19/06/2010

Volta

Foi-se o tempo da ordem.
É chega a hora da desordem.
E quem disser que esse é o fim,
É porque confiou nas retas;
É porque acostumou-se com o chicote;
É porque gostou da repetição.

Como considero a estabilidade temorosa,
Vibro com a reaproximação do caos.
O caos que envolve, arrasta, derruba e tira os sentidos.
Ele é o próprio sentido;
Ele é a pulsação da vida na sua forma mais humana,
Crua,
Errônea,
Finita...
Viva!

Quem precisa de âncora são os navios.
Eu quero vagar nas marés enfurecidas da costa.
Enfrentar a secura da boca, sedento de amor,
Bebendo a água que derrama dos olhos.
Quero ficar com os olhos cheios d'água
E enxergar torto o que está direito.
Porque nada é só o que se vê
E tudo é o que se vê.

Eu vejo alegria na luz do dia.
Vejo as ondas batendo na praia e meus pensamentos voam.
Preciso da confusão para lembrar quem sou:
Da minha fraqueza, da minha limitação, da importância do outro.
Preciso do "inimigo" pra lembrar da luta.
Pra não esquecer que a segurança é fugaz
E o consumo também.
Preciso da dor para valorizar o amor.
Pra ver que acho e não sei.
Pra ver se acho você.

Quero encontrar o outro cambaleante,
Carente,
Temente
E feroz.
E invocar minha incapacidade para encontrar forças
Pra lutar,
Enfrentar o desconhecido de peito aberto.
E triunfar.
Na certeza de que busco fazer sempre o meu melhor,
E de que não consigo fazer tudo certo.
E é essa convicção de que sou um errante
Que me faz valorizar a imperfeição,
Encontrar beleza nas curvas,
Nas ranhuras,
Nas rugas,
Na sujeira
E na oscilação.

Olho para as marcas na madeira e celebro o desgaste que o tempo produz.
E penso em como seria infeliz se não enxergasse os erros.
Como seria infeliz se não fosse o erro!
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Obs: é preciso lembrar que errar sem a humildade do reconhecimento do erro marca a vida do outro com nossos erros e diminui a possibilidade da reconciliação, que é a própria renovação da tentativa de acertar.