Acabou a brincadeira,
Vai fazer direito!
Enquanto isso, me divirto
Fazendo do meu jeito.
Quando o fundamento está apodrecido,
Não há estrutura dura que suporte o peso da mentira.
E a realidade desmente a idealidade.
O que sei fazer é destruir.
E não faço isso sem me ferir.
Mas assumo meu mal
Como forma de mudar o real.
Ou melhor, de acabar com o ideal.
Esse é meu ideal:
Racional mas sem racionalizar;
Caótico e sem planejar.
Anarquista como tem de ser,
Vivo o que sei fazer
E produzo o que nem imaginei.
Mas a cada final,
Alegro-me com o que realizei.
Esse é meu orgulho.
31/01/2011
30/01/2011
Esquizofrenia sociológica
"Vejo coisas, e devo colocá-las da melhor maneira possível no papel... A maneira como as coisas continuam depois é tarefa das gerações futuras". (Norbert Elias)
Fico mais tranquilo em saber que essa esquizofrenia sociológica não é só minha, que estou bem acompanhado. E aí, fazer o que?
............................................
Na foto: Norbert Elias (1897-1990)
Fico mais tranquilo em saber que essa esquizofrenia sociológica não é só minha, que estou bem acompanhado. E aí, fazer o que?
............................................
Na foto: Norbert Elias (1897-1990)
29/01/2011
Embolagens
Como uma forma de castigo.
E se ela pensa que vou deixá-la ir,
Está enganada,
Vou abraçá-la até dormir.
E quando acordar,
Quero falar bobagens,
Embalado pelas emboladas,
De pernas enroscadas
E lábios lambidos.
Quero essa solidão aqui,
Bem junto a mim.
Pra não deixar escapar nada,
Nem uma piscada,
Sem que possa registrar.
Pra que depois viva de saudades.
Com toda ilusão
E nenhuma razão.
E quando a solidão cansar de mim,
Saio às ruas atrás do meu vício,
Pra receber meu suplício
Em tiradas e lambadas
Que não deixam visíveis marcas,
Mas nem por isso são irreais.
Sem as marcas do seu corpo,
Sem as marcas na minha alma,
Fico só com ela:
Saudade!
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
Fotografia do poeta inglês Oliver Bernard, tirada em 1956 pelo fotógrafo maldito e genial John Deakin (1912-1972). "Deakin era um refinado mentiroso. Era também um alcoólico, um canastrão, um difamador e um insolente. Não tinha, de resto, respeito por nada nem ninguém. (...) Morreu em 1972, na miséria e no esquecimento (...) as fotos são realistas, cruas e directas. Representavam aquilo que não sai propriamente nas revistas de moda". Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/05/john_deakin_o_f.html
28/01/2011
O intelectual, esse chato que é gente/agente/a gente
Um intelectual nunca está em paz.
(E rouba a nossa paz)
Ele sempre tem o que dizer.
E se não diz, algum problema há:
Ou não é intelectual,
Ou não o deixam falar.
A mordaça é o maior inimigo do pensador.
E se consegue fugir,
Vive em crise com todo vigor.
Em qualquer lugar.
Fazendo os outros pensar.
Mais do que palavras,
Ele produz reflexão.
(E transformação)
Mais do que o corpo,
Ele penetra a alma.
Por isso é tão amado
Ou odiado.
Ele precisa de calma,
De palma
E xamego.
(Que ninguém é de ferro!)
(E rouba a nossa paz)
Ele sempre tem o que dizer.
E se não diz, algum problema há:
Ou não é intelectual,
Ou não o deixam falar.
A mordaça é o maior inimigo do pensador.
E se consegue fugir,
Vive em crise com todo vigor.
Em qualquer lugar.
Fazendo os outros pensar.
Mais do que palavras,
Ele produz reflexão.
(E transformação)
Mais do que o corpo,
Ele penetra a alma.
Por isso é tão amado
Ou odiado.
Ele precisa de calma,
De palma
E xamego.
(Que ninguém é de ferro!)
27/01/2011
Minha rotina predileta
Em minha rotina predileta
Tem bicicleta,
Praia,
Poesia,
Sociologia,
Putaria,
Luz do dia...
Ultimamente,
Sinceramente,
Tenho pedalado,
Ando pelado,
Leio um livro,
Bebo uísque,
Escrevo poesia,
Penso no dia...
E nada disso me consome
Mais que você.
Tem bicicleta,
Praia,
Poesia,
Sociologia,
Putaria,
Luz do dia...
Ultimamente,
Sinceramente,
Tenho pedalado,
Ando pelado,
Leio um livro,
Bebo uísque,
Escrevo poesia,
Penso no dia...
E nada disso me consome
Mais que você.
26/01/2011
Rotina
Canso de tudo que me faça parar.
Não posso parar de me movimentar.
Como a rotina me faz parar de pensar,
Tendo a vê-la como um modo de alienar.
Falo mal da rotina porque sei o que é,
E porque não quero enganar.
Falo mal da rotina porque nos aprisiona
E nos faz acatar,
Sem questionar.
A arrogância de achar
Que sem ela seria insuportável,
Intolerável.
Agora me dá licença,
Mas preciso cumprir minha rotina de pensar!
Não falei que rotina é uma merda?
_____________________________________________________
Crítica ao título do livro (e da peça de teatro) da Elisa Lucinda.
Não posso parar de me movimentar.
Como a rotina me faz parar de pensar,
Tendo a vê-la como um modo de alienar.
Falo mal da rotina porque sei o que é,
E porque não quero enganar.
