30/06/2012

Odeio você

Como odeio você!
Odeio ver você
Por saber que sou como você me vê.
Odeio ser
O que odeio em você.
Odeio você.

29/06/2012

Fantasias e fantasmas

Ouço vozes e não as entendo, não as atendo. Vejo coisas inacreditáveis: borboletas pousadas no corpo deitado à minha frente, sorrisos brancos e torturantes, como se rissem de mim, e maçãs do amor em chamas. Não sei se são fantasias ou fantasmas. Mas sigo desacreditado do que ouço e até do que vejo. Só acredito no que toco, no que me toca.

28/06/2012

Crianças pelo chão

São muitas crianças pelo chão,
Muitas crianças por aí,
Ocupando os espaços de cada volta do relógio.
Até acabar o dia;
Até acabar comigo.

Sou criança perdida.
E não tenho abrigo,
No meu próprio lar.

Sou criança abandonada,
Buscando quem me queira,
Querendo quem me busque.

27/06/2012

Existir é prescindir, matar todo dia um conjunto de possibilidades (e pessoas)

Às vezes querer não é o bastante.
Poder é mais importante.
E nesse instante, vejo
O quanto existir é angustiante.
E só se aguenta
Quando (e porque) se quer bem
Alguém.
Responsabilidade,
Saudade!
E a liberdade...
Mitigada num doce olhar que me pune.

26/06/2012

Como perfume, bebo amor

Como Perfume
Quando você me passa no seu corpo, eu me sinto em você.
Como qualquer homem.

Bebo Amor
Quando você me ama, eu me entrego a você.
Como qualquer homem.

25/06/2012

A espontaneidade e o amor quando não se dão, juntos se vão

Você demonstra tanto carinho...
Mas é pouco,
Tem que dizer!

Você diz bem baixinho,
Com todo jeitinho...
Mas é pouco,
Tem que sentir!

O que se faz
E o que se diz,
Não se conta
Pra ninguém.

E a espontaneidade se vai,
Junto com o amor,
Quando a insatisfação se torna instalação.

24/06/2012

Mama Africa

Sua mãe curava com ervas.
Ela, com música.
Quando subia ao palco
Engolia a dor
E suava frio.
Mulher de causas,
Sem casas,
Mas que não se escondia da lida.
E dava guarida
A seu amor pela vida!
***************************************
Inspirado pelo documentário Mama Africa (2011), que conta a história da cantora sul-africana Miriam Makeba (1932-2008). Um belo filme para uma linda história de vida!

23/06/2012

No fundo se vê a libertação

Quando se chega à beira do abismo,
Olhar pra baixo parece inevitável.
E mesmo assim, voar não dá
Quando não se tem asas.
Ou coragem.

22/06/2012

Uma mãe e sua dor

Quando o filho é concebido,
A mãe carrega enorme dor.
Quando o filho nasce,
A mãe carrega enorme dor.
Quando o filho se perde,

A mãe carrega enorme dor.
Quando o filho tortura,
A mãe carrega enorme dor.
Quando o filho se acha,

A mãe carrega enorme dor.
Quando a mãe se revela,
O filho carrega enorme dor.
Que mãe é essa,
Que quando não carrega a dor,
Faz carregá-la?
Que dor é essa que carrega essa mãe?
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Inspirado no filme "Incêndios" (2010)

21/06/2012

Gostar não é amar, mas o resultado pode ser o mesmo

Às vezes gostar é se torturar, é perfurar os próprios olhos e não enxergar o mal que há. Gostar às vezes é continuar preso, mesmo sem prisão, mesmo sem amar. Por isso é preciso um novo olhar.

20/06/2012

Mundos e modos

Sei bem o que fazer,
Mesmo sem você.
E se sei tanto,
Não é por querer,
Mas por dever
De sobreviver.
Éramos um encontro de mundos,
Uma colisão de modos.
E era a fagulha que me aquecia,
Que me prendia.
E ainda é assim.
Mas aguento o mundo girar,
Como num jogo de roleta
Ou numa rodada de bacará.
Tudo vai acabar,
Bem.
E o que ficar pra trás,
Vai virar jaz,
Vai virar jazz.

