25/08/2012

Novas relações familiares

Temos outras famílias. As mesmas, mas com maior liberdade individual interna, autonomia. E com um prazo de validade menor. As novas relações familiares não são pautadas mais, necessariamente, no casamento. O que não significa dizer que o casamento esteja em vias de extinção, ele mesmo vai modificar-se para sobreviver.
Por exemplo, um problema clássico das relações afetivo-amorosas é a infidelidade, que sempre coloca em cheque a própria relação. Hoje o controle social é digital/virtual/tecnológico e mais intenso que no passado. Meus avós e meus pais eram controlados pelos parentes e amigos de forma direta. Nós, por nem sabemos quem: "sorria, você está sendo filmado". Hojé há mais locais pagos destinados ao sexo. No passado, as relações extra-conjugais aconteciam com certa naturalidade e discrição. Vez ou outra alguém era flagrado num carro em lugar distante e deserto ou numa praça escura da cidade. Hoje as praças estão cercadas com grades e em suas redondezas a criminalidade e o consumo de drogas se instalaram. Lugares distantes já nem existem mais, embora o deserto tenha invadido nossas vidas. O deserto do real, que é angustiante e deseperançado. É o hoje como categoria existencial imperativa. E se não aproveitar, vira passado.
As famílias no Brasil foram, historicamente, tolerantes com relações extra-conjugais. Havia um consórcio entre Casa-Grande e Senzala, como diria Gilberto Freyre. A miscigenação é expressão clara de uma mistura racial que expressa também uma mistura social, uma mistura de classes que acontecia, em grande parte, fora do casamento. Hoje, como o controle social é mais intenso e eficiente e o diálogo sobre a qualidade da relação é mais constante, os cônjuges (ou companheiros) vão se tornando mais intolerantes às infidelidades e, por consequência, os casamentos vão se encurtando e se multiplicando. Ninguém mais quer viver aqueles antigos casamentos de fachada. Hoje a gente faz um rígido controle de qualidade da relação. E se não estiver funcionando bem, é reprovada e descartada, assim como os aparelhos eletrônicos hoje em dia. Não é o fim do casamento, haja vista que as pessoas se casam mais vezes ao longo da vida, mas uma reinterpretação do "até que a morte os separe". A vida útil do casamento encurtou.
Os filhos dos casamentos de hoje estão muito mais adaptados a essa nova realidade que as gerações mais antigas. O resultado é um conflito geracional quanto à visão sobre as novas relações familiares: os mais velhos acham que piorou e os mais novos, que agora é melhor.
Não há saudosismos aqui. Só constatações de mudanças nas familias brasileiras. São só mudanças. E você, o que acha?
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Na imagem, meus antepassados por parte de mãe, em foto tirada no início do século XX, provavelmente em Macaé/RJ. Ao centro, sentado, um dos pioneiros da família no Brasil, Robert (Bob) Reid.