28/02/2007

Emprego e aconchego


Estive pensando sobre a importância do trabalho na vida de um indivíduo. Alguns autores, mais recentemente, vêm discutindo a centralidade do trabalho numa sociedade sem trabalho. Estes autores apontam para a necessidade de se reduzir a importância das relações de trabalho nos dias de hoje, alegando que é exagerado atribuir tanta importância a um aspecto da vida que está cada vez mais escasso. Pode ser que eles tenham razão, que numa sociedade em que o desemprego é gritante e gigante, o trabalho deva ficar para segundo plano. Talvez devessemos mesmo nos preocupar mais com o desemprego, e com as consequências dele para a sociedade e o indivíduo. Mas este tipo de preocupação (com o desemprego) já aponta, de novo, para o fato de que o trabalho é tema central ainda em nossas sociedades e em nossas vidas. Se o trabalho não fosse tão central ainda, não nos preocuparíamos com a falta dele.
Ao contrário do que alguns velhos marxistas pensavam, o trabalho não traz benefícios só econômicos para o indivíduo. Traz também, e este é um aspecto fundamental do trabalho, a identificação do indivíduo com uma instituição ou um time. Trabalhar é também identificar-se e diferenciar-se. Identificar-se com seus pares, seus iguais, outros profissionais da empresa em que se trabalha ou com outros profissionais da área. Mas é também um diferenciar-se, que é o outro lado da identificação, dos outros profissionais da mesma empresa ou de outras ou até daqueles que não estão empregados.
Comparo o emprego ao aconchego dos braços maternos. Acolhido nos braços da mãe, o filho se sente protegido, amparado e motivado. O emprego deixa o trabalhador acolhido, satisfeito por ter uma identidade (profissional e social). O desemprego, por outro lado, deixa o trabalhador desprotegido, solitário, angustiado e temeroso. Uma das maiores tragédias que a falta de emprego pode causar não é de ordem econômica, é de ordem identitária. O desempregado se sente de fora de um sistema que valoriza os que estão de dentro, os que estão empregados, os que são "produtivos", para usar uma palavra mais apropriada. O trabalhador sem emprego luta todo dia com sua auto-estima, que teima em querer compará-lo com os empregados e inferiorizá-lo. Ou tenta fazê-lo saudosista do tempo em que estava empregado, mesmo que mal empregado. O problema é social, a falta de emprego, mas ele é sentido individualmente, na cabeça, no bolso e na barriga do desempregado. Eu sei disso.

27/02/2007

26/02/2007


Já ouvi histórias.
Já pesquei piabas.
Já andei descalço.
Já quebrei um vaso.
Já fiz pirraça.
Já contei piada.
Já fui cantor.
Já arranquei uma flor.

Já presenciei brigas.
Já fui preso.
Já vi intrigas.
Já levei tiro.
Já morri.
Já levitei.
Já senti.
Já amei.

Já vivi,
Já sonhei,
Já experimentei...
Na realidade ou na ficção,
Minha mente já foi
Onde esteve meu coração.
E eu continuo aqui:
Vivendo.

25/02/2007

Darwin e o capitalismo


Há muito tempo me intriga a massificação da idéia de que Darwin criara a teoria da seleção natural das espécies, em que os mais aptos, "os mais fortes", sobrevivem, e os menos preparados, sucumbem. Charles Darwin foi o grande responsável pela criação e divulgação das idéias evolucionustas através da publicação do livro "A origem das espécies", que foi um sucesso. Mas ele escreveu outro livro, chamado "A origem do homem e a seleção sexual", que foi um fracasso.
Se atentarmos para a relação do primeiro livro com os interesses capitalistas, poderemos entender a razão de seu sucesso e do fracasso do segundo. A idéia de competição entre os homens faz parte do doutrina liberal. Quando Darwin enuncia a teoria da seleção natural das espécies, o Liberalismo assume e divulga essas idéias porque elas naturalizariam, tornariam natural, parte da natureza humana, a disputa entre os homens. Os homens são competitivos não porque querem, mas porque é da natureza humana. A ideologia da competição inata dos homens se firmou também na teoria evolucionista.
Por outro lado, o segundo livro de Darwin colocava em cheque o próprio capitalismo, quando ele afirmava que o mais apto não era o mais forte, mas o que tinha melhor desempenho sexual. O mais forte no sistema capitalista é o que detém maior poder econômico, não há dúvidas. Mas e o mais apto sexualmente num sistema capitalista? Provavelmente os capitalistas, preocupados com a reprodução de seu capital, não teriam muitas condições de ser bons amantes também.
A consagração da teoria da seleção natural das espécies, foi promovida também pelos capitalistas. A idéia da seleção sexual era uma ameaça à reprodução do capital e à própria doutrina liberal.
Deu pra entender? A teoria da evolução das espécies foi promovida pelo capitalismo como meio de se estabelecer e perpetuar.
Fui!

