30/04/2011

Danger!

Tem que parar de ligar pra mim,
Parar de me atacar e...
Menstruar.

29/04/2011

Livros da minha vida

Minha vida é um livro aberto, por mim. Há até quem conheça algumas páginas. E não me importo que façam leituras escondidas de mim. Podem pensar o que quiser de mim. Sou assim, sem vergonha mesmo.
Minha vida não é um livro, é uma biblioteca, composta de muitos livros, de muitos tomos, envelhecidos e escritos por mim. Alguns andam jogados por aí.
Nessa biblioteca há romances, poesias, ficções, contos, anedotas, memórias, tragédias, comédias, causos e... Visões. São muitas visões, mas muito mais as minhas visões, minhas interpretações. Muitas delas são equivocadas. E não me canso de errar!
De vez em quando encontro alguns volumes perdidos. Não gosto de manuseá-los porque a rinite ataca e a memória também. E aí, não me saio bem.
Mas às vezes não resisto e insisto em folhear: encontro páginas arrancadas, rasuradas, deterioradas, dobradas ou manchadas. Mas há também fotografias, pedaços de papéis, marcas de dedos, desenhos no corpo do texto, anotações de frases interrogativas, exclamativas e reticentes. Há marcas de traços e traças.
Hoje estava virando uma página da minha vida e encontrei um marcador, marcando pra sempre minha dor. Sem alívios ou prestígios. Sem graça. Desgraça!

28/04/2011

Desperdício

As energias são perdidas:
O desperdício do tempo e da força
Numa ausência de coesão,
De um trabalho conjunto.
E eu que gosto tanto de desperdiçar meu tempo,
E minhas forças,
Detesto descartar os outros,
Tanto seus tempos quanto suas forças.
A saída é por ali,
É sair,
Virar as costas para a realidade idealizada,
Desprezar o desrespeito
E ganhar tempo pra gastar,
Como se quiser,
Sem me obrigar.
Há tantos tempos para todos
Que não há necessidade nenhuma de conviver
Sem querer,
Sem ter porquê.
Vamos?

27/04/2011

Aposta

Apostei tudo que tenho no mengão.
Se ele perder vai ser foda,
Vou ficar duro!

26/04/2011

Boa companhia

Essa solidão que me assola,
Que me atormenta
E me enrola,
Busca no fundo
A sua companhia.

Essa solidão que me acompanha,
Cheia de artimanha,
Mostra que há espaço pra nós dois.
Mesmo que pra depois.

Desilusão,
A solidão que me consola,
Que me abraça
E me embala.

E vivo cantando o que vivo.
Vivo o que canto.
Vivo cantando em cada canto.
E canto pra viver
O meu querer.
Meu querer você,
Em todo canto,
Com todo encanto.

Ah, solidão,
Me abraça,
Me envolve,
Me acolhe...!
Porque ando perdido.
Perdido de amor,
Buscando me encontrar.
Em algum lugar.
Sem nenhum medo de errar;
Com toda vontade de acertar.
De acertar você,
De trazer você pra longe de mim
E levar você pra perto de mim.
De viver tão perto
Que nem me veja mais.
Até mais!
______________________
"O povo sente saudade dos sambas de dor de cotovelo", disse Zeca Pagodinho no final do ano passado. Baseado nessa declaração, escrevi essa poesia. Afinal, um sociólogo tem de ser sensível e atender a vontade popular.

25/04/2011

Carregamentos

Um problema carrego
E com ele não sossego:
Como posso ser só o que se vê?
Como se pode ver só o que se quer?

24/04/2011

Desavenças

Quando quero colo,
Você me dá.
Quando quero carinho,
Você me dá.
Quando quero emoção,
Você me dá.
Quando quero briga...
Esse não sou eu.
E vou encerrar aqui
Pra falar só de mim.

23/04/2011

Amar é um verbo

Amar é um verbo defectivo:
Não há terceira pessoa.
Nem no plural,
Nem no singular.
Só há primeira e segunda pessoas.
E elas se bastam.

Amar é um verbo defecativo:
Quando não suja na entrada,
Suja na saída.
O amor não é para sempre!

Amar é um verbo defucktivo:
É uma ação que faz suar a camisa,
Que cansa,
Mas que mata de prazer!

22/04/2011

Individualidade

Preciso de um vivência conjunta
E isolada,
Separada.
Quero solidariedade
Sem exclusividade,
Sem propriedade.
Esse meu comunismo
É quase um anarquismo.
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Imagem: Individuality, Andrew Cade.

