26/04/2012

Auto-crítica

Vou escrever a um interlocutor indefinido, indeterminado, indiferente. Vou escrever sem parágrafos, como se estivesse diante de meu analista, que só ouve (ou me faz pensar que sim). É preciso saber ouvir e também falar. Às vezes não caibo em mim. E preciso desabafar, suar, chorar, sei lá. Sempre me incomodou me terem por inteligente. Tanto que já me peguei fingindo que não entendia alguma coisa só pra ganhar orelhas de burro, pra ser ridicularizado e excluído. E há coisas que, mesmo inconscientemente, bloqueei a capacidade de compreensão: jogos de cartas, letras de músicas progressivas, mulheres na tpm... Pra essas coisas, pode me chamar de ignorante. Minhas limitações são mais graves que minhas capacidades. Não gosto de estar em meio às multidões. Tenho medo do que está fora de mim e me constrange a agir. Talvez por isso não saiba lidar com pressões. Aliás, não sei lidar é com emoções (nem com as minhas nem com as dos outros). É muita emoção! Por isso, às vezes pareço um bloco de gelo. Embora saiba que não. Troco emoções por tarefas. Às vezes tenho coisas urgentes a realizar e não consigo me concentrar. E paro tudo pra lavar as louças, pendurar as roupas molhadas, varrer a casa, assistir tv e outras superfluidades.  Preciso de prazos alargados e pessoas pacientes dos meus lados. Gosto de móveis porque, apesar do nome, são imóveis até que alguém os arraste. E se parecem comigo: duros quando imobilizados e frágeis quando arrastados por aí. Não há móveis que resistam a muitas mudanças. E desmontar-se é seu fim. Desmonte de mim! Fujo o quanto posso de acelerações: nunca fui numa montanha-russa, nem brinquei de roleta russa. Gosto de perder tempo. Idealizo o passado, vivo no (meu) frágil presente fechado (mesmo que acompanhado) e mato o futuro sempre que posso. Evito planejar porque sei que não vou executar, e o quanto vou sofrer por isso. E sofro mais por saber que decepcionei alguém que esperava o idealizado, que nunca acreditei. Sei ser sensível e apoiar, mas não me apoio em ninguém porque temo não estar seguro e cair. E se não conseguir ir, não vou. Empaco e desisto! E sinto que se não sou desse jeito, começo a implodir, a me destruir. E a infelicidade logo se estampa em meu rosto. Em geral fico feliz com o bem dos outros. Mas não quando esse bem sou eu. Porque não posso fazer a alguém o bem que não consigo a mim. E pra evitar a pressão pela inerente decepção, vou saindo à francesa. E aguento firme a dor que causo. Sou capaz de aguentar muitas vidas, como num game. Se só o violentado lembra da violência sofrida, todas as fugas que realizo são uma forma de violência a mim mesmo. Sofro a violência que pratico. Tanto que sei cada dor que causei, em quem e porquê. Mesmo sem conseguir resolver, sem saber fazer de outro modo. E esse conhecimento me tortura todos os dias em busca de um perdão que não dou. Definitivamente, não sou inteligente. Se fosse, faria diferente. Sou só mais um. E isso me liberta.
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Uma música que caberia muito bem aqui é "Tem que acontecer", de Sérgio Sampaio, cantada por Zeca Baleiro. Não dou conta de tantas emoções porque "sou apenas um compositor popular"! http://www.youtube.com/watch?v=jO5hO3XfyIg&feature=player_detailpage