22/08/2010

Condecorado corpo

Não pretendo cobrir meus cabelos brancos, tenho orgulho de cada um deles. Aliás, sinto-me honrado com cada dobra, com cada ruga, cada marca e mancha que carrego no corpo. São expressões do tempo. De um tempo que não volta mais. Ainda bem. Elas me fazem lembrar os limites da vida. E servem de estímulo para que eu vença os obstáculos da idade. Como não vivi dissolutamente e como não há corpo perfeito, penso que fiz o meu melhor em cada momento. E, por isso, carrego tranquilamente as marcas do tempo como condecorações dadas a um herói de guerra. Honrarias concedidas a quem lutou, e nem sempre venceu, todas as batalhas da vida. Quem se envergonha do seu corpo, se envergonha da sua vida.
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Imagem: Viejo desnudo al sol, óleo sobre tela de Marià Fortuny i Marsal (1838-1874), Museo del Prado, Madrid.