18/02/2011

Poesia sobre filme sobre poesia

Havia deitado com muitos homens, mas nunca havia sido mulher de ninguém. Projetou o seu amor e seguiu seu coração: de branco atrás do preto. Foi atrás do seu desejo, mas como não ganhou nenhum beijo, quis voltar atrás. Amor proibido estimula a libido, mas esbarra na moral. Ele não fez por mal, mas corrigiu em tempo e abandonou o bento. Encontraram-se no descampado, num lugar desabitado onde se deitaram pelados. E ali, na relva, ela conheceu seu homem. E ele se convenceu de que a cruz era seu castigo, que aplacava sua libido. A partir dali, abriu os olhos e trocou o vestido preto pela preta de vestido. E se despiram muitas vezes mais. E conheceram a felicidade em meio à fuga, em meio à luta, até à morte! Como um golpe de sorte.
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Inspirado no filme "O padre e a moça" (1965), de Joaquim Pedro de Andrade, que por sua vez fora inspirado pelo poema homônimo de Carlos Drumond de Andrade. A poesia acima é uma terceira camada poética, bem mais rasa que as anteriores. Mas nem por isso menos importante. Instigante talvez seja ler a poesia original, assistir o filme (ou, pelo menos, a sequência em que o padre e a moça fogem da cidade) e, depois, reler minha singela contribuição poética. "Ninguém prende aqueles dois, aquele um negro amor de rendas brancas", escreveu Carlos Drumond de Andrade. O filme de Joaquim Pedro de Andrade é auto-biográfico e destoa das demais produções cinematográficas do diretor, que são sempre mais politizadas. Alice Andrade, filha do diretor, conta que "O padre e a moça" foi criticado por tratar de tema considerado banal em vista do cenário de repressão política produzido pela ditadura militar, mas que o filme fora fundamental para que o pai vencesse alguns problemas (traumas) pessoais. Depois desse filme ele se soltou mais, ousou mais em sua produção. O filme seguinte foi o sensacional "Macunaíma" (1969).