21/04/2011

Cacos e percalços

Gosto de metades, pedaços, cacos...
Transformo isso em arte!
Nunca tenho nada inteiro,
Nunca fico inteiro,
Mas sempre me realizo.
Aos poucos.
E tento realizar,
O(as) outro(as).
Mas como sei que nunca consigo,
Que nunca conseguirei,
Desisto de coisas inteiras.
(Elas são pesadas demais pra mim!)
E me contento com metades, pedaços, cacos...
Percalços.
Afinal, seria injusto exigir o que não consigo dar!

20/04/2011

Desorientações

Minhas confusões mentais
Desorientam você.
Descontrolam você.
Não era pra ser assim.
E temo pelo nosso fim.
Pelo fim do que não temos,
E nunca teremos.
Pelo fim do que não somos.
(E nunca seremos?)

19/04/2011

Broken

Ele deita na cama como quem não sabe porquê, querendo seu próprio cansaço entender. Coloca um braço sobre a testa desejando uma festa, um lugar onde possa afogar sua fossa. Levanta rápido e olha ao redor com angústia e um tom de lamúria, buscando um culpado pra sua dívida e sua dúvida. Não vê ninguém. Repara um espelho à sua frente que o acusa de descrente, demente, descontente, indiferente, intransigente... Avança com raiva, quebra o espelho, varre os cacos, pega uma roupa (sem muito escolher) e sai pra dançar. Até se acabar, até desmaiar. Mas quando acorda vê que o espelho continua inteiro.

18/04/2011

Introdução

Introduzo a matéria
E você se vira,
Faz todo o resto.
Porque não presto.

17/04/2011

Iníciomeioefim

Fico deitada de lado, pensando nas mentiras que contei, nas ciladas que me armei, no quanto me entreguei, nos cantos em que amei. Em cada sorriso torto, que torturava a razão e entortava a emoção, expressando algo tortuoso que fiz a nós. Nós que sempre apertam um engodo, que amarram um erro, que em segredo vivo. Em segredo seguindo vivo. Um segundo em segredo, morro. Morro cheio de favelas. Morro cheio de vielas. Morro cheio de velas. Todas em mim. E subo aos céus, arrependido do que não fiz, desejando ser feliz. E resolvo voltar a viver, reviver. Voltar e viver, re-viver. Mesmo morto e sem coragem. Mesmo morto tem saudade! Vivo de verdade. Vivo de mentiras. E elas me constrangem e consolam. E é por isso que eu vivo. Morto de saudades. Sempre foi assim: início, meio e fim.

16/04/2011

Órbita

Passei tanto tempo gravitando a seu redor que nem percebi que me distanciava do meu mundo,
Que não pertenço mais a esse mundo.
Hoje me sinto um alien.

Conheci todas as faces do seu mundo:
A face clara
E a obscura.
Conheci todas as fases das suas luas.
Incontáveis luas!

Mas minha nave foi atraída por um campo magnético de ondas curtas.
E isso determinou minha queda,
Avariou meu foguete.
Mas também me obrigou a explorar outro mundo,
Por uma questão de sobrevivência.

Recuperada minha nave,
Voei por outros ares,
Sempre sem rumo,
Explorei muitos planetas.
E fui explorado também.
Fui abduzido por um grupo estranho.
E caí nas garras da criatura robôrboletarebolante
Passei tanto tempo com ela que percebi que tenho muito a conhecer.
Embora não saiba como fará minha nave mergulhar na sua atmosfera sem se desintegrar,
Sem prejudicar seu habitat.

Sempre me preocupo além da razão,
Mesmo com quem não tem razão.
E minha órbita agora é outra,
É principal.
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Imagem do cartaz original do filme "Planeta esquecido".