24/02/2007

Piada de advogados


Por falar em advogados, não posso deixar de escrever aqui uma das minhas piadas preferidas sobre advogados:

"O Instituto Pasteur anunciou que eles não vão mais usar ratos em experiências médicas. No lugar dos ratos, usarão advogados. Eles tiveram três razões para tomar esta decisão: 1. existem no momento mais advogados que ratos; 2. os pesquisadores não ficam tão ligados emocionalmente aos advogados como ficam com os ratos; 3. há certas coisas que nem os ratos fazem".

É boa ou não é? Aceito contribuições.

23/02/2007

Advogados


Os advogados têm tirado meu sono. Não, não estou enrolado com a justiça por dívidas, jogo, tráfico, espancamento ou homicídio. Estou preocupado com os advogados porque são objeto de minha tese. Estou pesquisando a relação entre profissões jurídicas e desigualdade social após a Constituição de 1988: estou convencido de que os juristas utilizaram a chamada Constituição Cidadã para alavancar seus poderes na sociedade brasileira. Não vou adiantar muita coisa para não estragar a surpresa, mas estou reunindo dados suficientes para sugerir a criação e execução de um projeto profissional dos juristas antes, durante e depois da promulgação da Constituição de 1988. "Projeto profissional" é um conceito que aponta para uma tentativa de tomada do poder, poder social (status profissional e alta remuneração), por determinados grupos profissionais. No meu caso, estou investigando o projeto profissional dos juristas. Aguarde!

22/02/2007

Credencialismo

Credencialismo é um conceito criado por Randall Collins, um sociólgo norte-americano, para indicar a sobrevalorização do diploma em detrimento do conhecimento, do conteúdo. Para Collins, vivemos numa sociedade credencialista, em que a educação cumpre apenas um papel formal de treinamento. Mais do que o conhecimento, queremos uma credencial pra o mercado de trabalho, um diploma. As credenciais educativas são passaportes para postos do mercado de trabalho? Não necessariamente, segundo Randall Collins. Para ele, uma credencial, um diploma, é um passo importante para entrar no mercado de trabalho, mas é preciso também incorporar uma cultura que se identifique com a cultura desejada, esperada, pelo empregador.

Ele está entendendo, de fato, o conteúdo aprendido com a educação como irrelevante para uma boa colocação no mercado de trabalho. Uma credencial, ou melhor, uma boa credencial é mais importante do que o conteúdo ensinado e aprendido. Isso significa dizer que a estratificação educacional, a hierarquia entre as escolas, gera uma estratificação de diplomas, uma hierarquia de diplomas. Que por sua vez, mantém uma relação direta com o mercado de trabalho: a estratificação educacional é reproduzida no mercado de trabalho e o mercado, em contrapartida, condiciona a estratificação educacional. Em palavras mais simples, escolas boas ou ruins, são boas ou ruins porque o mercado as faz assim, valorizando-as, seus diplomas, desigualmente. Os formados por boas escolas terão uma probabilidade maior de obter êxito no mercado de trabalho não porque eles tenham mais conteúdo, conhecimento, que os formados por escolas ditas ruins, mas porque seus diplomas valem mais no mercado. Os empregadores para não colocar em risco suas empresas tendem a selecionar trabalhadores formados por determinadas instituições reconhecidamente elitistas.


Na verdade, Randall Collins está mostrando que a seleção para ocupar postos no mercado de trabalho é uma seleção classista, uma seleção que acaba reproduzindo a hierarquia de classes da sociedade: os mais ricos estudam nas melhores escolas e os melhores postos de trabalho, os mais bem remunerados, são entregues aos formados nas melhores escolas, que, coincidentemente, são os mais ricos. Será que ele está errado em sua análise? Se estiver errado, então, como explicar tanta desigualdade social?

21/02/2007

Papai

Sujeito importante na nossa vida é o tal do pai, não é? Quem não tem mais pai, ou nunca teve, sabe o que estou dizendo. Fica aquele vazio, imaginamos que bom seria termos pai. Quem teve o pai pouco presente em casa ou excessivamente presente em sua vida também sabe o que estou dizendo. Enfim, todos sabemos a importância que o pai teve ou tem em nossas vidas. Eles são quase determinantes em nossa trajetória pessoal.
Freud diz que o pai representa a figura da lei em casa. A figura do pai marcaria a divisão entre aquilo que o filho pode ter e aquilo que ele não pode ter. E o momento em que o filho descobre que a mãe não é dele, mas do pai, seria o mais singular do papel limitador do pai. Neste momento o filho seria imensamente frustrado na realização de seus interesses ao se deparar com outro interesse diferente e arrebatador, o do pai.
O pai nos traumatiza e/ou nos incentiva. Se nos sufocou demais, lembramos dele com raiva ou até com ódio. Se nos acompanhou de perto, e na medida exata, ficamos saudosos dos tempos de criança a da presença dele em nossas vidas, lembrando dele sempre com ternura.
Talvez este tipo de pensamento só ocorra a quem está envelhecendo, mas deveria ocorrer a todos, antes até de envelhecer, para valorizarmos mais a presença do pai enquanto ele está por perto. Mas não se engane, depois da leitura deste texto se você não for levado a pensar na figura do seu pai, e na importância da presença (ou ausência) dele pra sua vida, um dia, fatalmente, isso acontecerá.
O maior motivo de tanta reflexão sobre o assunto é que um dia os filhos também se tornam pais. Saimos da condição de sujeito de reflexão para objeto da reflexão. Aí será a vez de nossos filhos refletirem sobre nós. Eu acabo de saber que serei pai pela segunda vez. Papai! Posso dizer que é um posto difícil e muito prazeroso.

