28/06/2007

Criança dá trabalho


Arnaldo Antunes, ex-Titãs, fez uma música, cantada pelo grupo Palavra Cantada, chamada "Criança não trabalha, criança dá trabalho". A ênfase da música é na denúnica e combate do trabalho infantil. No clipe da música as crianças que trabalham vendendo nos sinais, como engraxates e em tantos outros lugares vão abandonando suas atividades e acompanhando um grupo de crianças que caminham e cantam o refrão da música, "Criança não trabalha, criança dá trabalho". O trabalho infantil é mesmo uma coisa deprimente e vergonhosa. E a sociedade brasileira nem é uma das piores nesse quesito. Algumas sociedades asiáticas são mais problemáticas na exploração da mão-de-obra infantil. Mas não é sobre o trabalho infantil que quero falar. Quero me prender à segunda parte do refrão: "criança dá trabalho".
Recentemente foi noticiado a agressão que uma empregada doméstica sofreu de quatro jovens de classe média do Rio de Janeiro enquanto esperava um ônibus. É claro que em grupo faz-se coisas que não se faria individualmente, há uma menor inibição do indivíduo quando ele está em grupo. Mas isso tem limite. E o limite talvez não tenha sido dado no momento adequado por quem deveria (a família). E esse limite dos pais não vem porque eles se sentem culpados de não poder dar atenção aos filhos, já que trabalham cada vez mais e tem menos tempo a dedicar à criação dos filhos. Mas, como diz a música, criança dá trabalho. E dá mesmo.
Vivemos num tempo em que as crianças, que amanhã serão adolescentes e jovens, fazem o que querem e o menor sinal de repressão dos pais é visto como violência ou como geradora de traumas físicos e emocionais. O resultado é que constitue-se uma tirania da infância em casa e, como não poderia deixar de ser, nos lugares públicos. É a geração ilimitada, que faz o que quer, quando quer e como quer. O resultado está aí, na agressão sofrida pela doméstica, no massacre de Columbine, nas ameaças sofridas pelos professores por parte de seus alunos...