19/06/2012

Mudanças e andanças

Descobriu-se inteiramente
E, de repente,
Viu que estava nua
E que não havia porque se envergonhar,
Nem o que acobertar.
A alegria estava estampada no corpo,
Como vistos para viagens longas.

18/06/2012

Procura!

Você precisa se encontrar,
Parar de se anular,
De achar que nunca se é só.
Você precisa se perder,
Parar de se esconder,
De achar que lá fora está tudo errado.
Às vezes fazer o certo está errado.
Se você não acertar sua vida,
Nunca errará.
Que graça achará?

17/06/2012

Cenas (sem encenações) de um casamento

Cenas (sem encenações) de um casamento.
Um casamento é assim:
Empatia,
Hipocrisia
E encenação
Atrás de um amor
Vivido,
Perdido.
Mas se ainda não chegou,
Espere!
.+.+/+---/+.+*-/*/-*+..#
Imagem do interessante filme "Cenas de um casamento" (1973), de Ingmar Bergman. No final os cônjuges se tornam amantes um do outro. Só pra salvar a cumplicidade. São cúmplices num mesmo crime, praticado com muitas violências e ternuras.

16/06/2012

Molecagem

Vamos voltar à padaria,
Voltar à selvageria:
Furar bolos com os dados cheios de meleca,
Lamber os queijos da vitrine,
Rasgar embalagens de iogurte
E escolher os pães com as mãos.
Só pra deixar tudo estragar.
Não há mais o que fazer.
\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/
Imagem: http://historiasdopari.wordpress.com/2011/04/19/rua-rio-bonito-2/

15/06/2012

A pedra de gelo que nunca derrete

Você toda gelada,
Embora toda enrolada,
Esperando minha chegada,
Pra anunciar sua partida.
Não há mais batida,
Só lástima escondida
E lágrima escorrida.
.................................
Cheguei num dia e você se foi no outro. Você só esperou eu chegar pra partir (meu coração). Esperou meu toque e se foi. Foi encontrar a liberdade para aprisionar quem ficou.
Minha mãe sempre dizia que uma das lembranças mais desagradaveis que ela tinha era de ter beijado o rosto do pai no dia do seu velório. Pra ela foi como beijar a morte. Já não era mais o pai que estava ali, mas uma "pedra de gelo", como ela dizia. Ela sempre me aconselhou a não incorrer no mesmo erro. Mas por algum mistério, não consegui atende-la. Toca-la foi mesmo uma experiência muito ruim, tanto quanto impulsiva. Depois do anúncio da morte dela, fui o primeiro da família a chegar na capela mortuária e me deparei com três ou quatro corpos embrulhados em lençõis brancos e sem identificação externa. (Na verdade, a identificação estava numa fita adesiva colada sobre o lençol, mas o nervsismo era tanto que nem vi). Olhei os corpos ali e segui instintivamente minha busca pelo corpo dela. Comecei a desenrolar o rosto do primeiro corpo e torcendo pra que fosse ela pra eu não ter que me deparar com corpos estranhos. Mas como era branco o cabelo que surgia sob o lençol, vi que não era ela. Parti para o segundo corpo e quando o rosto dela apareceu, o meu se desfigurou. Sozinho ali naquela capela senti uma dor contida num grito que não saiu. Imdediatamente passei a mão na testa e no cabelo dela, como quem quisesse penteá-la. E na hora que a toquei lembrei das lembranças dela quanto à morte do próprio pai. Em 19/08/2006, um toque mudou tudo.
Imagem do quadro "A morta", de Rembrandt.

14/06/2012

A lucta!

A luta.
Razão de ser
Com paixão.
Compaixão,
Ação
Com você.
___________________
Imagem:  Escultura de Victor Brecheret, "Luta dos Índios Kalapalos” (1951).

13/06/2012

Outono

As folhas caem,
As máscaras.
As árvores ficam nuas,
Como eu,
Como você.

12/06/2012

Aguentar

Há que se aguentar!
Há que aguentar até a corda arrebentar.
E aguentar as consequências das escolhas,
Como se elas fossem necessárias.