19/02/2007

Seis meses


Já parou pra pensar no significado de seis meses? É pouco ou muito? Pense! Seis meses sem beber água pode? E seis meses só bebendo água? Seis meses sem sair de casa. Seis meses sem voltar pra casa, preso em algum lugar. Seis meses olhando as estrelas. Seis meses assistindo TV sem levantar do sofá. Seis meses sem dormir. Seis meses dormindo, hibernando. Seis meses falando sem parar, qualquer coisa, sem parar. Ou seis meses sem falar, em silêncio. Seis meses comendo a mesma comida todos os dias, pipoca com suco de groselha. Ou pior, comendo no McDonalds. Urgh! Seis meses é meio ano, algo em torno de 182 dias, com 24h cada. Parece bastante, não? Mas são seis meses. Seis meses de idade, é pouco. Seis meses de um século, é pouquíssimo. Seis meses de uma eternidade não é nada. Seis meses... São seis meses. Pode ser pouco ou pode ser muito. Seis meses foi bastante! Saudade!

18/02/2007

Quase dois irmãos


Ontem falei em irmãs, hoje quero sugerir um filme brasileiro que gosto bastante: "Quase Dois Irmãos". O filme conta um pouco do surgimento do Comando Vermelho na penitenciária da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, pelo contato na prisão de presos comuns com presos políticos do regime militar. No final... Ah, não vou falar o final, mas o drama do preso político retratado no filme passa pela presença do crime organizado dentro da sua casa. O pior é que ele mesmo ajudara a criar (formar), na prisão, a organização criminosa.

17/02/2007

Irmãos que não são gêmeos


Dois irmãos, filhos dos mesmos pais, fazerem aniversário no mesmo dia, sem serem gêmeos, é coisa rara, você há de convir. Pois eu tenho duas primas, irmãs, que aniversariam no mesmo dia, e não são gêmeas. E o dia do aniversário delas é este! Minha homenagem a elas neste dia: Feliz aniversário, Juliana e Luciana!

16/02/2007

Presente

Quero falar sobre dar e receber presentes. Nem vou me referir ao estudo de Marcel Mauss sobre a relação dos atores sociais envolvidos em dar e receber presentes. Ele chamou seu trabalho de "Ensaio sobre a dádiva", que já é um clássico das ciências sociais, e é lindo.
Quero tocar nesse tema porque alguém anonimamente enviou um comentário à minha postagem anterior dizendo que na lei federal que instituiria a festinha de aniversário obrigatória às crianças, até pelo menos os 10 anos de idade, havia faltado colocar os presentes como necessários e indispensáveis a uma festa infantil. Quando escrevi a postagem anterior me pareceu óbvio que os presentes não podem ser dispensados. Mas o sr. anônimo tem razão, pois ainda há pessoas que vão às festas infantis com as mãos vazias.
Quem, quando era criança, nunca correu na porta para receber um convidado que chegava na expectativa de saber logo qual seria o presente? Ou quem nunca presenciou esta cena? E que decepção ao olhar as mãos vazias do convidado, ou ao receber apenas um tapinha na cabeça ou um aperto na bochecha. Depois dessa experiência ruim para a criança, a correria continua, a diversão continua, como se ela dissesse para si mesma: "não vai ser este cara-de-pau, este pão-duro, este insensível, que vai estragar minha festa!" É mais uma prova de que as crianças tem muito a nos ensinar!
Vamos incluir a necessidade de dar presentes às crianças na nossa lei federal. Elas merecem! Abaixo os adultos-de-mãos-vazias!

