pau caído

Achou um pau caído.
Não era mole,
Mas largado
E entortado.
E quem perdeu
É porque achou
O senso comum
De ser
(Que não é ter)
E se largou por aí.

Achou um pau caído
E pulou sem pensar
E cruzou na ponta dos pés,
Na planta dos pés
Que não chega a nenhum lugar
Seguro.

15/09/2011

Saber viver só

Encontrar-se só,
Em si,
Por aí.
Se não for assim,
Nunca será só
Pra saber.

14/09/2011

Covardia

Foi covardia
Minha
Querida
Teimosia!
Fui covarde.
E nem queria ter sido.
Queria ter sido
Só.

13/09/2011

Me Mó Ria!

Memória é pra guardar,
Pra apagar,
Tudo que importava
E não importa mais
Nada.
Memória atormenta,
Mesmo quando não se enfrenta.
Deletar não é só apertar.
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Envelhecer, perder, morrer... Os mesmos sentimentos. Ressentimentos. Recomeçar.
Imagem: fotografia de um ex-escravo norte-americano em sua velhice cheia de memórias. Ricas memórias de grossas correntes e muitas chicotadas.

12/09/2011

Absorto

Há muitas maneiras de abortar;
Muitas maneiras de parar
De pensar.
Você escolhe a sua
Parte
E parto!
Sem me catar.
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Imagem: Poesia visual do mestre Edgard Braga (1897-1985).

11/09/2011

Ver-reter-prazer-rever-perder-de vista

Cada vez que vejo você,
Pelo menos mais,
Uma vez por mês,
Penso mais em mim,
Em fim.

E cada dia menos,
Outro dia mais,
Deixo você descansar
Em paz.

E se da saudade
Tiro a vontade,
De rever você
Cheio de vontade
Cheio de bondade,
Quero tudo e nada mais
Que você.

E pra fechar
É  preciso guardar,
O que resta de você.
E perder de vista
Que ver você só
Não dá prazer.
É preciso mais
Que ver,
Reter,
Prazer,
Rever,
Perder
De vez,
De vista.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Mais uma sobre os desaparecidos políticos. Somos os desaparecidos políticos, polidos, partidos, perdidos... Somos nus. Somos nós. Somos sós. Demais.

10/09/2011

Arrastarestação: ação de arrastar o que resta

Você anda cansada,
Irritada...
E eu nem ando mais.

Me arrasto
Pra longe,
Por longo,
Long
Way
Everyday.

09/09/2011

Angústia cotidiana de esperar voltar quem não se foi

Hoje

Me falta
Força,
Coragem,
Vontade
De ser,
Viver,
Prazer
Rever
Você.
################
Até quando esperar?

08/09/2011

Acertos dos erros

Se você pode errar,
Também quero,
Também vou.
Depois junto os cacos
E dou pra você.
Se não colar,
Faço vista grossa,
Como você.
E nada mais.

07/09/2011

Lutar não é um crime!

Quero memórias,
Vitórias...
Você?!
E sem saber
Morrer.

06/09/2011

Corte de classe

Quem vê de cima
Nem sempre vê melhor,
Quase sempre vê menor.
E desvaloriza.

Quem vê de baixo
Nem sempre vê melhor,
Quase sempre vê maior.
E sobrevaloriza.

Esses polos se afastam cada vez mais,
Porque só conhecem seus iguais.
Aí o destino fácil é voar
Ou se enterrar,
Cada vez mais,
Cada dia mais.

Não há astros que expliquem esses caminhos:
A divisão dos gostos
Para manutenção dos postos.
Os desencontros das classes dão segurança à estrutura social,
Faz tudo continuar igual:
Você lá
E eu cá.

Quem está embaixo sabe que não pode voar
E quem está lá, não quer se enterrar, se humilhar.
E o afastamento (e intolerância) entre as classes se deve a um corte.
A um corte profundo que risca a sociedade (e cada um de nós)
De alto a baixo.
Abaixo!

05/09/2011

Secura

O dinheiro falta
E o apetite não.
A garganta seca
Pede farinha
E espinha
De sardinha,
Que atravessada
Mata
Nativa
Engasgada,
Sufocada.
Cheio de água
Na boca
E nenhuma comida
Na barriga.
Vai mais um corpo ao chão.
A morte não é igual!
Imagem: Quadro "Criança morta" (1944), de Candido Portinari.

04/09/2011

O artista e sua arte

O artista é sua arte,
É poesia.
O artista não precisa dominar a técnica
E nunca deve ser dominado por ela.
Só se ele quiser,
Se gostar dela.
O artista não pinta,
Não canta,
Não dança...
O artista páre,
Sem precisar criar,
Sem poder parar.
O artista cria,
Sem precisar crer,
Sem poder parar.
O artista não precisa realizar;
Precisa realizar-se.
O artista é um poeta:
Ele não faz arte;
Ele é arte!

03/09/2011

Simples complexidade

Sou monotemático,
Monocromático,
Monótono.

Sou plurirracial,
Pluricultural,
Plurifacial.

Sou o que você achou que fosse sem ser.
Sou o que é mais simples de ver.
Sou a complexidade que não cabe na sua simples mente.
Sou o que é mais difícil de acreditar que se é simplesmente.
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Imagem: Mais uma pintura de Egon Schiele!

02/09/2011

Desmedida

Vamos sentar e regalar:
Apreciar a comida
E saciar o paladar.
Vamos gargalhar sem reservas,
De olhos fechados
E bocas abertas.
Sem medo,
Sem nojo,
Sem culpa,
Nem vergonha.
Pode comer o quanto quiser,
E até o que não quiser,
O quanto der pra bancar.
Isso é bacana;
Isso é bacanal!
....................................................
A juventude de Baco (1884), de William Bouguereau.

01/09/2011

Precocidade

Assumi cedo
O que não deveria;
O que deveria,
Não.