30/11/2013

Voa!

Vi você chegar;
Olhos famintos,
Pés resignados,
Braços cruzados...
Vi você se soltar,
Voar.

29/11/2013

Sonhar voar

Subi no muro e avistei a cidade.
Desisti e desci:
As luzes ofuscaram meu olhar.
E nem sei para que serve viver,
Se é possível projetar,
Meu bem,
O mal
Que reside em nós,
Em querer
Sonhar.

28/11/2013

Avassaladora

Avassaladora mente
Com quatro pedras,
Dois paus
E uma enorme vontade
De chegar ao fim.
Está aí.

27/11/2013

Fim

O maior fim é o chão.
Para lá todos vão.
Eu que nunca tirei os pés daqui...
Não paro de saber
O que é o fim.

26/11/2013

Era tudo ilusão. É.

Era dona da vida,
Dona da casa,
Dona das crias,
Do homem,
Do carro...
Era dona de tudo.
Era dona,
Era nada.
Era.

25/11/2013

Segurança

Quer segurança?
Compre um capacete,
Use um colete,
Uma boia na cintura...
Veste tudo.
E sai às ruas,
Todos os dias,
Andando de lado,
Com um ar apavorado.
E reza para chegar em casa
E encontrar tudo no lugar.
E vive cada dia assim.
Todos os dias assim.
Se quer ordem,
Tem de se submeter às ordens.
E sorrir.
Mas se quer rir,
Goza na (des)ordem natural:
Tudo desmancha na nossa frente,
Mesmo que não se veja.
A ordem é o caos!

24/11/2013

A guarda aguarda perto da porta. Ela continua fechada na fachada.

Guarda essa porta
Senão vou embora.
Repara os buracos,
As fendas
E os descascados de nós.
E pensa na sorte
Dela estar fechada,
Na beleza dessa fachada
De nós dois!
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11/11/11 : um atrás do outro três vezes

23/11/2013

Negras vidas

Negra vida.
Em vívida lembrança
Deixada para mim,
Como de uma vez
Deixou a melancolia a euforia,
E viveram só
Uma aventura poética,
Erótica,
Mundana...
Apartada,
Separadas por um tempo,
Porque espaços nunca separam ninguém.
Mas ainda vivem lado a lado,
Uma atrás da outra.
Mas sem perseguição.
Uma dentro da outra,
Mas sem pressão.
São amigas amantes
Dos tempos errantes
Que não voltam mais,
Voltam melhores.
E os dias que se vão
Serão superados pelos que se dão,
Sem falsos amores.
Só amores,
Sem pudores nem temores.
E muitas saudades!

22/11/2013

Caranguejos, fujamos!

Vamos fugir,
O quanto antes,
Porque a lua está cheia
De más intenções,
E a cata,
Proibida.
Vamos preservar nossa espécie
Das bocas vorazes,
Que só querem nos chupar.
E que a lama se conserve íntegra
Em nós.
E nos conserve.
Caranguejos, fujamos!
Para nossa sobrevivência.

21/11/2013

Bicicleta vazia não para em pé. Coração não para só.

Há um coração vazio
Em algum lugar.
Não sei precisar.
Mas quando encontrar alguém
Assim,
Estará além
De mim.
Porque não consigo depender
Do coração palpitante,
No tocante ao querer;
Nem viver a depender
De outro batimento,
De algum complemento,
Que tem sua própria cadência,
Sua própria demência.
Assim, só sou.
E rezo na cartilha da razão,
Meu coração.
...............................................................................
Essa poesia foi originariamente chamada de "O coração errante adora um berrante". Mas depois, na hora de digitá-la, resolvi rebatizá-la. Fique com o nome que quiser. Mas com a pessoa também.

20/11/2013

A baba doce desce a barba boba

Se minha barba chegar ao peito,
Não tem jeito,
Estou com defeito,
Não há mais coração,
Só cacos de afetos.
São(s) efeitos
De uma cabeça fértil
E um coração estéril.

19/11/2013

Pele, carne, sangue, alma e... Só!

Nosso lance deixou de ser
Uma coisa de pele,
Epiderme,
E desceu à carne.
E contaminou o sangue,
E apodreceu os ossos
E esvaiu a alma.
Deixou de ser sentido
E passou a ser "sentido!"
De lado a lado.
Continuo vegetariano.
E só.

18/11/2013

Verde musgo

Olha esse verde esmeralda!
Verde fechado,
Pra correr.
Uma floresta ao meu redor
Sem nenhum animal
Além de mim.
Esse verde me descansa,
Isso tudo me cansa.
......... . .. ...... . .. . .....................
nov/2011

17/11/2013

O presente não é da gente

Não há futuro.
E você
Que se acha gostosa
E não sabe curtir o seu presente,
A não ser de forma reticente,
Não imagina o mal que virá,
E o bem que ele trará:
Conformar-se.
Formar-se com
O seu amor,
Na fôrma resignada do nada
A declarar
Poesias que se apagam,
Profecias que se apegam...
E o todo dia a ensinará
Que só se tem o que se faz
Com lutas no caminho...
E olhos fechados,
Que é pra não enjoar.
Tudo mais cairá (por terra)!

16/11/2013

Ela vai andando

Ela vai andando por aí,
Atrás de mim,
Através de nós,
Sem achar nada ruim,
Sem se achar.

