29/04/2012

Garimpeiras dos amores de suas vidas perdidas

Abre a janela, olha para o céu e observa o passado, espelhado.
Abre a porta, olha para o chão e busca o passado, espalhado.
Há quem faça os dois na busca de uma resposta.
O céu aponta um caminho para as origens da vida.
A terra apresenta um rastro de vidas passadas.
E o deserto nos cerca no meio do nada,
Onde tudo se esconde
E nada se acaba.
Quem olha pra cima vê longe.
Quem olha pra terra, além.
São olhos treinados a olhar e identificar
O que qualquer um não vê.
Vão em busca de vestígios interpretativos,
De elos perdidos.
São mulheres melhores do que deveriam,
Do que poderiam se quisessem,
Gastando suas vidas em favor da humanidade.
Lidando com a desumanidade
Até o fim da vida.
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Poesia inspirada no lindíssimo documentário "Nostalgia da Luz" (2010), que conta a história das mães dos desaparecidos políticos do governo Pinochet, no Chile, em contraposição ao trabalho realizado pelos astronomos no observatório do Atacama. A reflexão proposta pelo filme passa pela nossa capacidade de enxergar longe (astronomia) e dificuldade de enxergar perto (arqueologia). A ditadura chilena tinha um campo de concentração no deserto do Atacama, onde vários presos políticos foram assassinados e enterrados. Como lá não há humidade, os corpos estão naturalmente mumificados. O vento e a poeira do deserto carregam restos mortais de seres humanos e revelam o que era pra permanecer escondido.