15/02/2007

Aniversário

Não sei se o sentimento de quem faz aniversário é o mesmo em qualquer parte do mundo, mas tendo a pensar que há um misto de expectativa pelo que vai acontecer no dia e esperança de que coisas boas aconteçam que deve ser comum a todas as culturas. Talvez eu esteja errado, e até etnocêntrico (olhando para as outras culturas como se fossem iguais à minha, julgando as outras culturas a partir da minha). Mas me permito conjecturar sobre esta data tão especial que é o dia em que nascemos.
Pode até ser que com o passar dos anos, depois de muitos aniversários, passemos a valorizar menos a data de nascimento. Mas quando vemos uma criança celebrando um aniversário, e nem precisa ser a data dela mesma, ficamos maravilhados com o poder que esta data, e a festinha é claro, tem para ela. Uma coisa não podemos negar, os pequenos são expontâneos e sabem se divertir. É uma correria, uma risadaria, uma empolgação, enfim, uma alegria que talvez não tenha igual. Chego a pensar no porquê abandonamos esta inocência infantil que só parece fazer bem para as crianças.
Mesmo que não fôssemos tão alegres como as crianças, que endurecessemos co o tempo e a vida, poderíamos pelo menos observa-las em dias de aniversário. Observar a alegria delas também nos alegra e nos faz bem. É contagiante, no bom sentido. É uma aula de persistência e alegria. Persistência em alegrar-se. Numa correria que acaba em tombo, ou em choro, a criança se levanta rapidamente e continua em frente, limpando as mãos na calça, secando as lágrimas com as mangas da camisa, abraçando as pernas do pai enquanto observa as outras crianças, como se estivesse se recompondo para voltar à festa. E a hora de cantar parabéns? É aquela disputa por um lugar perto da mesa onde está o bolo. E as bolas coloridas? "Eu quero aquela amarela". "Eu quero a roxa!" No final, o saldo (para usar um termo dos adultos) é sempre positivo para as crianças, é sempre divertido.
Devia ser lei federal: "Todo cidadão tem direito de realizar festinhas de aniversários para seus filhos ou enteados até completarem 10 anos de idade, devendo a União, os estados e os municípios garantir o cumprimento desta lei, inclusive com recursos financeiros necessários para a realização das festas. Parágrafo único: Toda festa deve contar pelo menos com bolo de aniversário com velinhas, balões coloridos, docinhos variados, suco, pipoca, cachorro-quente e música infantil." Imagine toda criança tendo um dia do ano, de cada ano de sua vida, destinado a celebrar a sua existência? E isso até os 10 anos de idade pelo menos. Seria uma revolução na vida dos pequenos que talvez causasse um revolução na vida dos adultos que elas se tornarão. Quem sabe teríamos um mundo melhor? Mas deveria ter uma lei também que obrigasse os adultos a observar a alegria e diversão dos pequeninos. Para que os adultos não esqueçam do lúdico, da diversão, da alegria e voltem a se alegrar com os aniversários, mesmo que seja o dos outros.
Como eu sonho com um mundo melhor para as crianças! Como eu espero por um mundo menos "adultocêntrico"! Como eu desejo que os adultos se divirtam só em observar a diversão das crianças! Como eu me diverti hoje, com a alegria de minha filha que completou 1 aninho!

14/02/2007

Diminuição da maioridade penal

Toda vez que acontece uma tragédia com repercussões nacional volta à tona o debate sobre aumentar ou não a punição prevista em lei para determinados tipos de crimes. Infelizmente ainda queremos pegar o "atalho", tentando resolver coisas muito complexas apenas com uma canetada ou uma alteração de lei. No caso específico da violência cometida e sofrida por menores de idade, como foi o caso do menino João Hélio e de seus algozes (alguns dos quais eram menores), precisamos nos conscientizar de que a redução da maioridade penal não será a solução para os crimes cometidos por menores. Precisamos aprender a lidar com nossas próprias mazelas. Entre elas, a de não saber como tratar nossas crianças. E isso não só em termos de falta de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento infantil, como também na nossa falta de condições de criar uma criança. Elas são abandonadas, mal-tratadas, humilhadas e assassinadas. E isso por pessoas comuns, como você e eu, não só pelo Estado. A redução da maioridade penal não resolve o problema porque só acentua o rigor da punição sobre a ponta do iceberg, o menor. Este menor delinquente é tão vítima quanto as vítimas que ele mesmo faz, como o garoto João Hélio. Se punirmos o infrator com maior rigor, e cada vez mais cedo, estaremos sendo injustos com ele, que é em grande medida produto da sociedade. É fácil pegar o menor infrator e usá-lo para expurgar nossas próprias contradições e omissões. Mas e o adulto que deveria ter cuidado daquele menor infrator antes dele se tornar criminoso e não cuidou? Reparem que cuidar não significa só abraçar e bajular não. Cuidar é também exortar, "puxar a orelha", no momento certo e de forma adequada. Precisamos cumprir as leis que temos e criar políticas de controle do papel esperado pelos pais e familiares. Precisamos de penas mais rígidas sim para o adulto que arrebanha crianças para o crime, para pais que abrem mão de sua tarefa de criar responsavelmente os filhos, para familiares que abusam dos menores, para adultos e empresas que exploram a força de trabalho infantil...

