28/02/2011

Anomeu

Esse ano é meu!
É meu e de quem mais eu quiser.
Não gosto de despedida,
Mas vai viver sua vida!
E agora tenho de ir
Que o bloco já vai sair.
Não há idade pra curtir!

27/02/2011

Não quero mais comer você!

Não quero mais comer você.
Não posso mais comer você!
Você me fez muito mal.
Adorava comer você,
Mas não quero mais.
Sai voando daqui,
Não atormente minha paz.
Vai pousar em outrar mesas,
Alimentar-se em outro lugar.
Vou viver outra vida,
Menos escorregadia e submetida.
E quando tiver outra oportunidade,
Vou agarrá-la.
Na mosca!
Pra não comer sapo.
ҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦҦ
A maldade está na cabeça do homem (e dá mulher)!

26/02/2011

Com que máscara eu vou?

Vou de bom-moço nesse carnaval. Mas me disseram que a máscara tem de ser excepcional, que essa máscara já visto ao natural. E que não convence (nem assusta) mais ninguém. Então, de mim mesmo virei refém. Não consigo ir além.
Acho que vou ficar em casa mesmo.

25/02/2011

Repartir

Tudo isso é muito pra mim, mas não quero dividir. Não tenho tempo, não tenho medo e também não tenho saco, mas não quero repartir. Acho que precisarei re-partir muitas vezes mais, sem dividir. Levo tudo aqui. Vai comigo até meu fim.

24/02/2011

Cobre

Cobre suas maldades com minhas lágrimas.
Transparentes,
Docentes.

E quero ver você pelada;
Quero você melada
Com o mel dourado.

Cobre seus valores em mim.
E vou por aí.

Cobre é metal mole.
Mas não é bronze.
Zinabre sabe,
Mas você não.
Zinabre cobre.
Ó o que se dá!

23/02/2011

Segredos revelados não são mais segredos

Vou contar um segredo pra você.
Mas ninguém pode saber.
Prometa que não vai contar
Que eu começo a falar.
Confio em você.
E como confio em você,
Então, vou dizer.
Confesso que ainda estou preocupado
De contar algo tão inusitado.
Mas vamos lá,
Se alguém não ceder
Como é que se vai conviver?
Estive pensando em você e...
Pensando bem...
Deixa pra lá.
Depois eu conto.
Um dia eu conto.
Ou guardo sob meu manto,
Em algum lugar
Em que nem eu consiga achar.
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.--.-.-.-.
Imagem: "O segredo", de António Galrinho

22/02/2011

Tô aqui

Uma semana só:
Vivo sem briga
E você nem liga.
Por isso, repenso a vida.

21/02/2011

Classificados

Vendo um ciático antigo e ardido ou troco por um momento qualquer, mesmo sem poder. Mas sempre com você. Quer?

20/02/2011

Degradação

Minha moral já se foi,
Meu amor também.
Já não tenho graça,
Não tenho grana,
Nem raiva,
Nem fama.
E vou pedindo pra evitar o fim.
Esse já é meu fim.
Há quem se divirta comigo;
E há quem ria de mim.
E eu me arrasto
Carregando um lastro
De temores castos.

19/02/2011

Ofensa (ou Rota de Fuga)

Não acredito em você.
E vou dizer porquê.
Ou melhor, nem vou dizer.
Afinal, os fins justificam os meios.
Sua história, mentirosa,
Foi uma bela rota de fuga.
E nessa área sou doutor.
E respeito muito as fugas.
E as rugas.
Mas você cometeu um erro primário
Que nunca vou revelar, é claro!
E nem você vai imaginar como descobri.
Já disse pra não subestimar minha inteligência,
Porque isso pra mim é uma ofensa!
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Foto clássica dos companheiros cubanos, com Fidel Castro à frente, marchando em meio à floresta para conquistar o poder na Revolução Cubana.