Falo mal da rotina porque nos aprisiona
E nos faz acatar,
Sem questionar.
A arrogância de achar
Que sem ela seria insuportável,
Intolerável.
Agora me dá licença,
Mas preciso cumprir minha rotina de pensar!
Não falei que rotina é uma merda?
_____________________________________________________
Crítica ao título do livro (e da peça de teatro) da Elisa Lucinda.
25/01/2011
Vendo coisas
Vendo o que passou,
E nunca acabou.
Vejo que é tudo pose.
Que tudo é posse
E tudo pode.
Pode você e eu,
E pode você e seu.
Meu não tenho nada.
O que tinha passou,
Mas não acabou.
E vendo o que restou.
O que teimou
E continuou.
Entendo que o fim começa assim,
Sem memórias.
E a poesia acaba aqui.
E nunca acabou.
Vejo que é tudo pose.
Que tudo é posse
E tudo pode.
Pode você e eu,
E pode você e seu.
Meu não tenho nada.
O que tinha passou,
Mas não acabou.
E vendo o que restou.
O que teimou
E continuou.
Entendo que o fim começa assim,
Sem memórias.
E a poesia acaba aqui.
24/01/2011
Vendas de garagem
Nos Estados Unidos é comum encontrar no lixo objetos que para nós soariam como novos. O descarte de coisas usadas movimenta a sociedade de consumo. E em se tratando de sociedade de consumo, a sociedade americana é excelência.
Mas também é mais comum por lá as pessoas colocarem seus pertences à venda para renovação ou diminuição das coisas que são acumuladas ao longo da vida. E essa é uma prática até interessante e que precisaríamos adotar mais em nossa sociedade, sobretudo em época de valorização do reciclado e da sustentabilidade.
A venda de garagem (Garage Sale) é um espaço de socialização onde as pessoas não só vendem seus pertencem mas também conversam sobre eles, contam como foi adquirida determinada peça, fatos curiosos sobre um objeto etc. Essa troca de idéias produz um maior comunitarismo, um maior sentimento de respeito mútuo entre as pessoas do bairro.
Alguns desses eventos são criados para levantar recursos próprios para realização de projetos pessoais daqueles que colocam seus pertences à venda. Outros, para execução de projetos comunitários, como construção de parques infantis, escolas ou abrigos no bairro. Essa prática não temos na sociedade brasileira ainda por dois motivos principais: por causa da cultura do "vou me dar bem" e porque tendemos a depositar nos poderes do estado o dever de cuidar da sociedade. Como se não pudéssemos, nem devessémos, trabalhar pelo bem-estar da sociedade, de nós mesmos.
O mais próximo que temos disso por aqui são os mutirões, que é uma cultura originariamente indígena, mas que é utilizada em larga escala pelas classes mais pobres, como forma de manutenção da ética comunitária que caracteriza as classes populares e de sobrevivência dos próprios pobres numa sociedade monetarizada e desigual.
Deveríamos começar a realizar bazares e feiras para doação, venda ou troca de objetos que andam jogados em algum lugar de nossas casas! Para isso, basta um pouco de iniciativa e comunicação (talvez alguns emails ou torpedos para sua lista pessoal). Acumular está fora de moda!
_______________________________________________________________________________________
Uma boa dica para não ficar parado e começar a organizar a reciclagem é filiar-se a um grupo de doações e trocas na sua cidade, o que pode ser feito, por exemplo, pelo site Freecycle: http://www.freecycle.org/
Mas também é mais comum por lá as pessoas colocarem seus pertences à venda para renovação ou diminuição das coisas que são acumuladas ao longo da vida. E essa é uma prática até interessante e que precisaríamos adotar mais em nossa sociedade, sobretudo em época de valorização do reciclado e da sustentabilidade.
A venda de garagem (Garage Sale) é um espaço de socialização onde as pessoas não só vendem seus pertencem mas também conversam sobre eles, contam como foi adquirida determinada peça, fatos curiosos sobre um objeto etc. Essa troca de idéias produz um maior comunitarismo, um maior sentimento de respeito mútuo entre as pessoas do bairro.
Alguns desses eventos são criados para levantar recursos próprios para realização de projetos pessoais daqueles que colocam seus pertences à venda. Outros, para execução de projetos comunitários, como construção de parques infantis, escolas ou abrigos no bairro. Essa prática não temos na sociedade brasileira ainda por dois motivos principais: por causa da cultura do "vou me dar bem" e porque tendemos a depositar nos poderes do estado o dever de cuidar da sociedade. Como se não pudéssemos, nem devessémos, trabalhar pelo bem-estar da sociedade, de nós mesmos.
O mais próximo que temos disso por aqui são os mutirões, que é uma cultura originariamente indígena, mas que é utilizada em larga escala pelas classes mais pobres, como forma de manutenção da ética comunitária que caracteriza as classes populares e de sobrevivência dos próprios pobres numa sociedade monetarizada e desigual.
Deveríamos começar a realizar bazares e feiras para doação, venda ou troca de objetos que andam jogados em algum lugar de nossas casas! Para isso, basta um pouco de iniciativa e comunicação (talvez alguns emails ou torpedos para sua lista pessoal). Acumular está fora de moda!