12/02/2007

Violência e Infância



Estive uns dois dias perplexo com as notícias do assassinato brutal do menino João Hélio. Queria escrever alguma coisa sobre isso mas não conseguia. Afinal, como explicar uma morte tão cruel como esta? Parece mesmo não ter explicação. Aí tentei lembrar minha infância e as coisas mais cruéis que presenciei na minha época de criança. Lembrei que gostava de assisitr filmes de terror com assassinatos com "requintes de crueldade", como se costuma dizer: degolas, esquartejamento, tortura, facadas, tiros, venenos, asfixia, enforcamentos etc. Assisti todos ou quase todos das décadas de 1970 e 1980, época em que os filmes de terror viraram febre: Sexta-feira 13 (e suas intermináveis sequências), Halloween (e suas sequências), Colheita Maldita, Re-animator, A morte do demônio, Carrie, Massacre da serra-elétrica, A hora do pesadelo, A volta dos mortos-vivos, A noite dos mortos-vivos, Poltergeist, O portão, A maldição dos mortos-vivos, Coração Satânico, O Exorcista, Pavor na cidade dos zumbis, e por aí vai. Todos repletos de banhos de sangue e com os ingredientes indispensáveis ao gênero: mortes.
O que me atraía nesses filmes é que a violência contida neles era a caricaturização de algo distante da nossa realidade. Quero dizer que gostava dos filmes de terror (e eu preferia os de assassinatos do que os de monstros e fenômenos sobrenaturais) porque eles eram uma ficção no meu universo infanto-juvenil. Era a apresentação de uma coisa que no fundo eu achava que não era real. Eu sabia que era um filme e, de alguma maneira inconsciente, não admitia que a ficção do filme se misturasse à minha realidade, ou a de ninguém. O filme era o espaço das pirações, dos impossíveis, das invenções, do lúdico. Já a realidade era o lugar dos estudos, dos deveres de casa, das provas e dos horários marcados. O máximo que as imagens e símbolos dos filmes de terror passavam para minha realidade era nas brincadeiras, mas nada que colocasse em risco a vida alheia. Gostava de ser alguns dos personagens (Freddy e Jason, por exemplo) e de cantar as musiquinhas dos filmes (principalmente a de Halloween). A violência dos filmes de terror me fascinava.
Lembrando esses episódios dos meus 13 aos 16 anos de idade e toda violência contida nos filmes de terror, percebi que nada se compara ao que aconteceu com o menino João Hélio. Simplesmente porque o que aconteceu com o menino não é filme, mas real. Não se pode voltar a fita (como se fazia na época dos vídeocassetes) para rever os detalhes da cena. Não foi uma cena, foi um assassinato de verdade. E isso é mesmo chocante, apavorante e cruel. Esta violência que parece romper o limite infantil entre ficção e realidade, e a prova disso é que nossas crianças hoje já se preocupam com a violência (veja imagem acima), talvez seja a causa da redução das produções de filmes de terror a partir dos anos 1990. O que nos divertia nas produções das décadas de 1970 e 80 era que as cenas representadas na tela "não existiam" na nossa realidade. Estávamos mais distantes dessa violência. Mas na medida em que a violência passa a fazer parte do nosso cotidiano, o que nos divertirá? Será que aquela infância inocente, em detrimento da infância vivida nos dias de hoje, não explica também, em alguma medida, a onda retrô em que vivemos? Parece que queremos de volta o estilo de vida que tínhamos antes, e que perdemos. Viva os filmes inocentes, as animaões, os romances...! Viva a infância! Chega de violência!
Aproveito para indicar um filme inocente e cativante sobre acreditar no potencial de alguém ainda na infância, e sobre a diferença que isso faz na vida de uma criança, e para quem gosta do ritmo mais lento e romântico do cinema europeu. O nome do filme é "A voz do coração" (Les choristes). Vale a pena!

