12/03/2010

Culpa

Quando se faz alguma coisa escondida parece que todo mundo vê. Parece que todo mundo viu. Há um peso que se carrega sobre a cabeça, tão visível quanto risível. Mas no momento do erro não há motivos para risos. Um olhar ou uma palavra fora do lugar faz parecer que o erro fora revelado, que alguém viu o deslize, que alguma câmera flagrou a queda. Quando se faz alguma coisa errada tenta-se acobertar, nada declarar, se justificar. Mas a testa revela o que se tenta esconder. A testa vira outdoor. Mas como todos andam muito apressados e descompromissados, e como há muita publicidade por aí, às vezes não se vê. Quando se faz algo não desejado, fica-se logo preocupado com um resultado inesperado. Se o erro cometido foi único, espera-se o tempo passar para apagar. Mas se se deseja comete-lo novamente, espera-se algum tempo passar para repeti-lo, aperfeiçoá-lo. E às vezes nem se espera tanto tempo assim, porque o desejo de errar não pode esperar. Mas isso traz de volta o peso à alma. Círculo vicioso só interrompido pelo flagrante. Que envergonha, humilha e mata. Mas já não se faz mais vergonha na cara como antigamente! E, por isso, aprende-se a conviver com o peso da alma, que se torna peso morto. Sem importância, sem relevância. O preço justo de uma vida intensa e breve. Que de tão breve torna o peso leve.