08/04/2007

Militares nas ruas



Antes que me acusem de reacionário, conservador e outros bichos mais, quero dizer que o título desta postagem não tem nada a ver com um chamado pela volta dos militares. Pelo contrário, o leitor que for perseverante e continuar na leitura até o final verá que meu propósito é outro, banir os militares, e suas heranças (ver postagem anterior), de uma vez por todas da sociedade brasileira.
Penso que só podemos tratar e resolver nossos problemas sociais se admitirmos que eles existem. O problema do autoritarismo na sociedade brasileira não é um problema dos governos, mas da sociedade. Portanto, é a sociedade que precisa dar conta desse mal. Não podemos é fingir que ele não existe, que não somos marcados pelo autoritarismo, que de vez em quando somos tentados a usar saídas autoritárias para apaziguar problemas em nossas relações sociais ou somos vítimas desse autoritarismo. Aqueles que ocupam alguma posição de poder, ou que acham que têm algum poder, são seduzidos a reproduzir a lógica de autoritarismo a que estamos historicamente submetidos.
A Alemanha de Hitler produziu algo pela qual veio a se envergonhar depois. E não foi uma vergonha espontânea, mas politicamente provocada. Os alemães são chamados a olhar e rever todo o mal que produziram para com a humanidade. E esse chamamento é também impositivo: é um "olhe bem o que produzimos e envergonhemo-nos disso para não repetirmos o erro".
Se não agirmos assim também em relação às nossas próprias mazelas, não nos conscientizarmos que produzimos também o mal e não nos envergonharmos disso, provavelmente voltaremos a produzi-lo. Não podemos, portanto, mascarar a ditadura militar que tanto mal causou à nossa sociedade. Precisamos expurgar nosso "pecado" confessando-o e abandonando-o. Se não queremos mais as ditaduras militares no poder, precisamos abrir os arquivos da repressão e conhecer os fatos daquele período histórico. Precisamos ser confrontados com a realidade para parar de criar mitos e acreditar neles. A abertura dos arquivos é contrária à famosa ação atribuída a Rui Barbosa em relação à escravidão (queimar os arquivos da escravidão para fingir que ela não aconteceu).
Mas antes da abertura dos arquivos, precisamos parar, já, de reverenciar o criminoso, o grileiro, o dedo-duro, o torturador, o ditador etc. Uma das maneiras pelas quais homenageamos essa gente que não merece honra depois de morta, até porque nunca tiveram em vida, é dando nomes de ruas, praças, escolas, prédios e espaços públicos em geral.
Confesso que me envergonho do período de ditadura militar e quero que a sociedade como um todo seja politicamente levada à mesma atitude de envergonhamento. Chega de nomes de militares tomando lugar nas esquinas, indicando nomes de ruas! Chega de homenagens a pessoas que escolheram viver e reproduzir a cultura autoritária! Não quero ver os militares nas ruas mais. Nem nos nomes das ruas. É preciso começar as mudanças de algum lugar.