10/02/2007

Homem-Animal


Antes de começar esta postagem quero dizer que minha relação com os animais nunca foi além de um mero observador e apreciador da beleza e pecularidades dos bichinhos. Quando criança, gostava de ir ao zoológico e observar as espécies. (Aliás, acho que zoológicos cumprem papéis pedagógicos importantes na vida das crianças, ao contrário dos mais radicais defensores dos "direitos dos animais".) Mas tem gente que leva a relação com os animais bem mais a sério. A coisa mais bizarra que já ouvi falar foi de um sujeito de Dores de Macabu, em Campos/RJ, que molestava uma égua, com o "consentimento" dela. Mas não é disso que quero falar, porque é tosco demais!
Não é de hoje que a relação homem-animal gera consequências. Um problema, supostamente gerado por esta relação entre homens e animais num mesmo espaço, seria a destruição dos animais no ambiente urbano. É claro que há uma redução dos animais nos espaços urbanos, mas há também uma diminuição de nossa sensibilidade à presença deles, pelo ritmo frenético que vivemos nas cidades. Mas se abrirmos nossos olhos e ouvidos, perceberemos que eles estão lá, resistindo à poluição e à agitação, mas não à nossa indiferença à presença deles. Se acordarmos mais cedo, ouviremos o canto dos pássaros anunciando o novo dia. Ou no final da tarde, as revoadas de pássaros recolhendo-se a seus ninhos. Os macaquinhos estão pulando de galho em galho e nas janelas de alguns apartamentos, em plena metrópole. Sem contar os cães pelas ruas, os gatos, as lagartixas, as borboletas, as corujas, os esquilos, os morcegos...
As praças, os hortos e outros espaços verdes das cidades estão repletos de animaizinhos e insetos que convivem bem conosco. Essa idéia de que homem e animais não se dão bem, que os homens ameaçam as vidas dos animais é uma falácia. A prova disso está do lado de fora. É só você chegar na janela ou ficar atento aos movimentos dos bichos nas cidades. Quer dizer, é só exercitarmos nossa percepção para descobrir estes seres que nos rodeiam.
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Hoje não quero escrever muito porque vou comer um pedaço de bolo com a patroa, que está aniversariando. Vou encerrar tentando lembrar alguns produtos culturais do cinema, da TV, dos quadrinhos e da música sobre a relação homem-animal: Manimal (seriado americano da década de 1980), Homem-Aranha, Batman (homem morcego), Mulher-Gato, Homem-Pássaro, Josie e as gatinhas, "O vira" (cantado por Ney Matogrosso), Os Saltimbancos (musical infantil dirigido por Chico Buarque nos anos 1970), Arca de Noé (de Vinícius de Moraes)... Tenho um primo que é especialista em artes cênicas, visuais e musicais. Vou pedir a ele pra elaborar uma lista mais completa desses produtos culturais em que a relação homem-animal está presente e postar aqui no comentário. Até a próxima!

08/02/2007

Mercado Animal e Solidão


Em 1982, quando Eduardo Dussek cantou "Troque seu cachorro por uma criança pobre", na música Rock da Cachorra, de Léo Jaime, ainda não havia acontecido a expansão do mercado de bichos de estimação e de toda parafernália ligada ao cuidado com os bichanos. O sucesso que a música alcançou naquele contexto provavelmente não seria o mesmo se fosse lançada nos dias de hoje. A música que tinha até um certo viés político de denúncia do exagerado cuidado com os animais de estimação, em detrimento de nossas crianças carentes, e cantada em tom bem humorado, provavelmente esbarraria na realidade do mercado: segundo consultores da área de produtos para animais de estimação, estima-se que o mercado de pet cresce cerca de 20% ao ano no país e fatura mais de US$ 1 bilhão por ano. A mesma quantia é movimentada anualmente pelo mercado clandestino de animais silvestres, no chamado tráfico de animais. É, os animais também viraram mercadoria! Este é um ponto interessante para refletirmos
Por que será que o mercado de animais se expande tanto? Poderão existir várias respostas, mas quero me dedicar a um fator, retirado do depoimento de um empresário do ramo de Pet Shops: "No mundo globalizado, o mercado dos bichos de companhia também é sinônimo de lucros".
Esta carência de companhia apontada pelo empresário não se deve à chamada Globalização, mas ao aumento da desconfiança entre nós. Carecemos de cuidados e queremos cuidar. Mas num mundo tão individualista, em que perdemos nossas referências, em que não conhecemos mais ninguém, em que saimos de casa para trabalhar e voltamos à noite sem receber uma manifestação de aprovação, de cuidado, e sem manifestarmos nosso contentamento com alguém, chegar em casa e ser recebido aos beijos, ou melhor, às lambidas e aos latidos ou miados, chega a ser comovente.
Não há dúvidas que os animais de estimação são carinhosos, companheiros etc. Mas a companhia que eles nos fazem é apenas um tipo de companhia, não substitui totalmente a necessidade de "estar com" que o ser humano tem. Tanto não satisfaz plenamente nossa carência de amigos e relações sociais que os mais entusiastas do cuidado com os animais logo começam a tratar os bichos como iguais, como seres humanos: é "meu amor" pra lá, "filhinho" pra cá, longas conversas com os bichinhos (e juram que o bicho está entendendo tudo que está ouvindo!).
Sem dúvida, esse tipo de cuidado exagerado com os bichos expõe a carência e solidão que vivemos nos dias de hoje. Principalmente nos grandes centros urbanos. Mas os lugares menores também são alcançados pelo mesmo sentimento de desconfiança e medo que nos isola um do outro, graças à homogeneização da experiência. (Vou falar melhor disso qualquer dia.)
Aristóteles dizia que o homem é um animal politico, quer dizer, relacional, que precisa desenvolver seu lado social, precisa estar com o outro. Se, como estou afirmando, a companhia dos animais não supre completamente as carências humanas de cuidado e proteção, podemos questionar também pensando pelo lado do animalzinho: será que nossa companhia é suficiente para ele? será que somos tão boa companhia para ele quanto ele é pra nós? Com certeza, as respostas serão negativas.
Desde já quero deixar claro que não sou contra animais de estimação ou que esteja pregando o maus tratos aos animais etc. Minha questão é humanista: por que nos tornamos pessoas tão sós? Por que nos preocupamos e gastamos mais com os bichanos que com nossos semelhantes? E, fundamentalmente, quero afirmar que precisamos de um equilíbrio entre o cuidado com o bicho e o cuidado com o outro (ser humano), sob pena de nos tornarmos ainda mais sós e carentes. Vamos à rua. Vamos cuidar do outro. Mas não espere aceitação imediata, porque não estamos acostumados a isso e desconfiamos de quem o faça.
Para encerrar, quero dizer, em primeira mão, que ingressei (eu e a esposa) com um processo judicial para adoção de menor (ser humano). Estou fazendo a minha parte. A situação dos menores abandonados no Brasil é também um problema social. Mas isto fica para outra oportunidade.