18/02/2011

Poesia sobre filme sobre poesia

Havia deitado com muitos homens, mas nunca havia sido mulher de ninguém. Projetou o seu amor e seguiu seu coração: de branco atrás do preto. Foi atrás do seu desejo, mas como não ganhou nenhum beijo, quis voltar atrás. Amor proibido estimula a libido, mas esbarra na moral. Ele não fez por mal, mas corrigiu em tempo e abandonou o bento. Encontraram-se no descampado, num lugar desabitado onde se deitaram pelados. E ali, na relva, ela conheceu seu homem. E ele se convenceu de que a cruz era seu castigo, que aplacava sua libido. A partir dali, abriu os olhos e trocou o vestido preto pela preta de vestido. E se despiram muitas vezes mais. E conheceram a felicidade em meio à fuga, em meio à luta, até à morte! Como um golpe de sorte.
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Inspirado no filme "O padre e a moça" (1965), de Joaquim Pedro de Andrade, que por sua vez fora inspirado pelo poema homônimo de Carlos Drumond de Andrade. A poesia acima é uma terceira camada poética, bem mais rasa que as anteriores. Mas nem por isso menos importante. Instigante talvez seja ler a poesia original, assistir o filme (ou, pelo menos, a sequência em que o padre e a moça fogem da cidade) e, depois, reler minha singela contribuição poética. "Ninguém prende aqueles dois, aquele um negro amor de rendas brancas", escreveu Carlos Drumond de Andrade. O filme de Joaquim Pedro de Andrade é auto-biográfico e destoa das demais produções cinematográficas do diretor, que são sempre mais politizadas. Alice Andrade, filha do diretor, conta que "O padre e a moça" foi criticado por tratar de tema considerado banal em vista do cenário de repressão política produzido pela ditadura militar, mas que o filme fora fundamental para que o pai vencesse alguns problemas (traumas) pessoais. Depois desse filme ele se soltou mais, ousou mais em sua produção. O filme seguinte foi o sensacional "Macunaíma" (1969).

17/02/2011

Males, moles e outras coincidências

Há males que vêm pra bem.
Só não se sabe pra quem.

Há moles que vão além.
E há moles também, meu bem.

Há balas que vão e vem.
E outras que fazem bem.

Há malas que não convém.
E as que servem pra ir além.

males que vêm pra bem.
E os que querem neném.

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Imagem: "Branded", Jenny Saville (1992). Para a artista inglesa, corpo é carne, e traz as suas marcas. Apetitoso Interessante, não?

16/02/2011

Idéias claras em noite escura

Está tudo escuro,
É claro!
Mas não temo as trevas,
Nem tremo as pernas.
E sigo convicto de minhas dúvidas;
E duvidando de todas as convicções.
Dormir nos faz antecipar
Ou recapitular;
Nos faz sonhar
Ou chorar.
Às vezes tudo isso junto e mais.

15/02/2011

Desanimado

Minha alma se foi.
E quando a alma vai,
O corpo cai.
Sem alma, não há nada a perder.
Só assim que me sinto.
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A expressão desânimo vem de Des (sem) + Anima (alma).
Mais uma pintura do brilhante Egon Shiele.

14/02/2011

Mentiras, liberdade e igualdade

Construo todas as minhas mentiras, e me prendo a elas, para acreditar que sou livre. E você faz o mesmo. Conclusão: somos iguais.

13/02/2011

Projetar

Projetar projetemente nos projete de projeter, de projetar. Projetor projetar.
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Tradução possível: Projetar frequentemente nos impede de viver, de gozar. Melhor parar.

12/02/2011

Versos dúbios pra fazer pensar no que será

Conta quanto acumulou da vida.
Balança zerada e apagada.
Canto solitário em que se dá a vontade.
Obrigada voluntariedade!
Marca batida que se quer mais:
Marcada na frente e atrás.
Pia e rodopia sem harmonia,
Mas com toda simpatia,
Querendo atenção e comida.
E um dedo pra pousar.

11/02/2011

Acumulação pr'além do capital

Pra quem não quer juntar,
Há quatro opções:
1. Vender, para enriquecer;
2. Alugar, para aguentar;
3. Trocar, para otimizar;
4. Doar, para acumular.
Mas a última é a melhor.
Não há que se negar,
Dar faz transbordar.

10/02/2011

Esmola

Vou tirar as crianças da escola
E colocá-las pra pedir esmola.
Quando o tempo seca,
A vida acaba.
E todos pagam o preço,
Mesmo que sem desejo.

09/02/2011

Boris Grushenko

Numa das cenas engraçadíssimas do filme A última noite de Boris Grushenko, de Woody Allen, ele, conjecturando sobre a sexualidade humana, conta a seguinte piada de advogados: nem todas as pessoas são heterosexuais; há os homosexuais, os bisexuais e aqueles que não pensam em sexo. Estes se tornam advogados. A reflexão aqui é sobre sublimação e perversão.

08/02/2011

Adeus?!

Acho que minha inspiração se foi de vez.
Pelo menos nem me deu a Deus,
Nem adeus.
E me deixou no chão,
Sem nenhuma razão.
Será que vai voltar?
Ah, dúvida!!
Acho que só volto a escrever se ela voltar.
Enquanto isso...
Vou contando os dias.

