Tenho andado bastante atarefado na execução de minha tese de doutorado, razão pela qual este blog anda meio desatualizado. São muitas leituras, anotações, rasuras e muitos, mas muitos pensamentos que vem e vão na tentativa de fechar alguns aspectos que ainda estão em fase de amadurecimento. Confesso que é difícil realizar as tarefas do dia-a-dia sem perder de vista o contexto social em que vivemos e a capacidade de reflexão, de crítica e auto-crítica. Mas essa dificuldade pode ser vencida com um pouco de disciplina própria. A reflexão tem de se tornar também uma tarefa cotidiana que precisa ser realizada. Basta eleger a reflexão sobre o mundo da vida e sobre nosso papel neste mundo da vida como prioridades. Reflexão sobre as crises pelas quais passamos como sociedade e como indivíduos. E crise não é sinônimo de algo ruim, pode indicar um processo de mudança, por exemplo. Toda mudança, por menor que seja, gera alguma crise.
A reflexão, que significa também auto-reflexão, deve ser uma de nossas prioridades de todo o dia. Diariamente passamos por experiências que nos dão a possibilidade do exercício da reflexão. Acontece que muitas vezes não aproveitamos essas oportunidades.
Para quem não sabe, o exercício da reflexão é o exercício da compreensão. E o exercício da compreensão só poderá ser feito com o levantamento de questões que possam nos ajudar a entender ou interpretar certas situações que passamos. Não se deve querer com a reflexão encontrar respostas, mas apontar possibilidades de compreensão de nossas crises sociais e individuais. Algumas de nossas crises individuais são sociais. E carregamos sozinhos o peso de uma crise que achamos que é só nossa porque não realizamos o exercício cotidiano de olhar para fora, de olhar para os lados, e de perceber que passamos por crises tão comuns na sociedade em que vivemos. Outras vezes diminuimos nossa responsabilidade pessoal em relação a uma determinada crise porque a entendemos como social. Mas nem sempre somos iguais, não é? Às vezes nos metemos em crises pessoais mesmo, damos vida aos nossos maiores defeitos.
A reflexão é essa tarefa de olhar para dentro e para fora ao mesmo tempo, de sondar nossas próprias intenções e compreender as atitudes alheias. As tarefas cotidianas tendem a nos tirar da prática da reflexão sim. Mas às vezes apenas justificamos a nossa alienação, a nossa não tomada de consciência sobre o mundo e sobre nosso papel no mundo, com o excesso de atividades. Pode haver reflexão mesmo em meio às atividades diárias. Aliás, a reflexão deve ser também uma atividade diária. Mas não há, nem pode haver, reflexão sem humildade. Humildade para reconhecer que tenho problemas. Humildade para entender que sou parte de uma sociedade, que o mundo não gira em torno de mim.