29/04/2012

Garimpeiras dos amores de suas vidas perdidas

Abre a janela, olha para o céu e observa o passado, espelhado.
Abre a porta, olha para o chão e busca o passado, espalhado.
Há quem faça os dois na busca de uma resposta.
O céu aponta um caminho para as origens da vida.
A terra apresenta um rastro de vidas passadas.
E o deserto nos cerca no meio do nada,
Onde tudo se esconde
E nada se acaba.
Quem olha pra cima vê longe.
Quem olha pra terra, além.
São olhos treinados a olhar e identificar
O que qualquer um não vê.
Vão em busca de vestígios interpretativos,
De elos perdidos.
São mulheres melhores do que deveriam,
Do que poderiam se quisessem,
Gastando suas vidas em favor da humanidade.
Lidando com a desumanidade
Até o fim da vida.
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Poesia inspirada no lindíssimo documentário "Nostalgia da Luz" (2010), que conta a história das mães dos desaparecidos políticos do governo Pinochet, no Chile, em contraposição ao trabalho realizado pelos astronomos no observatório do Atacama. A reflexão proposta pelo filme passa pela nossa capacidade de enxergar longe (astronomia) e dificuldade de enxergar perto (arqueologia). A ditadura chilena tinha um campo de concentração no deserto do Atacama, onde vários presos políticos foram assassinados e enterrados. Como lá não há humidade, os corpos estão naturalmente mumificados. O vento e a poeira do deserto carregam restos mortais de seres humanos e revelam o que era pra permanecer escondido.

28/04/2012

O que não há não dá

Não há amor nessa vida. Só você. E lamento. E espero que as ilusões acabem logo, porque não há verdade, só verdades. E fico com as minhas, querendo você (ou não). E se você não (me) escolher rápido, vai ter que aceitar o que vier.
Mas pra que tanta correria se há pra todo mundo um alguém especial e muitas noites de natal? Por que não espero o final? Porque...
O que não há não dá. Não há ninguém como você.

27/04/2012

Grupos sociais

Há grupos sociais desagrupados,
Desagregados.
E suas forças se esvaem no conflito.

E há você,
Que tem a força de todos nós.
E não teme o que virá.

26/04/2012

Auto-crítica

Vou escrever a um interlocutor indefinido, indeterminado, indiferente. Vou escrever sem parágrafos, como se estivesse diante de meu analista, que só ouve (ou me faz pensar que sim). É preciso saber ouvir e também falar. Às vezes não caibo em mim. E preciso desabafar, suar, chorar, sei lá. Sempre me incomodou me terem por inteligente. Tanto que já me peguei fingindo que não entendia alguma coisa só pra ganhar orelhas de burro, pra ser ridicularizado e excluído. E há coisas que, mesmo inconscientemente, bloqueei a capacidade de compreensão: jogos de cartas, letras de músicas progressivas, mulheres na tpm... Pra essas coisas, pode me chamar de ignorante. Minhas limitações são mais graves que minhas capacidades. Não gosto de estar em meio às multidões. Tenho medo do que está fora de mim e me constrange a agir. Talvez por isso não saiba lidar com pressões. Aliás, não sei lidar é com emoções (nem com as minhas nem com as dos outros). É muita emoção! Por isso, às vezes pareço um bloco de gelo. Embora saiba que não. Troco emoções por tarefas. Às vezes tenho coisas urgentes a realizar e não consigo me concentrar. E paro tudo pra lavar as louças, pendurar as roupas molhadas, varrer a casa, assistir tv e outras superfluidades.  Preciso de prazos alargados e pessoas pacientes dos meus lados. Gosto de móveis porque, apesar do nome, são imóveis até que alguém os arraste. E se parecem comigo: duros quando imobilizados e frágeis quando arrastados por aí. Não há móveis que resistam a muitas mudanças. E desmontar-se é seu fim. Desmonte de mim! Fujo o quanto posso de acelerações: nunca fui numa montanha-russa, nem brinquei de roleta russa. Gosto de perder tempo. Idealizo o passado, vivo no (meu) frágil presente fechado (mesmo que acompanhado) e mato o futuro sempre que posso. Evito planejar porque sei que não vou executar, e o quanto vou sofrer por isso. E sofro mais por saber que decepcionei alguém que esperava o idealizado, que nunca acreditei. Sei ser sensível e apoiar, mas não me apoio em ninguém porque temo não estar seguro e cair. E se não conseguir ir, não vou. Empaco e desisto! E sinto que se não sou desse jeito, começo a implodir, a me destruir. E a infelicidade logo se estampa em meu rosto. Em geral fico feliz com o bem dos outros. Mas não quando esse bem sou eu. Porque não posso fazer a alguém o bem que não consigo a mim. E pra evitar a pressão pela inerente decepção, vou saindo à francesa. E aguento firme a dor que causo. Sou capaz de aguentar muitas vidas, como num game. Se só o violentado lembra da violência sofrida, todas as fugas que realizo são uma forma de violência a mim mesmo. Sofro a violência que pratico. Tanto que sei cada dor que causei, em quem e porquê. Mesmo sem conseguir resolver, sem saber fazer de outro modo. E esse conhecimento me tortura todos os dias em busca de um perdão que não dou. Definitivamente, não sou inteligente. Se fosse, faria diferente. Sou só mais um. E isso me liberta.
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Uma música que caberia muito bem aqui é "Tem que acontecer", de Sérgio Sampaio, cantada por Zeca Baleiro. Não dou conta de tantas emoções porque "sou apenas um compositor popular"! http://www.youtube.com/watch?v=jO5hO3XfyIg&feature=player_detailpage