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Uma boa dica para não ficar parado e começar a organizar a reciclagem é filiar-se a um grupo de doações e trocas na sua cidade, o que pode ser feito, por exemplo, pelo site Freecycle: http://www.freecycle.org/
23/01/2011
Minha confusão
Confundo tudo porque estou confuso. Estou confuso porque me confundo. E me afundo em tanta confusão. Confuso, co-fundo no fundo de você a confusão que confunde a mim. Começo a confundir você em mim e você com você. Sem fim. E a conferir dinheiro sem ter. Confuso e sem fundo. Confiro a você tanta confusão em efusão em mim. E como você, bebo confusão pra valer. A pena. Confesso que essa confusão que confunde você (e a mim) me faz perceber que quanto mais me confundo, mais me fundo a você. E sei que quem funde não pode mais fender. Quem funde se fode pra valer. Mas fode pra valer. Ou foge trazendo consigo a confusão e a fusão que afligem e afagam o corpo e a alma. Que prazer, confundir você! Organizar a confusão, deixo pra você. Já que sou mais confuso que você e tendo a achar que a confusão que confunde a mim, também a você. Ah, você...! Você que queria saber pra quê tanta confusão afetando a confiança que coloco em você. Tanta combustão que inflama e afiança o que coloco em você! Por que não confundir se não confio que a confusão faça consumir você? Quem me confunde é você, com façanhas faceiras que aferram minha confusão. Minha confusão é você. E não vivo sem tê-la comigo.
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Imagem: "Organized confusion", quadro de Shiree Gilmore. Outras pinturas coloridas e confusas da artista podem ser apreciadas em: http://fineartamerica.com/profiles/shiree-gilmore.html
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Imagem: "Organized confusion", quadro de Shiree Gilmore. Outras pinturas coloridas e confusas da artista podem ser apreciadas em: http://fineartamerica.com/profiles/shiree-gilmore.html
22/01/2011
21/01/2011
Primeira lição de sociologia
Precisei procurar uma referência que estava perdida. Revirei tudo. Achei. Nem sempre as coisas são o que parecem ser. Frase batida, mas verdadeira. Por trás da razão pode se esconder um coração. Atrás do coração pode estar a razão. Para um sociólogo, que é um "caçador de mitos", essa é uma lição principal: ideologia é mitologia! Então, é necessário duvidar para olhar além do superficial. Certa vez perguntaram a Norbert Elias, "o senhor nunca levou em conta que os homens precisam de mitos?" A resposta não poderia ser mais perfeita: "Sim, claro. Mas então eles devem escrever poemas - é o que faço também, a propósito. Também preciso de mitos - e de pinturas". Moral da história: as palavras não são as coisas. A arte não precisa ser real. O real sim. Precisamos viver. Realmente.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Os trechos entre aspas podem ser encontrados no livro "Norbert Elias por ele mesmo", Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48.
Foto: Norbert Elias (1897-1990).
Só.
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Os trechos entre aspas podem ser encontrados no livro "Norbert Elias por ele mesmo", Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48.
Foto: Norbert Elias (1897-1990).
Só.
20/01/2011
Inconsequência?!
Pode parecer inconsequência,
Mas prefiro chamar oportunismo:
Quando a oportunidade passa você tem de agarrar.
Pode parecer saudades,
Mas são mágoas de um tempo que não volta mais.
E que pode ser melhor.
Sonhar é se lançar:
Acreditar e viver.
Viver esperando
E esperar vivendo.
Tenho tanta coisa pra não te contar...
Mas deixa pra lá.
Vamos caminhar.
Vamos viver.
.................................................................................................................................
Acima, foto clássica de Bob Dylan caminhando de braços dados com sua namorada Suze Rotolo, em 1963. Ao lado, outra foto dos dois juntos. Os estudiosos em Bob Dylan dizem que naquele ano Dylan experimentou uma fase profícua como letrista/poeta também graças à presença dela em sua vida. Rotolo era filha de comunistas e militante dos direitos civis. A capa de seu segundo disco, "The Freewheelin' Bob Dylan" (algo como "o libertário Bob Dylan"), traz os dois juntos andando abraçadinhos pelas ruas geladas de Greenwich Village, Nova Iorque. Esse é um dos melhores discos da carreira de Dylan. Apesar dos dois aparecerem na capa do disco, a relação deles durou pouco. A música "Don't Think Twice, It's All Right" foi escrita após o fim da relação deles. Caminhar é o verbo principal do existencialismo. Um passo de cada vez. Sem pressa. Sem perder os detalhes do trajeto, que é onde estão as riquezas, as belezas. E vamos em frente.
Mas prefiro chamar oportunismo:
Quando a oportunidade passa você tem de agarrar.
Pode parecer saudades,
Mas são mágoas de um tempo que não volta mais.
E que pode ser melhor.
Sonhar é se lançar:
Acreditar e viver.
Viver esperando
E esperar vivendo.
Tenho tanta coisa pra não te contar...
Mas deixa pra lá.
Vamos caminhar.
Vamos viver.
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Acima, foto clássica de Bob Dylan caminhando de braços dados com sua namorada Suze Rotolo, em 1963. Ao lado, outra foto dos dois juntos. Os estudiosos em Bob Dylan dizem que naquele ano Dylan experimentou uma fase profícua como letrista/poeta também graças à presença dela em sua vida. Rotolo era filha de comunistas e militante dos direitos civis. A capa de seu segundo disco, "The Freewheelin' Bob Dylan" (algo como "o libertário Bob Dylan"), traz os dois juntos andando abraçadinhos pelas ruas geladas de Greenwich Village, Nova Iorque. Esse é um dos melhores discos da carreira de Dylan. Apesar dos dois aparecerem na capa do disco, a relação deles durou pouco. A música "Don't Think Twice, It's All Right" foi escrita após o fim da relação deles. Caminhar é o verbo principal do existencialismo. Um passo de cada vez. Sem pressa. Sem perder os detalhes do trajeto, que é onde estão as riquezas, as belezas. E vamos em frente.