11/06/2012

Efeitos dos defeitos

Somos feitos de defeitos
Alheios,
Ferozes...
São vozes
Dentro de nós,
E que não nos deixam em paz.

10/06/2012

Sonhos roubados

A vida é séria,
Miséria.
E os sonhos são roubados,
Como parte da rotina de quem tem.
Não há ilusões nesse viver,
Sobreviver.
E lutar é só o que se aprende.
E nunca se esquece.
*************************************
Inspirado pelo filme "Sonhos Roubados" (2009).

09/06/2012

Aperto

Não sei chegar.
Só sei partir,
Espaçando a vida
E encurtando a morte.
Apertando o medo
Em nós.

08/06/2012

Fantasmas

Assombro meus fantasmas,
Espanto-os,
E compreendo a vida,
Apreendo o mundo,
Com um olhar que diz tudo,
Cheio de linguagens,
De sentidos.

07/06/2012

Bola no mato e mina embaixo

Todos se foram.
Todos se vão.
E ninguém nos espera
E se não corrermos,
Nem o caminhão.
São guerras declaradas contra uma droga de vida qualquer,
São famílias destroçadas por uma droga qualquer,
São escolas atacadas,
Infâncias roubadas,
Tarefas paralisadas
E casas abandonadas...
Em nome de uma droga de verdade qualquer.
Qualquer um sabe que correr pra longe de si
É um meio de marcar a dor no existir.
_____________________________________________
Inspirado pelo filme colombiano "As cores das montanhas".

06/06/2012

Silêncio

Passo as semanas esperando você chegar.
Passo dias e horas sem ver você.
Todo final de semana penso em você,
Desejo você.
E até choro
Quando percebo que só a morte me trará você.
Silêncio,
Saudade!

05/06/2012

Restos


Não disponho de um momento só.
O resto tenho de sobra.
E me deleito como posso.
Como pouco
E emagreço a carne que me falta.

04/06/2012

Trancado em mim

Já não sinto nada demais:
Nem chicotes,
Nem açoites.
Essa minha resistência à dor
É quase desamor
(Por mim).
O problema não é você,
A culpa não é minha,
Nem a liberdade.
Acho que é culpa das abelhas,
Que picaram o bebê;
Ou de uma moral batista-capitalista;
Ou da conversão anarquista;
Ou da quimioterapia;
Ou da radioterapia;
Da morte prematura da mãe;
Por ser filho único;
Ou miscigenado;
Ou dos anos de Física;
Ou do doutorado;
Ou dos astros...
Pode ser tudo,
Pode ser o que quiser.
Só não pode ser...
Você.
Não sei dizer.

03/06/2012

Tudo bem quando tudo fica bem

Primeiro:
Quero você bem.
Quero você, bem.
Fica bem
Comigo.


Segundo:
Quero seu bem
Quero você também.
Mas não dá mais,
Não posso mais.
Um beijo grande,
Um sorriso dobrado
E o mais doce olhar...
Espero que possa chegar!

Terceiro:
Chegou já.
Sempre chegará.
Só não chega você (em mim).
Um beijo grande,
Um abraço apertado,
Um sorriso entortado
E olhos...
Marejados.
Mas firmes em você.
Como sei fazer.
Olhares silenciosos, profundos e cortantes
Como fazemos
Sempre que nos vemos (sozinhos).

02/06/2012

Meu irmão

Durmo cada vez menos.
E meu irmão não para de dormir.
Nunca o vejo acordado,
Senão quando estou dormindo.
E quando acordo,
Ele dorme.
Meu irmão vai crescendo sem parar
Dentro de mim.
Não cabe em mim.
E não tenho mais irmão
Na realidade.
______________________
Inspirado pelo filme "Te Extraño" (2010)

01/06/2012

Memórias


Aos vivos, amores;
Aos mortos, flores.
Mas há um lugar onde a morte não pode chegar:
Memórias.
O que há entre os vivos e os mortos
São memórias,
Nem sempre sãs.
Você pode me levar pra onde quiser,
Mas não pode me parar,
Não pode me prender.
E não posso fazer nada além de povoar
Terras,
Vidas,
Amores...
Com poesias.
Memórias!