24/04/2012

Fumaça nos olhos dos outros somos nós

Vulcão de lava incandecente,
Cheio de força e quentura.
Nada para você é suficiente.
Nada para você.
Só eu.
Você é fogo.
Eu, água.
Nosso encontro,
Fumaça!

23/04/2012

Partir

Reconheço o mal que fiz sem saber.
Mesmo sem querer.
Afinal é humano também não querer.
É humano se esconder.
E sei que a dor faz parte da vida,
E o quanto a vida já é dolorida.
Mas sei onde errei.
Errei ao tratá-la como parte de mim.
Todo mundo tem uma pendência a realizar.
Também sou parte do mundo,
Como a maior parte.
Mas se você acha que é melhor,
Que pra você foi pior...
Sempre será assim,
Pior pra você.

22/04/2012

A morada do mal sentida na pele

Mora mal quem não consegue sair de casa,
Abrigo inviolável do ser.
Quem tem que conviver com mazelas impostas,
Vindas de fora.
Às vezes sentimos na pele o mal que nos rodeia.
E não conseguimos sair.
A liberdade passa a ser um sentido.
E a memória tortura.
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Inspirado no filme "A pele em que habito" (2011), de Pedro Almodovar.

21/04/2012

Amar é libertar

Quando você me ama,
Você não se controla.
Você não me controla
(E nem eu)!
Quando você me ama
Eu também.
Quem ama
Se ama também
E ama tão bem!...
Sem ser bem.
Preciso da sua libertação
Pra minha liberação,
Pra amar você.
E a cada mês,
A cada vez,
Que quiser me cercar,
Pense no sentido de amar.
Enquanto a aliança
Não for pautada na confiança,
Não existirá amor.
O laço que nos une precisa ser mais que amarra.
Precisa ser soltura,
Saudade!

20/04/2012

Filhos juntos e nós em cima

Pega seu filho,
E vem passear comigo.
Podemos ser amigos,
Pelo menos aos domingos.
E contar os dias
Sem amarguras,
Com travessuras.
Atravessando um ao outro com prazer
De conhecer o que ficou
Atrás da verdade.

19/04/2012

Timidez

Escrevi uma poesia pra você.
Mas estou com vergonha de ler.
Vou contar até dez,
Vencer a timidez
E falar de uma vez:
Um, dois, três...
Acho que não será dessa vez.
Vou deixar pra sussurrar pra você.
Mas se não encontrar você em algum lugar,
Dentro de mim estará.
É só rememorar:
Fecho os olhos e vejo
A cena do filme
Que nunca assistimos,
Que vivemos.

18/04/2012

Achar/perder você

Nem sempre é preciso sair pra (se) encontrar;
Nem sempre é possível melhorar.
Nem sempre é possível encontrar pra (se) perder;
Nem sempre é preciso o saber.
São pensamentos perdidos querendo encontrar
Uma razão para saber de você,
Causa do meu mal-dizer,
Que suporto dia-dia
Pra sucumbir no prazer
De (querer) viver (e morrer) com você.

17/04/2012

Arudatid!