19/01/2011
Voz
Tem vez que a voz faz voltar o que nunca passou:
Ela aguça lembranças e aumenta a tormenta.
Mas não adianta ouvi-la sem ver o olhar que faz calar.
Sem poder, abraçar, beijar, rir, chorar...
Tudo igual,
Realizar.
A voz não é suficiente sem uma visão que acalme o coração, ou o alvoroce ainda mais.
Ela engana a razão e dilacera o coração.
E mesmo que seja momentânea, ela sempre será...
Necessária.
E quem não tem voz,
Também pode se comunicar.
Basta tentar.
É pela tentação que se realiza transformação.
+++++++++++++++++++++++++++++
A voz hipnotiza até o cão diante da vitrola.
Saber ouvir, valorizar o timbre e conhecer pelo tom é também uma arte. Disponível a quem quiser tentar.
Ela aguça lembranças e aumenta a tormenta.
Mas não adianta ouvi-la sem ver o olhar que faz calar.
Sem poder, abraçar, beijar, rir, chorar...
Tudo igual,
Realizar.
A voz não é suficiente sem uma visão que acalme o coração, ou o alvoroce ainda mais.
Ela engana a razão e dilacera o coração.
E mesmo que seja momentânea, ela sempre será...
Necessária.
E quem não tem voz,
Também pode se comunicar.
Basta tentar.
É pela tentação que se realiza transformação.
+++++++++++++++++++++++++++++
A voz hipnotiza até o cão diante da vitrola.
Saber ouvir, valorizar o timbre e conhecer pelo tom é também uma arte. Disponível a quem quiser tentar.
18/01/2011
Tenho tudo que você precisa
Tenho tanto em mim!...
Tenho tudo aqui.
E você aí.
Você nem aí.
Mais um pouco
E fico torto.
Uso seu corpo
Pra elevar sua alma.
Minh'alma é sua alma em mim.
Igual a sempre foi.
Desigual como tem de ser.
Pra ter o que não dizer,
Só negar.
Sonegar e gozar.
Somos iguais, nega?!
Buscamos a mesma coisa.
Prazer, nega!
Muito prazer!
Pra mim e você:
No corpo e na alma.
Efêmero como tem de ser,
Pra sentir saudades pra valer!
()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()
Inspirado na música "Narciso", de Cazuza. No refrão da música ele cantava o seguinte: "Eu tenho tudo o que você precisa/E mais um pouco/Nós somos iguais/Na alma e no corpo". Impagável é assitir essa música cantada pelo Barão Vermelho no primeiro Rock in Rio.
Pintura de Oskar Kokoschka, "Couple D'amants" (1910).
Tenho tudo aqui.
E você aí.
Você nem aí.
Mais um pouco
E fico torto.
Uso seu corpo
Pra elevar sua alma.
Minh'alma é sua alma em mim.
Igual a sempre foi.
Desigual como tem de ser.
Pra ter o que não dizer,
Só negar.
Sonegar e gozar.
Somos iguais, nega?!
Buscamos a mesma coisa.
Prazer, nega!
Muito prazer!
Pra mim e você:
No corpo e na alma.
Efêmero como tem de ser,
Pra sentir saudades pra valer!
()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()()
Inspirado na música "Narciso", de Cazuza. No refrão da música ele cantava o seguinte: "Eu tenho tudo o que você precisa/E mais um pouco/Nós somos iguais/Na alma e no corpo". Impagável é assitir essa música cantada pelo Barão Vermelho no primeiro Rock in Rio.
Pintura de Oskar Kokoschka, "Couple D'amants" (1910).
17/01/2011
Meu canto
Não há o que reparar.
Tudo foi o que devia.
E nem sei o que consumia,
Nem porque temia,
Se a gente não leva nada além dessa vida!
Vou na solidão que me acompanha,
Buscar meu canto.
Tudo foi o que devia.
E nem sei o que consumia,
Nem porque temia,
Se a gente não leva nada além dessa vida!
Vou na solidão que me acompanha,
Buscar meu canto.
16/01/2011
Bem
Queria que tudo acabasse bem.
Que fosse assim tão bem,
Que nem me dissesse nada além
De amém.
Sem pedir perdão, meu bem.
Nem dizer nada a quem
Achar que não convém.
Precisa entender que sem
Mim você vai aquém,
Mas também, não vai dever a ninguém.
E seja feliz também!
Que fosse assim tão bem,
Que nem me dissesse nada além
De amém.
Sem pedir perdão, meu bem.
Nem dizer nada a quem
Achar que não convém.
Precisa entender que sem
Mim você vai aquém,
Mas também, não vai dever a ninguém.
E seja feliz também!
15/01/2011
Vou sem você
Vou correr pra casa e esperar você. Vou preparar a mesa pra você. Vou comprar biscoitos recheados pra você. Vou comê-los com você. Vou deitar no chão, limpar seu salão, falar bobagens, assitir um filme, ouvir uma música, gargalhar, chorar... com você. E vou chorar sem você. Vou limpar as lágrimas pra você não ver. Respiro. Mais uma lágrima brotou. Um lenço. Assim. Pronto! Levanto a cabeça e olho pra cima sem fixar meu olhar em ponto algum (olho para o infinito como estratégia para as lágrimas não voltarem - aprendi isso com minha mãe). Repito pra mim mesmo: vou chorar sem você. Vou assistir filmes e ouvir músicas sem você. Vou viver sem você. E se não aguentar... Perco meu último bem. O orgulho da qual não vivo sem. E deixo de me reconhecer. Por você. E volto atrás. Lembro que estou sem chão, que o biscoito acabou e a mesa partiu. Resta só a memória. E a pressa. Acho que vou correr pra vender o que sobrou. Vou. Sem você.