15/11/2013

Canela

Não sou flor
Que se cheire,
Que se amasse
Sem se machucar.
Aliás, flor quase não há
Que se aproxime de mim.
Mas não me falta aroma
Que saem dos espinhos
Quando se quebram.
Se se quebram.
Então, a sorte de me encontrar
É poder
Se ferir.
Para sentir,
Em si,
Meu cheiro.
Sou pau seco de canela.

14/11/2013

Em busca da paz

Há um pedaço de você
No meu (mau) caminho.
Há o que procurar
Mesmo sem se achar perdido.
Leva as pedras do caminho.
Mais à frente você vai precisar,
Para erguer uma morada
Ou para resistir à brigada.
E deite e role no seu chão pueril,
Lave as feridas com creolina
E leve-as consigo.
E depois cubra-se de mel.
A doçura da vida
Não está na falta de dor,
Mas em poder provar,
Compartilhar, amor!
E se deixar experimentar
Por quem encontrar
(Paz em você).

13/11/2013

Buscando o equilíbrio

Busco compreender o que não busquei,
E nunca sei
O que se passa,
A quem se mata...
E se não ligo para o outro,
Ele liga pra mim;
Mais do que deveria,
Menos do que gostaria.
E se há equilíbrios
É porque tudo é maior do que nós.
Sigamos sós,
Em meio à multidão
De desejos.
Buscando o equilíbrio.

11/11/2013

Almas contra armas

Masca o tiro,
Engole a bala (de borracha),
Cheira o gás do choro,
Morde a pimenta líquida
E fortalece a carcaça.
Para resistir ao carcará,
Esse estado
De coisas débeis
E mórbidas,
Que mortifica a cidadania
Em nome da ordem
De natureza morta
E enterrada
Em denúncias e contrassensos.

10/11/2013

Não há sentimentos mentirosos

E quando os olhos se fecham,
Um mundo novo se abre.
E se enchem de alegrias,
E fantasias os dias.
E nenhum de nós será capaz de viver
Fora desse mundo;
Ninguém poderá desmentir
Se sentir.
Como sentimos,
Juntos,
Tantos sentimentos
Findos.
Sinto muito!

09/11/2013

Não sou o que não quero ser

Não sou mais que um poeta.
E todo o resto é mito,
Tenho dito.
É estória pra quem quiser ouvir,
Pra boi dormir.
Mas quem quiser viver...
Terá que decidir
A que domínio quer servir:
Do bem-querer
Ou do maldizer.
Feche os ouvidos,
Feche os olhos,
Feche a boca...
E abre seu coração.
Até sangrar seu gozo
Mais viscoso,
Derretido da vela
Que você segura
No calor da sua mão,
Impura!
E deixa pingar.
Deixa pingar.
Até ser consumida inteira
Pelo prazer
De brincar com fogo.
E renovada suspende
Sua moral.
Tudo isso é energia.
E tudo o mais é sombra
Da lua em nós.
Volta no próximo ciclo,
Com muita força
De vontade.
E nunca terá fim.
..........................................................    ....   ...... . . . ... .. . ...... ..   ..
Foto de um texto do Leminski. Indicação de uma amiga que se foi.

08/11/2013

Fúria

Hoje estou furioso.
E porque não deveria estar
Se acordei com você em cima de mim,
Pegando no meu pé
E largando sua mão no meu pescoço?
Vou bater boca com você,
Para você apanhar os cacos de nós
E remendar meu bem
Fazer...
Não quero mais saber,
Só quero você!

07/11/2013

Amigo que se foi um dia só

Meu amigo se foi,
Tombou como a perimetral.
Levou suas marcas
Para longe dos meus olhos.
E não deixou saudade,
Mas levou.
E continuará levando
Enquanto não mudar de vez,
Porque ele quer ser sempre o primeiro.
E nunca o último.
Saber perder é para poucos,
E vencer é só
Ilusão.

06/11/2013

O fim e o começo (das reações)

Você já se foi
E as aftas vêm me ver.
Não há mais o que esperar além
Do fim das ilusões e...
Do início das caspas.

05/11/2013

Desaparecer no fim (do dia) é uma catástrofe

É só você aparecer
Para eu desaparecer:
Quando você chega,
Eu digo chega!
E se me vem a saudade,
Me vai o juízo.
E alguns trocados.
Ninguém dorme na esteira porque quer.
E quem se encontra perdido
Não sabe ler nem uma placa, nem um aviso.
E a catástrofe parece inexorável,
Enquanto os olhos estiverem abertos.

04/11/2013

O óbvio é o que não se vê, é perecer

Escorre a matança (diária)
Que ninguém vê,
Sem ninguém ser
Feliz.
E o contorno da vida parece ser
O vazio,
O perecer.

03/11/2013

Cresce o fim

O fim do mundo é aqui,
Todo dia.
E quem não sabe
Não teme perder a vida,
Nem a honra.
Mas quanto mais se sabe o que acontece,
Mais se vê
O fim de tudo,
Todo dia.
Até que, enfim, chegue.
Porque o que se vê de longe
Um dia cresce
Diante de nossos olhos.
E nos cega,
E nos mata
Adentro.

02/11/2013

Memória

É preciso lembrar (de matar) o que está vivo.
Porque viver é esquecer (o que está morto)!

01/11/2013

Deixa pra lá e fica, assim como a saudade

E se não falássemos,
Se nos calássemos?...
E se só nos amássemos,
Com intensidade
E olhos fechados?...
Ah, se voltássemos
Ao tempo das batidas
E do samba!...
Onde estaria a saudade?
Deixa ela ficar!