21/05/2010

A vida é um filme

A esperança acaba
Quando o filme para.
E volto pra vida.
E encaro a lida.
A realidade não é ficção.
Na realidade não há fixação:
Só preocupação
E manifestação.
Luta por uma melhor condição!
E sonha com outra situação.
Faz o filme com emoção!
De coração
E com toda razão.
Mesmo sem razão.
Sem imaginação,
O filme não se realiza.
O filme da vida.
Só quando o filme acaba
A esperança se esvai.
Então,
Braços dados,
"Ação!"
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Eu, particularmente, considero o filme "Eles não usam black-tie" como o melhor filme brasileiro de todos os tempos. É emocionante pensar que o brilhante texto, originariamente para teatro, do Gianfrancesco Guarnieri tenha sido montado como filme, pelo Leon Hirszman, durante a diatadura militar (mesmo que ao final dela) e sem os avanços tecnólogicos que temos disponíveis hoje. Fico estarrecido com as atuações dos atores e com os diálogos politizados. Gosto muito do sangue quente de Santini (Francisco Milani). Mas a cena que mais curto é a da perseguição do Tião (Carlos Alberto Ricelli) pelos sindicalistas na porta da fábrica, acusando-o de fura-greve, com os diálogos tensos que se seguem e a intervenção do sindicalista Bráulio (Milton Gonçalves) apartando a briga aos gritos de "ele não é nosso inimigo!" É uma cena de correria e pancadaria que deve ter sido difícil fazer. O filme todo é uma paulada na apatia política. Hoje eu assisti novamente o filme, com lágrimas nos olhos em vários momentos, e lamentei quando ele chegou ao final, pensando que deveríamos ter condição de assisti-lo sempre que fosse necessário refazer os sonhos e resistir às barreiras da vida. Pra onde foi a arte da vida? Pra onde foram os sonhos por uma vida melhor? Pra onde foi a ação coletiva? E a coragem? E o medo?