14/01/2011
Lutadora!
Você é danada!
Sobe e me mata.
Arregaça!
Conheço sua escola
E sei que anda aflita,
Perdida.
Querendo me encontrar.
E que não desiste de lutar:
Lutadora!
Igual a você não há.
Só você!
------------ # ------------ # ------------
Imagem: Egon Schiele, óleo sobre tela.
Sobe e me mata.
Arregaça!
Conheço sua escola
E sei que anda aflita,
Perdida.
Querendo me encontrar.
E que não desiste de lutar:
Lutadora!
Igual a você não há.
Só você!
------------ # ------------ # ------------
Imagem: Egon Schiele, óleo sobre tela.
13/01/2011
Visão
Você vê além de mim,
Além do que sou.
E me faz ser o que não sou,
Nem pensei.
E gosto da idéia,
Mesmo sem razão.
Gosto de sonhar,
Mesmo sem realizar.
Gosto de você,
Mesmo sem você!
ºººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
Imagem: "O beijo" (1907/1908), obra-prima de Klimt. Óleo e raspas de ouro sobre tela.
Além do que sou.
E me faz ser o que não sou,
Nem pensei.
E gosto da idéia,
Mesmo sem razão.
Gosto de sonhar,
Mesmo sem realizar.
Gosto de você,
Mesmo sem você!
ºººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº
Imagem: "O beijo" (1907/1908), obra-prima de Klimt. Óleo e raspas de ouro sobre tela.
12/01/2011
Até quando?
Sumi!
Desapareci em meio à lama.
Em meio ao drama.
E sinto que não acabou,
Que vamos erguer o que sobrou.
E que ainda há mais por vir,
Há mais por cair:
Chuvas,
Casas,
Gentes,
Vergonhas,
Moral.
Tantas dores,
Tantas preces,
Tantas mortes
E dissabores...
Que nem sei como expressar
Algo que vou criar:
Saudades de quem nem conheci.
Humanos como eu,
Perdidos como eu,
Apaixonados como eu,
Trabalhadores como eu,
Brasileiros como nós.
E a revolta está em saber
Que havia muito por fazer,
Que se podia evitar
Ou mesmo minorar.
E que tudo vira mercadoria,
Sem alma,
Sem vida,
Vendida pela tv,
E que aplaca o coração:
"Faça uma doação!"
___________________________
Precisávamos doar mais tempo para lutar por nossos iguais, por nossos concidadãos, que estão por aí, em áreas de riscos, em situações de riscos, com seus direitos sendo violados diante de nós, à luz da tv. Se não fizermos isso, teremos de nos contentar em resgatar os corpos, em contar os mortos, em rezar e doar. Para aliviar a culpa pela inércia e apatia.
Dedico meu silêncio e minha revolta às vítimas da incompetência política da região serrana do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. Não são vítimas das chuvas, mas do descaso político e de suas (nossas) próprias apatias. Até quando?
Desapareci em meio à lama.
Em meio ao drama.
E sinto que não acabou,
Que vamos erguer o que sobrou.
E que ainda há mais por vir,
Há mais por cair:
Chuvas,
Casas,
Gentes,
Vergonhas,
Moral.
Tantas dores,
Tantas preces,
Tantas mortes
E dissabores...
Que nem sei como expressar
Algo que vou criar:
Saudades de quem nem conheci.
Humanos como eu,
Perdidos como eu,
Apaixonados como eu,
Trabalhadores como eu,
Brasileiros como nós.
E a revolta está em saber
Que havia muito por fazer,
Que se podia evitar
Ou mesmo minorar.
E que tudo vira mercadoria,
Sem alma,
Sem vida,
Vendida pela tv,
E que aplaca o coração:
"Faça uma doação!"
___________________________
Precisávamos doar mais tempo para lutar por nossos iguais, por nossos concidadãos, que estão por aí, em áreas de riscos, em situações de riscos, com seus direitos sendo violados diante de nós, à luz da tv. Se não fizermos isso, teremos de nos contentar em resgatar os corpos, em contar os mortos, em rezar e doar. Para aliviar a culpa pela inércia e apatia.
Dedico meu silêncio e minha revolta às vítimas da incompetência política da região serrana do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. Não são vítimas das chuvas, mas do descaso político e de suas (nossas) próprias apatias. Até quando?
11/01/2011
Escavações da/na alma
Você é arte pura.
Mas também sabe fazer o mal.
E bem que já ouvira dizer.
Mas não queria crer.
Foi você quem me descobriu.
Foi você quem me seduziu.
Você me destruiu.
E me destrói a cada dia.
Com toda sua arrogância e simpatia.
Você me tirou da caverna escura e preguiçosa
E me expôs à luz,
À cruz.
Você me tirou das trevas e me lançou na noite.
No açoite.
Você me seguia
E eu pensava até onde iria.
E cheguei aqui,
A lugar nenhum.
De você não sei.
E alimento seu mal com minha lira,
O masoquismo que há em você.
E que me faz sádico sem ser,
Sem saber.
Afinal, o torturador não quer a morte do torturado,
Quer apenas vê-lo sofrer.
O sofrimento do outro lhe dá prazer.
Agora tento fugir da noite e não consigo.
Você sempre está comigo.
Tenho o corpo marcado e doído;
E a alma cansada e caída.
Mas você não me deixa em paz.