Vejo sua boca e penso nas nossas juntas,
Nos corpos deitados,
Lado a lado.
(Por todos os lados)
Jogados ao chão,
Com muito prazer
Por abater.
Até desaparecer
A culpa que nos fez nascer
E aparecer
As marcas marcadas,
Mesmo sem querer.
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O título da poesia é pra fazer alusão a um carro com uma palavra escrita ao contrário sobre o capô, que é pra ser lida pelo retrovisor do carro e pra que quem estiver na frente saia imediatamente. Se você estivesse na frente fugiria ou deixaria passar? Se há uma terceira opção? Só pensar!

16/04/2012

Você sabe quando precisa ir mas não vai (acreditar)

Dou pra você o resto do meu tempo,
Que nem é meu;
Dou pra você o pior de mim:
Dedico meu ódio e minha insensibilidade,
Toda minha insanidade,
A salvar você de mim.
Mas você não quer ir.

Quando faço o bem,
Faço mal,
Não deixo sair.
Uso correntes de ferro
Pra prender o meu amor.
Aplico pequenas sessões de bem
Pra transformá-la em meu bem.

Mas pra você não resta nada,
Só lamento!

15/04/2012

A(pro)fundamento

Mergulhado em profunda melancolia
Desço tão fundo
Que me aprofundo nos mistérios da alma,
Mesmo sem muita calma.
Já me falta ar,
Numa mesa de bar.
Mas desejo, não;
Pra minha salvação!
Preciso voltar à tona
Sem nenhuma maldade.
Pra morrer de saudade!
Onde quer que vá,
Vou te levar.
Só!

14/04/2012

Vinho

O vinho não me faz mais doido,
Não me faz mais vivo,
Nem diminui minhas saudades.
Só não tenho mais saudades que orgulho.
E o vinho me faz aguentar
O que não aguento mais.
E dormir parece ser a grande redenção no final de mais um dia.
Quem sabe amanhã será outro?
Um dia...
Um dia vou conhecer essa vinha,
Que vinha comigo e não a tinha.
Quem sabe um dia!...

13/04/2012

Quand la pensée n'est pas assez

Les mots déversées
Dans la pensée,
Ne sont pas assez pour changer la réalité.
Nous avons besoin de plus de courage.
Et d'ignorer les conséquences!
Anarchie!

12/04/2012

Racismo

Vai temer a pele?
E não sabe que a cultura o impele?
Fazer da aparência a sua decência
É mesmo muita incoerência.
E sigo assustado com o resultado!

11/04/2012

Despedida

De que adiantou juntar?
O que fora guardado se foi,
Espalhou-se os corpos e as memórias.
Saudades tem quem fica.
E quem vai...
Pra onde?
Por que?

De que adiantou jantar,
Se a fome nos devorou de vez.
De uma vez pra sempre.
Se eu pudesse voltar,
Iria juntar só pra espalhar,
Só pra espelhar
O caos que nos rodeia nesse momento.


Quem foi feliz que se alegre.
E quem não foi, que seja.
Eu fui!

10/04/2012

Artistas

Artistas são como crianças:
Vivem buscando quem lhes passe a mão na cabeça.
Há uma sensibilidade sentida
Na arte produzida.
E se não se lhe dá o que pede,
Tudo se perde.
Crianças são sensíveis,
Mas não são artistas.
A arte delas é outra!
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A primeira frase desse poemito foi tirada do filme "Meia-Noite em Paris" (2011)

09/04/2012

Meia-noite sem medos e com muitos desejos (realizados)

Meia-noite em Paris,
E eu aqui?!
Fujo do presente,
Mas ele vem atrás de mim.
E não sei onde vou parar.
Abro o presente com um grito e uma marretada
E liberto o passado enclausurado em meus sonhos.
Evito mexer no presente de Deus.
Por isso, nem o procuro.
E ele não vem me ver.
Nem eu me vejo aqui,
Nesse tempo estranho,
Que me entranha com entremeios embalados à vácuo.
Quero mais que enlatados,
Quero a vivência da experiência compartilhada
Com gente inteligente (e que, por isso, se faz bonita),
Na cadência de uma batida (cardíaca) sentida (ouvida)
Em qualquer tempo,
Em todo lugar.
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Olá, meus amigos desconhecidos!
Vocês são parte de mim.
E nem sabem.
E se não existissem...
Estariam por aqui,
Em algum lugar.
Às vezes ser é mais do que saber ser,
É só viver,
Mesmo sem sentido,
Só pra dar sentido a um outro desconhecido
Que sou.

