28/02/2010

Ou não!


Essa semana encontrei uma pessoa que frequentemente usa a expressão "ou não!" após alguma afirmativa que demonstre projeção, planos a serem executados. A expressão que vem em seguida dá uma instabilidade à frase anterior, indeterminando o prazo de realização do plano ou mesmo desacreditando que ele possa ser realizado. Relacionar-se com alguém que após cada frase utiliza a expressão "ou não!" gera uma enorme crise de confiança no cumprimento dos pactos.
Lembrei-me que a expressão "ou não!" era muito usada pela juventude no período em que a ditadura militar estava no poder. Naquele contexto o uso dessa expressão se justificava uma vez que o futuro dos jovens era incerto com tanta repressão estatal e violação de direitos humanos. Se os jovens têm na capacidade de sonhar e vontade de realizar seus projetos sua maior força, a força da juventude ficava mitigada pela incerteza dos anos por vir e pela percepção de que outros jovens estavam "desaparecendo" ou sendo executados em nome da ordem. Aquela juventude usava o "ou não!" como instrumento de denúncia da realidade social daquele tempo, como quem dizia: "se a ditadura militar permitir (se ela não me assassinar) farei isso ou aquilo".
Mas nos dias de hoje, o uso do "ou não!" cria uma insegurança descontextualizada, já que vivemos num cenário em que não há mais supressão dos direitos de liberdade. Isso significa que nos dias de hoje, mais poderoso do que o "ou não!" denunciativo do período da ditadura militar é outra expressão cunhada e cantada naquele mesmo periodo: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".