Mesmo no silêncio.
Eu que sempre fujo
Já não consigo mais.
Trago comigo o fogo e os grilhões.
Trago você e nunca se acaba.
.................................................................................................
Imagem: Cabeza, Jean-Michel Basquiat (1982).
As estrofes dessa poesia podem ser recortadas e lidas aleatoriamente. A ordem em que as publiquei não foi a mesma em que as escrevi. Por isso, também não precisa ser a mesma ordem da leitura. É sempre assim, não há ordem na vida. Há ordens. Algumas são duras demais. Quem dá o sentido é você. O meu sentido pode não ser o seu: posso sentir mais que você. Ou menos. Vai saber?! Mas não tenho dúvidas, quem dá o sentido é você.
Uma coisa que esperava enquanto criava era que tudo fosse intensamente e bem devagar. Como gosto de fazer. Como gosto de ser. Como gosto de você! Sugiro que a leitura dessa poesia seja na cadência da música "Sofre", de Tim Maia. (link abaixo) Embora a versão de Nasi e Os Irmãos do Blues seja ainda melhor que a original. http://letras.terra.com.br/tim-maia/1277592/
Preciso ir. Há catástrofes mais importantes que a minha precisando de reflexões.
Mas também sabe fazer o mal.
E bem que já ouvira dizer.
Mas não queria crer.
Foi você quem me descobriu.
Foi você quem me seduziu.
Você me destruiu.
E me destrói a cada dia.
Com toda sua arrogância e simpatia.
Você me tirou da caverna escura e preguiçosa
E me expôs à luz,
À cruz.
Você me tirou das trevas e me lançou na noite.
No açoite.
Você me seguia
E eu pensava até onde iria.
E cheguei aqui,
A lugar nenhum.
De você não sei.
E alimento seu mal com minha lira,
O masoquismo que há em você.
E que me faz sádico sem ser,
Sem saber.
Afinal, o torturador não quer a morte do torturado,
Quer apenas vê-lo sofrer.
O sofrimento do outro lhe dá prazer.
Agora tento fugir da noite e não consigo.
Você sempre está comigo.
Tenho o corpo marcado e doído;
E a alma cansada e caída.
Mas você não me deixa em paz.
Mesmo no silêncio.
Eu que sempre fujo
Já não consigo mais.
Trago comigo o fogo e os grilhões.
Trago você e nunca se acaba.
.................................................................................................
Imagem: Cabeza, Jean-Michel Basquiat (1982).
As estrofes dessa poesia podem ser recortadas e lidas aleatoriamente. A ordem em que as publiquei não foi a mesma em que as escrevi. Por isso, também não precisa ser a mesma ordem da leitura. É sempre assim, não há ordem na vida. Há ordens. Algumas são duras demais. Quem dá o sentido é você. O meu sentido pode não ser o seu: posso sentir mais que você. Ou menos. Vai saber?! Mas não tenho dúvidas, quem dá o sentido é você.
Uma coisa que esperava enquanto criava era que tudo fosse intensamente e bem devagar. Como gosto de fazer. Como gosto de ser. Como gosto de você! Sugiro que a leitura dessa poesia seja na cadência da música "Sofre", de Tim Maia. (link abaixo) Embora a versão de Nasi e Os Irmãos do Blues seja ainda melhor que a original. http://letras.terra.com.br/tim-maia/1277592/
Preciso ir. Há catástrofes mais importantes que a minha precisando de reflexões.
10/01/2011
Subir para descer
Subo com toda força
Olhando para o chão
E imaginando o céu,
Que me castiga.
E me queimo de tanta teimosia,
Com toda valentia.
Mas aguento até o fim,
Do mundo da vida.
Caio nas curvas
E vejo as retas tortas.
Fico exausto, mas quero mais,
Menos você.
Chego a lugar nenhum
E encontro você.
Em cada encontro vejo o fim.
Em cada fim, você.
Esse é meu prazer.
Mas não alivia minha dor.
Olhando para o chão
E imaginando o céu,
Que me castiga.
E me queimo de tanta teimosia,
Com toda valentia.
Mas aguento até o fim,
Do mundo da vida.
Caio nas curvas
E vejo as retas tortas.
Fico exausto, mas quero mais,
Menos você.
Chego a lugar nenhum
E encontro você.
Em cada encontro vejo o fim.
Em cada fim, você.
Esse é meu prazer.
Mas não alivia minha dor.
09/01/2011
08/01/2011
Pote de barro
Onde estará essa gente decrépita, mascarada de sentimentos, marcada de correções e inchada de razões egoístas?
E o que há no fundo dessa gente senão nada?
E esse pote vazio nem procura preenchimento.
Nem pode mesmo: vaso sujo azeda o conteúdo;
É melhor descartar.
O pior é que a beleza do pote às vezes esconde sua fragilidade:
Desafio sua integridade,
Mas não aguenta e parte.
Conheço sua rachadura.
Ah, como quebra fácil o pote de barro, mesmo novo!
E você ainda acha que é de ferro!
(E começo a achar que tem razão)
Que falta não faz um espelho pra alma?!
Pra sua e pra minha.
E o que há no fundo dessa gente senão nada?
E esse pote vazio nem procura preenchimento.
Nem pode mesmo: vaso sujo azeda o conteúdo;
É melhor descartar.
O pior é que a beleza do pote às vezes esconde sua fragilidade:
Desafio sua integridade,
Mas não aguenta e parte.
Conheço sua rachadura.
Ah, como quebra fácil o pote de barro, mesmo novo!
E você ainda acha que é de ferro!