08/04/2012

Ciganos sigamos!

"Seremos livres quando sairmos daqui e ninguém souber onde estamos!" - trecho de uma das falas do filme "Liberté" (Korkoro, 2009).

Já tentaram guardar ciganos em recinto de pedra,
Com janelas de madeiras
E ideologias de vento em sopa.
Mas não se mantém errantes embalsamados.
Ciganos são nômades,
Sem nomes,
Nem dinheiros.
Mas são ricos,
Identificados (e identificáveis)
E parados no tempo.
Tocam a vida como uma rabeca,
Pulando nos calcanhares,
Cheios de olhares,
Cantorias,
Alegrias
E fantasias (realizáveis).
Rostos rotos,
Corpos encorpados (e desengonçados)
E múltiplos coloridos.
Sem vergonhas,
Sem destinos,
Sem limites...
Não há um,
Só o uno coletivo.
Não há barreiras,
Nem bandeiras.
Não há Estado que não seja de graça.
Não há leis,
Nem reis,
Só direitos,
Naturalmente vivos.
Nada nos faz mal.
Só a solidão
E a prisão.
Mas enquanto tivermos pés,
Haverá caminhos (pra sonhar).
A estrada é nossa casa!
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Poesia escrita após assistir ao filme Liberté (Korkoro, 2009).

07/04/2012

Passado que não passa de presente (de grego)

O passado vai nos matar,Se a gente parar de sonhar.
E nem precisa realizar,
O que queria,
Quem gostaria.
Só ficar e sonhar
Que tudo vai melhorar.
Mas pra curar,
Tem de encurralar,
Extrair o mal que se encarna no presente,
Ressentindo o passado
E impedindo o futuro de chegar.
Não há perdão sem (re)conhecimento,
Sem tormento.
Hoje eu quero a verdade.
Só hoje!
E deixo o amanhã cuidar de si.
Onde quer que vá.
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Inspirado pelo filme "A morte e a donzela" (Death and the maiden, 1994), de Roman Polanski.
Imagem: Tela de Egon Schiele (Death and the maiden, 1915).

06/04/2012

Algumas mentiras não se pode contar

Algumas mentiras não se pode contar.
Porque faltam dados;
Porque faltam dedos.
Pode-se fingir que não se ouviu
Ou que não se viu.
Mas quando olho nos olhos...
Eles entregam você.
Não se pode fingir com os olhos!

05/04/2012

Olhar e arrancar (pedaços de você)!

Olho você e me vejo, inteiramente dentro.
Prazerosamente abro os olhos pra ver os seus fechados.
E o sorriso alargado.
Vivo por você.
Morro acima de tudo com você.

04/04/2012

Necessidades e vontades

Há necessidades prementes
E vontades emergentes.
Há o que se precisa
E o que se quer.
E nem sempre há coincidências.
Às vezes só discordâncias.
Mas a vontade sempre se dá melhor.

03/04/2012

Eu-malfeitor do bem que me espera

Não há malfeitor que se limite a fazer mal.
Ele faz bem o mal.
Até os malvados tem seus desejos,
Temores
E virtudes.
Espero também fazer o bem
Com meu bem.

02/04/2012

Porcada!

Sou porco.
Sou corpo,
Sem alma.
Mas com toda calma
Busco me encontrar,
Sem saber onde vou dar.
Só olho o presente.
(E isso não é deprimente!)
Vou lambendo seu chão
E usando meu olfato
Pra sentir seu cheiro em algum mato.
Pra passar o passado (a limpo)
E sair do limbo
Que hoje suja a minha mente.
E deixa meu corpo doente.
Vou cagando todo caminho,
E sigo para o meu cantinho,
Pra você me achar,
Pra conseguirmos voltar
A um lugar movediço
Que nos refresque e revigore.
Quero me atolar com você,
Sem saber,
Por cada dia.

01/04/2012

Instabilidade emocional

Tenho medo dessa sua instabilidade mensal;
De sua variação hormonal.
Num dia você me elogia e diz que sente saudades;
Noutro, só fala verdades.
E tenho que me calar
Pra não brigar.
E faço isso sem aceitar em mim o seu furor,
Duvidando muito do seu amor.
Mas sigo constrito,
Sigo constante
Até o fim.
Mas vai passar,
Por cima de mim.