07/02/2011

Apostasia

Se eu tivesse sido ateu,
Hoje seria judeu.
Mas como fui cristão,
Hoje sou pagão:
Pago mico,
Pago juros,
Pago a língua
E pago o pato.
Estou sempre pagando caro
Por tudo que faço
(e pelo que nem faço);
Por tudo que acho
(e pelo que nem acho);
Por tudo que devo
(e pelo que nem devo).
E vendo minha alma,
Fico leve e grato.
E enfrento os perigos,
Suporto os castigos.
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Imagem: Stencil aplicado em muro de cena clássica do filme Psicose, de Alfred Hitchcock.

06/02/2011

Minha rotina

Hoje já entrei na minha luta dominical.
Não sei até quando elas vão durar.
Se pudesse, pagaria pelo seu fim.
(Esse já é meu fim)
E começaria tudo de novo,
Com mais porrada e variação,
Com mais emoção e menos razão.
Até cansar ou derrubar.
ѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰѰ
Imagem: Cena do filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro de Andrade, feito a partir da obra de Dalton Trevisan. Na cena acima a esposa gargalha da morte do marido, enquanto o filho, comovido, vela o corpo do pai. Pra ela, a morte do velho foi uma libertação de um marido que muitas vezes a espancara e encarcerara em casa. No filme, o marido correspondia metaforicamente à violência de estado realizada pela ditadura militar. A viúva diz que o filho foi o que mais sentiu a morte do pai e que se dedicava a espantar as moscas do defunto. Quem são os filhos da ditadura que não querem deixar o cadáver apodrecer? Que práticas sociais ainda revelam a permanência da ditadura militar até hoje? O que resta da ditadura militar?

05/02/2011

Trabalhar para viver

Não há mais inconsequente que eu: onde já se viu, abandonar a vida em razão da lida? Mas agora recebi meu troco. E vou dar o troco, vou me envolver pra deixar de me envolver.

04/02/2011

Dizer não

Dizer não não é difiícil não.
O difícil é ouvir não.
Se ouvir 'não' é decepção,
Isso complica dizer não.
A dificuldade em dizer não
É que não se quer ouví-lo,
Nem aceitá-lo.
Quer dizer,
Não adianta ofertar
Se não há demanda!
Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø

03/02/2011

Aproveitar já!

Não espero nada do futuro.
Cada momento é único
E rápido.
E cada sentimento, próprio.
Pra que projetar
Se nem dá tempo de aproveitar
O que aqui está,
Se a caminhada vai acabar?
É melhor esquecer o que virá,
Se entregar a passear e gozar.
Não há culpa para quem desfruta o momento.
A culpa está em amargar um expectado sentimento.
Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω Ω ΩΩ
Cena do filme "Acossado", de Jean-Luc Goddard.

02/02/2011

O melhor está com você

Sei o que você tem de melhor.
É o mesmo que já tive um dia,
Alguns dias,
Há poucos dias.
É mesmo o que nunca tive um dia,
Sequer um dia:
Liberdade.
E sei que pra isso não tem idade.
Peço que cuide bem
Do que ninguém tem.
Como se fosse seu.
Cuide como não pude,
Com ternura e sem grude.
Porque não se dá com controle,
Embora não o perca de vista.
Cuide pra sempre.
Brigue quando quiser ir em frente.
Ou atrás.
E mostre que nem tudo é pra sempre,
Que nem tudo é presente.
Porque sua desejada liberdade a fragiliza.
E, consequentemente,
Pode torná-la inconsequente.
Diga que precisa de um maquinista,
Não de um anarquista;
E que pr'além do que se vê,
O melhor está com você.
E sempre estarei.
₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰₰
Dripe, o caso e o caos.

01/02/2011

Porta aberta pra não sair

Abro a porta para as pessoas entrarem
E elas não saem.
Ficam perdidas no meu labirinto.
Nos corredores confusos
Que não projetei.
E vou junto com cada uma delas.
Perdido igual.
Buscando me achar,
Embora sem muito me esforçar.
Mas elas sempre encontram uma saída
E saem antes de mim.
E me deixam aqui.
O jeito é continuar assim:
Tateando, errando, vivendo.
Tentando achar uma entrada para a vida.
Quero fechar a porta mas não consigo.
E quando consigo, não quero.
Estou preso e só.
∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆
Pra quê esclarecer? Quem disse que a confusão é sem razão?