(E começo a achar que tem razão)
Que falta não faz um espelho pra alma?!
Pra sua e pra minha.
07/01/2011
Caçadora
Vai caçadora,
Pendura minha cabeça na sua parede.
E na minha, desenha carneiros
E um coração inteiro.
Cheio de cacos,
Cheio de caos.
Me chama de nego
E não me nego.
Invade minha vida,
E faço o mesmo com você.
Tira a roupa e deixa por aí.
Deixa também os cabelos,
O brinco,
A saudade
A maldade...
Joga tudo no chão
E diz que me ama e me quer
Até casar.
Até cansar.
Talvez seja o caos que pedi.
Destrói convicções
E razões.
E sei que por trás de sua força e razão
Há um ser frágil e carente de mim.
E acabo com você,
Mesmo sem saber.
Mesmo sem querer.
Mas você não dá o braço a torcer.
E penduro sua cabeça na parede da minha vida.
Com vergonha,
Com tristeza.
Considero você um caso perdido,
O caos pedido.
Pensar o que?
Fazer o que?
Cadê você?
Pendura minha cabeça na sua parede.
E na minha, desenha carneiros
E um coração inteiro.
Cheio de cacos,
Cheio de caos.
Me chama de nego
E não me nego.
Invade minha vida,
E faço o mesmo com você.
Tira a roupa e deixa por aí.
Deixa também os cabelos,
O brinco,
A saudade
A maldade...
Joga tudo no chão
E diz que me ama e me quer
Até casar.
Até cansar.
Talvez seja o caos que pedi.
Destrói convicções
E razões.
E sei que por trás de sua força e razão
Há um ser frágil e carente de mim.
E acabo com você,
Mesmo sem saber.
Mesmo sem querer.
Mas você não dá o braço a torcer.
E penduro sua cabeça na parede da minha vida.
Com vergonha,
Com tristeza.
Considero você um caso perdido,
O caos pedido.
Pensar o que?
Fazer o que?
Cadê você?
06/01/2011
Palavras ofensivas para pessoas arrogantes
Cada palavra lançada tem um fim.
Cata palavras lançadas por mim
E dá seu fim.
Infelizmente não escrevo como percebo,
Nem como você.
Enfia essas palavras goela abaixo
E digere.
Ou dirige seu olhar pra outro lugar.
Se incomoda saber o que penso,
Vai assistir um filme.
Independente do que estiver passando,
Dependendo do que estiver pensando,
Acompanho você.
==========================
Pintura do austríaco Egon Schiele.
Cata palavras lançadas por mim
E dá seu fim.
Infelizmente não escrevo como percebo,
Nem como você.
Enfia essas palavras goela abaixo
E digere.
Ou dirige seu olhar pra outro lugar.
Se incomoda saber o que penso,
Vai assistir um filme.
Independente do que estiver passando,
Dependendo do que estiver pensando,
Acompanho você.
==========================
Pintura do austríaco Egon Schiele.
05/01/2011
Avassaladora!
Avassaladora é o nome de uma das músicas de Gonzaguinha, onde ele descreve uma mulher forte e decidida a seduzir e gozar sem medo de ser feliz, sem medo de machucar. O termo significa dominadora, atropeladora, aquela que passa por cima, que transforma os outros em vassalos, súditos, subordinados, dominados.
Apesar de gostar da música e da descrição dessa mulher destemida criada pelo grande poeta, não gosto do sentido destrutivo do termo. Avassaladora tem um sentido egoísta. Se todas fossem avassaladoras não sobraria nada, nem ninguém. Se todas fossem dominadoras não haveria democracia, nem cidadania; nem dignidade, nem masculinidade. Avassaladora pode ser a exceção, mas não o padrão. Quando se trata de igualdade, prefiro o padrão; quando se trata de liberdade, a exceção. Avassaladoramente.
Apesar de gostar da música e da descrição dessa mulher destemida criada pelo grande poeta, não gosto do sentido destrutivo do termo. Avassaladora tem um sentido egoísta. Se todas fossem avassaladoras não sobraria nada, nem ninguém. Se todas fossem dominadoras não haveria democracia, nem cidadania; nem dignidade, nem masculinidade. Avassaladora pode ser a exceção, mas não o padrão. Quando se trata de igualdade, prefiro o padrão; quando se trata de liberdade, a exceção. Avassaladoramente.
04/01/2011
Com carinho, ao mestre Paulinho
Depois de um post explicando a razão da presença constante da finitude em meus textos, nada melhor do que lembrar a presença da melancolia na obra de alguns artistas brasileiros. Penso até que a dor da melancolia é pre-requisito para uma boa produção poética: só quem sente na carne toca na alma. Entre tantos artistas que são reconhecidos como melancólicos quero render uma homenagem especial ao mestre e filósofo Paulinho da Viola. E nem vou falar de Cartola e Gonzaguinha.
O principal motivo pelo qual há tanta melancolia no samba e, de uma maneira geral, na cultura popular brasileira, é que as classes populares encarnam o dilema de viver numa sociedade autoritária e sofrem na pele a desigualdade social. Com algumas exceções, há um constante tom de melancolia/lamento e resignação nas composições produzidas por artistas oriundos das classes baixas. É uma melancolia que transfere para um plano metafísico, extra-mundano, ou para o futuro a solução dos problemas enfrentados na existência (desde problemas amorosos a problemas políticos e econômicos). Há uma idealização de uma justiça que será realizada num futuro distante (ou num plano espiritual), punindo o mal que os pobres têm sofrido cotidianamente no Brasil.