07/02/2007

Bicho-Homem


Quando falei, na última postagem, sobre uma certa tentativa de naturalização da guerra entre os homens a partir da exibição de documentários que retratam a "guerra" no reino animal, quis ressaltar uma ideologia que tenta destruir a possibilidade de cooperação entre os homens. Penso que não há nada que possa justificar o assassinato pela natureza humana. Porque a natureza humana é cultural, ela não existe a priori, ela é construída socialmente, nas nossas relações sociais e nas interações culturais com o(s) outro(s).
Um homicídio é um ato ético, e não natural. E é um conceito jurídico-moral. Mas é claro que existe um distanciamento nosso, dos seres humanos, do ato de reflexão sobre nosso próprio papel no mundo e sobre nossa própria visão de mundo. E talvez este seja um grande problema social. Algumas perguntas básicas para um viver saudável em sociedade não são feitas: Quem sou eu nesta sociedade em que vivo? Por que penso assim e não de outro jeito? Quer dizer, como cheguei a me tornar o que sou? Quais são as minhas características emocionais? Quais são meus pontos fracos? Quais são as minhas virtudes? Em que medida o outro é importante para mim? Como meu comportamento afeta o outro ou a coletividade? Será que afeta para o bem ou para o mal? Será que devo fazer isso ou aquilo? E por aí vai. Perguntas como estas significariam uma "re-flexão", uma auto-crítica, uma possibilidade de auto-conhecimento. Do contrário corremos o risco de embrutecermos, de nos bestializar, nos tornamos como animais.
Só nos conhecendo é que poderemos nos controlar, conter nossos impulsos de intolerância. Quanto mais as pessoas se afastam da reflexão, maior é a probabilidade de emergir a intolerância. Um líder carismático, que leva multidões atrás de si, faz com que seus seguidores se tornem alienados de seu papel no processo histórico e de que eles têm responsabilidades em suas ações. Hitler foi carismático. O resultado já é conhecido.
Quero dizer que a postagem de ontem fez algum sucesso. Recebi vários emails de apoio, a maioria concordando com o que escrevi. Os que acrescentavam uma ou outra coisa diferente do que havia escrito ou não concordavam com algum aspecto, estou tentando incorporar aqui, explicar melhor. Continuarei no mesmo assunto no texto de amanhã e, provavelmente, no de depois de amanhã. Essa bicharada está dando o que falar. Boa reflexão. Até amanhã.
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Obs: Reparem que a pomba, símbolo da paz, está pousada numa poça de sangue.

06/02/2007

Sobre homens e animais


Ontem quando falei de humanização, constatando que ainda existe um sentido humanista na sociedade, com escassez mas existe, pensei no que caracterizaria o homem como humano, e não como animal. Entre alguns fatores, o uso da razão, da racionalidade e do poder de escolha. Os homens são também racionais e os animais, instintivos. Mas já repararam que há uma certa tendência em transformar os animais em sujeitos?
Ontem passei por um canal de TV específico sobre animais e o título do programa era "Matar ou morrer", e o narradaor mostrava as interações entre os animais em seu bioma natural, ressaltando a cadeia alimentar: um animal que é predador do outro é também presa de outro. Ora mas isso é instintivo, é da lei da natureza. Isso não é racional, nem pode ser chamado de assassinato. Homicídio é um fenômeno socio-jurídico. Atribuir aos animais características humanas como violência, vingança, frieza etc., como fazia o narrador, é no mínimo estranho.
O ser humano é o único ser vivo que consegue viver em sociedade sem se auto-destruir. Ou pelo menos, deveria ser, porque nós somos seres racionais e morais. Freud afirma que a cultura foi o meio encontrado pelos humanos para auto-preservação da espécie.
Quero dizer, com tudo isso, que aproximar o "comportamento" animal com o humano parece uma ideologia que serve para justificar a violência entre nós. É como se nós ficássemos mais confortáveis com a violência cotidiana ao saber que os animais também são violentos, que é da natureza dos seres vivos. Como se todo ser vivo fosse só instinto, como se não fossemos diferentes dos bichos. Talvez venha faltando mesmo a razão ao bicho-homem.
Tinha mais coisas a falar sobre este assunto, mas vou deixar pra outro dia.

