12/04/2010

Lembrança

Não costumo fazer isso, mas vou abrir espaço no blog a um amigo de infância para que ele dê um depoimento sobre uma experiência do passado. O texto abaixo é do meu amigo Moacyr Rangel Junior. Foram feitos apenas alguns poucos retoques com o objetivo de tornar o texto mais compreensível para quem não viveu a experiência, mas nada que alterasse o sentido original do texto enviado pelo amigo.
Deixa eu fazer uma confidência, e que ninguém nos ouça: há muito tempo, numa daquelas peladas da Segunda Igreja (bota tempo nisso!), eu aprendi uma coisa com você que nunca mais esqueci. Eu estava jogando futebol e você estava de fora, aguardando sua vez de jogar. Meu time perdeu e, na hora que estávamos saindo da quadra para dar lugar aos que estavam aguardando a vez de jogar, um dos que estavam entrando me chamou pra continuar na partida seguinte, reforçando o time dele.
Você, sempre radical, porém sempre muito justo, gritou: "Moleque, você não estava no time que perdeu? Poxa, tem mais gente de fora querendo jogar. Inclusive eu. Deixa os outros brincarem também!" Eu me lembro que retruquei que todo mundo quer jogar pra ganhar. E que se alguém havia me escolhido pra continuar em quadra no jogo seguinte, isso indicava que eu era melhor do que os que estavam de fora. Eu gritei: "A vida é assim, a gente sempre escolhe os melhores!" (ou algo desse tipo)
Iniciei a partida seguinte mas resolvi sair do jogo e quis colocá-lo no meu lugar, mas você não aceitou e disse pra eu escolher alguém que fosse melhor que você. Aquilo acabou comigo, não falei mais nada. Pra priorar minha situação, quando chegou sua vez de entrar em quadra, você me escolheu pra jogar no seu time. Nós ganhamos, juntos no mesmo time, três ou quatro partidas seguidas.
Desde aquele dia eu luto para que seja dada oportunidade aos que estão de fora! Na verdade, aprendi que a gente não é tão bom quanto pensa ser. E que juntos a gente pode se tornar bom no que faz. Aprendi na prática que a coletividade, a igualdade de oportunidades e, principalmente, a amizade devem preceder o desejo pelo sucesso. E que brincando (leve e solto) a gente também vence.
Diria o seguinte ao meu querido amigo de infância, sem prejuízo daquilo que ele aprendeu com a experiência: você era bom de bola, Moa! E eu, como nunca joguei bem, precisava mesmo entrar para "brincar". Mas sabe que seu depoimento expressa bem o sentido do que tenho defendido aqui nesse blog (necessidade de reflexão e conscientização sobre a realidade ao nosso redor, necessidade de agir responsavelmente e companheirismo)? E vamos brincar!