03/03/2011

Silêncio para sempre

Fechou as portas e janelas da casa pra ouvir o silêncio de dentro, de perto. Mas ouviu um som que não o convenceu, achou que ainda havia barulho no local que era seu. Desligou todos os equipamentos e a energia. Ficou quieto, mas havia um inseto. E teve que acender as luzes para caçá-lo. Era um mosquito, voando ao infinito. Esperou ele pousar e... Pá! Agora sim, o silêncio iria chegar. A essa altura estava suado, porque estava tudo fechado. Mas foi em frente, buscando o silêncio de sempre. Desligou de novo os aparelhos. Ficou inerte, deitado no chão, e as memórias o assolaram, azucrinadamente. Como se não bastasse o barulho da cabeça, o vizinho ligou o liquidificador. Vrruuuuuuuuuuummm. Atrapalhou sua experiência. Esperou ele terminar o suco, enquanto desejava que fosse de maracujá, pra ele mesmo se acalmar e deixa-lo continuar. Pronto, voltou a se concentrar. Estava quase lá. Quase lá. Lá lá lá lá lá lá lá... Alguém cantando no chuveiro. "Merda de cantoria desafinada!" E antes do berreiro acabar... Toc, toc, toc. Alguém bateu à porta. Olhou pelo visor da porta e descobriu que era a sogra. Agora sua experiência acabou, pensou. Ela iria impregnar até ele se jogar. "Ei?", conjecturou. É isso! Começou a correr pela casa e gritar feito um doido, com todo pulmão, o que pensava da sogra. Falou um tremendo palavrão. E a velha ouviu tudo o que dizia com enorme apatia. Com um sorriso nos lábios, encontrou uma janela aberta para sua experiência. Experimentou o silêncio eternoooooooooooooooooooooooooooooo. Fim. Quer dizer, pra ele. Quem ficou não suporta o barulho do silêncio que experimentou. E a sogra, percebendo que as coisas não estavam boas, invadiu o apartamento derrubando a porta. Ainda conseguiu segurá-lo pelo cabelo enquanto estava passando pelo parapeito. Os vizinhos juram que ouviram ele gritando palavras duras contra a sogra e que quando chegaram na janela, depois de ouvir um grito enorme, viram a sogra puxando o genro pelo cabelo e jogando-o janela abaixo. Seus cabelos ainda foram encontrados em suas mãos, e em muitos outros lugares. A viúva não fala mais com a mãe, que está presa há um ano, condenada por homicídio. E digo, silêncio para sempre?, só pra quem jaz. Porque quem fica, não vive em paz.