06/11/2007

Escrita objetiva


Alguém me perguntou por quê eu escrevo coisas importantes em forma de poesia em vez de escrever textos mais elaborados. A pessoa que me perguntou julgou que as coisas sobre as quais escrevo sejam "importantes". E, sinceramente, isso me deixou satisfeito porque também as considero "importantes". Tento com meus escritos mostrar que situações e atitudes aparentemente banais podem estar estruturadas em nossa personalidade ou em nossas relações sociais, para o bem ou para o mal. Aquilo que aparece como individualidade pode ser uma expressão do social: quando olhamos para os lados e para trás e tentamos situar nossas vidas em meio a outras vidas, descobrimos que somos parecidos, que temos as mesmas expectativas e dificuldades. Ora se temos tanta semelhança, isso parece indicar que nossas ações e pensamentos sejam mesmo socialmente condicionados. Mas apesar das semelhanças que nos aproxima, o cotidiano nos separa mais que nos aproxima. Isso se deve à individualização excessiva da vida: somos bombardeados o tempo todo por ideologias individualizantes de consumo e estilo de vida e vivemos como se estivéssemos sós, como se precisássemos resolver sozinhos nossos problemas, como se nossas crises fossem únicas, tão diferentes das dos outros. Acabamos mesmo nos tornando sós. Mas quando fazemos o exercício de nos comparar com outras pessoas e experiências, podemos concluir que há muito em comum em nossas escolhas e angústias. E que, portanto, deveríamos nos aproximar mais, compartilhar mais, nos ajudar mais. Nossos problemas individuais são também sociais, fruto de formações, socializações e desafios que são comuns a todos nós que vivemos numa mesma sociedade e um mesmo tempo histórico.
Mas voltemos objetivamente à questão que deu origem a essa postagem: por quê escrevo poesia em vez de textos como este? Vou ser direto agora: porque as gerações atuais, que são meu público-alvo, não se dedicam à leitura. São tantos textos disponíveis em todo lugar (e até imagens podem ser lidas como texto) que um texto longo corre o risco de ser mais um texto, e talvez seja mesmo. A geração MTV e internet não quer gastar tempo lendo longos textos, ainda mais de desconhecidos, que ao final possa dar a sensação de que foi tempo perdido. Para tentar alcançar com maior eficiência esta geração, fazendo-a refletir após a leitura de um texto meu, prefiro escrever textos curtos, mesmo que isso implique numa perda de profundidade do texto. Confio na capacidade intelectual dos leitores e aposto na iniciativa deles de aprofundar algumas questões levantadas. Ademais, os textos escritos com objetividade e clareza servem como complementação às discussões conduzidas por mim em sala de aula.
Boas leituras! E não deixe de refletir!
Obs: Este foi um texto longo. Quem sabe quantos não desistiram no meio?!