05/02/2007

Surpresa!


É sempre bom ser surpreendido com notícias boas ou com alguém que demonstra cuidado por você. A gente fica com as esperanças renovadas. Hoje fui surpreendido por alguém de quem não se esperaria muita coisa, seja porque não faz parte do seu círculo social, ou porque no fundo não acreditaríamos que pudesse vir alguma coisa boa dali. Surpresas como esta quebram a gente no meio, retira de nós o descrédito numa sociedade que em geral se afigura cada vez mais egoísta. Nem tudo está perdido, ainda há vida, humanidade, entre nós. Ainda existem pessoas que se preocupam com as outras gratuitamente.
Já estou começando a falar de coisas boas, não é? Até a próxima!

04/02/2007

Intolerância!


Recebi um email de uma pessoa dizendo que tem lido minhas postagens aqui e que tem achado tudo muito sério, meio melancólico. Quero dizer que provavelmente a escrita de uma pessoa, e sua escolha sobre o que e como escrever, varia de acordo com o período de vida dela. Os escritos refletem sim, em alguma medida, o estado de espírito do escritor. Mas não podemos chegar a conclusões definitivas sobre o estado de espírito de uma pessoa apenas lendo algumas de suas idéias.
Outra pergunta que se impõe, ou melhor, que o email que recebi impôs, foi: todo cientista social é "melancólico" assim? A resposta a esta segunda pergunta está totalmente ligada ao meu comentário no final do parágrafo anterior sobre não se tirar conclusões precipitadas a partir apenas de meia dúzia de palavras despretenciosas. Mas a resposta a esta segunda pergunta vai um pouco além, passando pela necessidade que temos, de classificar ("rotular") e universalizar ("generalizar") uma idéia sobre algo ou alguém. Não sei dizer se esta característica de levar as coisas a sério é comum a todo cientista social, ou se é minha em particular. Também não posso dizer que meus escritos, se são sérios demais agora, serão sempre assim. Se meu estado de espírito mudar meus escritos provavelmente não irá mudar também? Então, pode ser que escreva coisas mais alegres um dia desses.
Tenho que admitir que trato com seriedade mesmo a vida, em especial alguns assuntos ligados à nossa vida em sociedade, principalmente os assuntos que eu estudo: desigualdade social, pobreza, acesso à justiça, ensino superior e profissões. Não consigo tratar estes assuntos sem ser com seriedade, com exceção para piadas sobre advogados.
Mas fico grato ao autor do email que permitiu um maior auto-conhecimento, que eu escrevesse estas explicações e que eu pudesse refletir sobre a intolerância nos nossos dias. Falando francamente, este email foi uma aula de intolerância. Afinal, meu blog está apenas se iniciando. Nem houve tempo para que eu escrevesse direito, pois esta é apenas minha oitava postagem. Quem sabe um dia a mais e eu escrevesse coisas alegres?
Não pensem que o sujeito (ou sujeita) que me enviou o email seja mal-educado(a). A intolerância é uma característica dos dias de hoje (e aqui posso generalizar porque se trata de um conhecimento): vivemos numa sociedade consumista (consumir é também destruir), pragmática (tudo deve ter um objetivo prático), imediatista (a ação antecede a reflexão) e hedonista (tudo pelo prazer, que é sempre efêmero). Estas características da nossa sociedade estão em nós, que somos parte da sociedade, e dão as condições necessárias para a reprodução da intolerância nossa de cada dia. A intolerância ganha terreno fácil numa sociedade do "pra ontem", do "pra já", do "agora mesmo". Mas é claro que nós podemos refrear nosso ímpeto intolerante. Dá trabalho, mas podemos.
Acho que cientistas sociais são importantes ainda.

02/02/2007

Separações

Foi mesmo um tempo difícil
Que se afigurou para nós.
Foi uma vida inteira
Que se foi de uma vez.
Foi mesmo uma vida,
Punida pelo que fez.
Sofre a vida,
Sofre com a ida,
Triste partida.
E quem ficou?
Sofre e lida
Com o que passou.
Ela está presente.
Ela foi ausente.
A vida é mesmo esquisita:
Quem já foi, não foi;
Quem nunca foi, se foi.
E foi a vida que pediu.
E foi embora outra vez.
Foi a vida que impediu,
Que fosse embora de uma vez.
Viveu como se não fosse acabar;
Acabou como se não fosse viver.
Não entendeu que da vida,
O que se tira é a vida.
E se nada se tira da vida,
Permanece sem vida:
É como tirar a própria vida.
Espero que a vida lhe ensine.
Se é que quer aprender.