15/04/2011

Empilhando problemas

Às vezes um problema gera outro. Nesse caso, se resolvemos o primeiro, geramos um efeito cascata, fazendo desabar o segundo. Mas aí temos outro problema: fazer desabar o segundo é um modo de destruir o problema, não de resolve-lo, podendo produzir feridas graves nas pessoas que estiverem a nosso redor, ou em nós mesmos.
Que tal começar de trás pra frente, não seria mais coerente? Mas aí cria-se outra confusão: o segundo problema só foi causado pela existência do primeiro, o que impossibilita resolve-los separadamente na ordem inversa. Quer dizer, sem o problema 1, o problema 2 não existiria. Então, só poderíamos resolver o problema 2 resolvendo antes o problema 1.
Essa confusão toda pra mostrar que a solução de um problema pode ser mais dificil que parece. Ou pode ser mais facil, se optarmos por negligenciar a dor produzida pela derrubada da pilha de problemas que vamos acumulando (não resolvendo), pelos mais variados motivos. E eles vão se empilhando, se ajeitando, se equilibrando, até que um dia tudo cai. Então, se um dia tudo vai cair mesmo, podemos deixar como está, deixar os problemas parados lá, e aproveitar enquanto tudo não desaba, enquanto a vida (e a alegria) não se acaba?

14/04/2011

O peso das dívidas

As dívidas nos aprisionam e maltratam.
Mesmo as que não nos tratam.

Quem não crê, não é credor.
Quem crê, teme.
Quem não teme não deve.
Devo dizer o que não devo:
Não temo nem devo.
E suporto o peso da sua dívida.
E me torno impagável,
Insuportável.

13/04/2011

Cabelo em ovo

Às vezes pensamos, pensamos, pensamos e não chegamos a lugar nenhum, não encontramos soluções para os nossos problemas. Pelo contrário, parece até que intensificamos os dilemas, sofremos ainda mais. Em nossa cultura temos até expressões que definem essa idéia de que quem procura problemas acaba encontrando: catar cabelo em ovo ou procurar chifre em cabeça de cavalo.
É preciso reconhecer o tempo apropriado de cada coisa: que há tempo de pensar, há tempo de agir e há tempo de recolher-se, silenciar-se, por exemplo. O pior é que, geralmente, quando temos uma necessidade específica num determinado momento precisaríamos realizar exatamente o oposto: por exemplo, quando queremos muito compartilhar/conversar talvez seja o momento propício de silenciar; quando queremos muito pensar, talvez seja o momento propício para agir; quando queremos muito abraçar, talvez seja o momento de afastar-se. E vice-versa. Esses antagonismos são uma forma de fuga e estão o tempo todo diante de nós, independentemente de nós, quase astrologicamente.
Talvez seja seu tempo de ficar em silêncio, embora você queira falar. Certamente alguém estará expandindo-se em algum lugar. Ou talvez você tenha que encontrar alguém que esteja em tempo de ouvir. E aí você poderá falar. E será proveitoso. Mas seja cauteloso.

12/04/2011

Criação

Criar é contrariar,
É contraditar.
Criar é mais difícil que parir,
É como partir,
É perder de si;
E ganhar em si,
De todos os cantos
Até aqui.
Enche de pânico,
Enche a cabeça,
Enche o papel,
Ou a tela,
E esvazia o coração,
A alma
E os bolsos.
Mas pode também encher os bolsos,
Pelo que ouvi falar,
Mas nunca pude experimentar.
Quem sabe um dia
Transformo em ouro um ovo de galinha.
Por enquanto, só saudade,
Ilusão
E criação.
Criação de pintos soltos no lixo,
No luxo que se dá a criação.
Estado da arte.

11/04/2011

Bom partido

Bom partido é aquele que não existe!
Se partido fosse bom seria inteiro.
Bom partido é caçado,
É cobiçado,
Cobrado.
E, por isso, parte:
O coração alheio
E pra bem longe.
Bom partido
É bem partido.
No peito.
E na raça!
............../*........................................................
Imagem de Robert De Niro em "Cabo do Medo" (1991), onde ele aparece sarado e tatuado. No peito uma tatuagem artesanal (tosca) de um coração quebrado com o nome de uma mulher escrito em cima: "Loretta".

10/04/2011

Gosto que me enrosco!

É no que gosto
Que me enrosco,
Me aperto,
Me estico
E me funico.

09/04/2011

Anjos, banjos e beijos

Não acredito em anjos.
Não gosto de banjos.
Só beijos.
Só.
Saudades.

08/04/2011

Fetiche

Queria escrever sem limites,
Sem vergonha,
Deixar minha poesia sobre um papel de carne nua,
Carne crua,
Na carne sua:
Queria escrever uma poesia no seu corpo,
Derramar minha alma com vontade em você.
Sujar seu corpo com minhas idéias claras,
Com minhas idéias sujas,
Com todo prazer.
E apreciar seu corpo embelezando minhas letras.
Pra depois lavar as palavras e salvar você
De mim:
Seu corpo já é um poema!
E vivo no mesmo dilema,
O que faria você aceitar esse meu esquema?

