07/02/2007

Bicho-Homem


Quando falei, na última postagem, sobre uma certa tentativa de naturalização da guerra entre os homens a partir da exibição de documentários que retratam a "guerra" no reino animal, quis ressaltar uma ideologia que tenta destruir a possibilidade de cooperação entre os homens. Penso que não há nada que possa justificar o assassinato pela natureza humana. Porque a natureza humana é cultural, ela não existe a priori, ela é construída socialmente, nas nossas relações sociais e nas interações culturais com o(s) outro(s).
Um homicídio é um ato ético, e não natural. E é um conceito jurídico-moral. Mas é claro que existe um distanciamento nosso, dos seres humanos, do ato de reflexão sobre nosso próprio papel no mundo e sobre nossa própria visão de mundo. E talvez este seja um grande problema social. Algumas perguntas básicas para um viver saudável em sociedade não são feitas: Quem sou eu nesta sociedade em que vivo? Por que penso assim e não de outro jeito? Quer dizer, como cheguei a me tornar o que sou? Quais são as minhas características emocionais? Quais são meus pontos fracos? Quais são as minhas virtudes? Em que medida o outro é importante para mim? Como meu comportamento afeta o outro ou a coletividade? Será que afeta para o bem ou para o mal? Será que devo fazer isso ou aquilo? E por aí vai. Perguntas como estas significariam uma "re-flexão", uma auto-crítica, uma possibilidade de auto-conhecimento. Do contrário corremos o risco de embrutecermos, de nos bestializar, nos tornamos como animais.
Só nos conhecendo é que poderemos nos controlar, conter nossos impulsos de intolerância. Quanto mais as pessoas se afastam da reflexão, maior é a probabilidade de emergir a intolerância. Um líder carismático, que leva multidões atrás de si, faz com que seus seguidores se tornem alienados de seu papel no processo histórico e de que eles têm responsabilidades em suas ações. Hitler foi carismático. O resultado já é conhecido.
Quero dizer que a postagem de ontem fez algum sucesso. Recebi vários emails de apoio, a maioria concordando com o que escrevi. Os que acrescentavam uma ou outra coisa diferente do que havia escrito ou não concordavam com algum aspecto, estou tentando incorporar aqui, explicar melhor. Continuarei no mesmo assunto no texto de amanhã e, provavelmente, no de depois de amanhã. Essa bicharada está dando o que falar. Boa reflexão. Até amanhã.
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Obs: Reparem que a pomba, símbolo da paz, está pousada numa poça de sangue.