07/04/2011

Enchendo a bola

Ela enche minha bola
E depois a esvazia.
Sinto o cansaço no fim do dia.

E quando esvazio minha bola,
Ela enche:
As nuvens parecem baixas pra mim;
Levanto a cabeça pra seguir.

Mas às vezes ela me enche demais.
E explodo,
Desapareço no ar,
Sigo sem saber aonde ir.
Mas sempre encontro abrigo,
Um ombro amigo
E castigo.
Castigo o mal que há em si
E você grita pra mim,
Sussurra pra mim.
Como se a dor que imprimo
Fosse insuficiente para ter fim.

Não entendo nada,
Não consigo entender.
Desisti de entender.
E quando para de se meter,
Enche minha bola.
Não entendo esse prazer:
Arrancar um pedaço
Pra depois colar.
Só tenho que calar,
Esperar um tempo
Para depois continuar.
Sem parar?

06/04/2011

Meia-dúzia

Fico olhando o seis e acho que ele é perfeito demais, o cruzamento final da linha curva que começa com um ponto lançado no nada (ou que termina num lançamento espacial para o nada). Fico imaginando uma outra forma, mas não consigo mexer no que já existe. Parece perfeito demais! Resolvo subverter o que há, virando de pernas para o ar. O que era seis somou-se a mais três, de uma vez, virou nove. Novidade! Nova idade. Tenho medo do nove, acho bizarro ele sustentar tanto peso numa perna torta só. Parece que vai desabar a qualquer momento. O nove é o lado imperfeito do seis. Nada é perfeito! Noves fora, nada. Reviro o nove e volto ao seis. E mais, descubro que ele é tão perfeito que tem vergonha, que é tímido e humilde não gosta de orgulho, nem de barulho. (Eu também não!) Ele tem um codinome que serve pra esconder sua perfeição, é chamado de meia-dúzia. E quem acha que o seis é único, acertou. É o mesmo seis, com um disfarce, uma outra face.

05/04/2011

Lugar comum

O sereno cai
Durante a noite.
E a altiva,
No raiar do dia.
Há um lugar comum aos dois.
Falo disso depois.
Ou pense no que quero dizer,
No problema do prazer.

04/04/2011

Não sou presente!

Pareço presente,
Mas não sou.
Nunca fui.
Serei?
Quem sabe?

E se sou presente,
Onde foi parar o embrulho?
(Pra que tanto barulho?)
Ou o embrulho sou eu mesmo?
Pode ser.

Não, acho que não,
Não sou presente.
E o passado confirma que não.

Não sou presente,
Mas minha lacuna não é sentida,
É vivida,
Preenchida
Com laços fortes,
Com traços fracos,
Com marasmos
E sarcasmos.

Não sei quem sou,
Talvez o futuro me diga,
Mas não sou presente.
E vivo tão ausente
Que chego a ser indecente,
Incoerente,
Como me vê essa gente.
Como me vê essa gente?
Como sem ver essa gente!

03/04/2011

Sol e solidão

O sol está só.
Lá no alto e só.
Sol aqui
E solidão sem fim.
Vai por mim,
Vem aqui.
Faz assim,
Embrenhe-se nos lençóis amassados desse quarto largado e me amassa.
Me amansa.
E me deixa todo beijado,
Arroxeado,
Cansado,
Deitado...
E feliz.
A minha alegria é ouvir o que você me diz.
E receber de você o que não sei dizer.
Receber você.
E o sol que bate na minha cara
E espanta a solidão.
Não vai não!

02/04/2011

Sorte danada!

Sorte a minha
Nesse dia
Não ter você aqui,
Junto a mim.

Sorte a sua,
Nesse dia,
Não me ver assim
Com essa cara de fim.

Ah, se a sorte dessa roleta fosse minha!
Ah, se minha sorte fosse um beijo de bom dia!

01/04/2011

Não acredite no que digo!

Não acredito em anjos, meu anjo.
Não confio em crianças, baby.
Não existem raças, nega.
Não respeito patrimônios, meu bem.
Entende o que você é pra mim?
Nada mais.
Você acredita?
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Primeiro de abril! Vai acreditar em mim nesse dia?
Imagem: auto-retrato de Egon Schiele.