Por esse motivo (porque a justiça será feita um dia), frequentemente há também uma resignição quanto à situação vivida, na certeza de que as opressões sofridas pelas classes populares não ficarão impunes e de que as perdas/mortes/frustrações experimentadas fazem parte da condição de ser pobre, como se o sofrimento fosse natural para os pobres, cabendo-lhes suportar a dor convictos de que um dia serão vingados. Aí a felicidade deixa de ser uma coisa a ser perseguida/buscada e passa a perseguir os infelizes sofredores desse mundo. É como se a felicidade batesse à porta, recompensando as classes populares por suportar em vida tanta tristeza, opressão e perda. Gonzaguinha tem uma música chamada "A felicidade bate à sua porta" e o próprio Paulinho da Viola canta essa idéia em "Perder e Ganhar".
A melancolia por apenas sobreviver é comum na produção cultural das classes populares, como o próprio Norbert Elias vai ressaltar num de seus textos quando analisa o surgimento (sociogênese) do romantismo. É preciso lembrar ainda que, no caso brasileiro, o samba nasce num espaço social (favela) composto de pessoas oriundas de diversas partes do território nacional, que trazem consigo suas experiências e culturas. Esse espaço de diversidade cultural é o cenário do sofrimento, das lutas, dos dramas de cada dia. É o lugar da saudade da família (e da terra natal) que ficou pra trás, da violência sofrida, do desprovimento material e da esperança de dar certo, do sonho no eldorado. Se há um termo que poderia resumir/expressar o sentimento presente na cultura popular, esse termo é distância ou separação. É uma distância/separação geracional, econômica, cultural, afetiva... Essa distância/separação é produto de uma sociedade desigual como a nossa. Nesse aspecto a cultura popular brasileira tira leite de pedra, extrai poesia da dor. Por isso, não vejo a melancolia só como tristeza, mas também como resistência e esperança, porque é isso que está sendo gestado na cultura popular brasileira, mudança social.
Fiz toda essa análise só pra render uma singela homenagem poética ao mestre Paulinho. Aí vai:
A melancolia rasgada,
Chorada,
Em forma de cantares,
Em forma de pesares.
Pesa na alma a saudade.
Sem nenhuma vaidade.
Só lamento,
A dor do desalento.
O amor impossível de se dar;
Impossível de se acabar.
E a condição é uma só:
Aguardar.
E guardar o que passou.
Imaginar que não acabou.
Resistir com esperança.
Trabalhar com perseverança.
Sabendo que um dia a expiação virá.
E que se fez o melhor que se podia,
Que a perda está no dia a dia
Constante,
Deprimente.
Mas quando a alegria voltar,
Quando ela voltar,
O sorriso retornará,
De canto a canto,
Com todo seu encanto.
Segue essa Viola!
_________________________________
Vão aqui dois singelos fragmentos de músicas de Paulinho da Viola que expressam bem essa idealização da mulher amada e a melancolia por não poder realizar o idealizado, seja pela distância geográfica (ela mora no Recife) ou social (socialmente condenado, reprovado). Para quem nunca ouviu nada de Paulinho da Viola, sugiro que comece ouvindo o maravilhoso disco Paulinho da Viola, de 1971 (capa abaixo). Aliás, os dois discos lançados naquele ano são muito bons. Mas o que me refiro, é impecável! Do início ao fim. Olha eu falando de fim novamente!
Para um amor no Recife (Paulinho da Viola)
A razão porque mando um sorriso
E não corro
É que andei levando a vida
Quase morto
Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue
E sepultar bem longe
O que restou da camisa
Colorida que cobria
Minha dor
Meu amor eu não me esqueço
Não se esqueça por favor
Que voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo este tempo passe
Para beijar você
Pressentimento (Paulinho da Viola)
Nosso amor não dura nada
Mas há de dar um poema
Que transformarei num samba
Quando a gente se deixar
Quando a gente se deixar
Nosso amor foi condenado
A breve amor nada mais
Eu tive um pressentimento
No nosso último beijo
Por isso faço um poema
Antes dele se acabar
E ponho uma melodia
Transformo em samba vulgar
Minha dor e meu lamento
Papel que solto no ar
Ai amor que sofrimento
Ver meu sonho se acabar
O principal motivo pelo qual há tanta melancolia no samba e, de uma maneira geral, na cultura popular brasileira, é que as classes populares encarnam o dilema de viver numa sociedade autoritária e sofrem na pele a desigualdade social. Com algumas exceções, há um constante tom de melancolia/lamento e resignação nas composições produzidas por artistas oriundos das classes baixas. É uma melancolia que transfere para um plano metafísico, extra-mundano, ou para o futuro a solução dos problemas enfrentados na existência (desde problemas amorosos a problemas políticos e econômicos). Há uma idealização de uma justiça que será realizada num futuro distante (ou num plano espiritual), punindo o mal que os pobres têm sofrido cotidianamente no Brasil.
Por esse motivo (porque a justiça será feita um dia), frequentemente há também uma resignição quanto à situação vivida, na certeza de que as opressões sofridas pelas classes populares não ficarão impunes e de que as perdas/mortes/frustrações experimentadas fazem parte da condição de ser pobre, como se o sofrimento fosse natural para os pobres, cabendo-lhes suportar a dor convictos de que um dia serão vingados. Aí a felicidade deixa de ser uma coisa a ser perseguida/buscada e passa a perseguir os infelizes sofredores desse mundo. É como se a felicidade batesse à porta, recompensando as classes populares por suportar em vida tanta tristeza, opressão e perda. Gonzaguinha tem uma música chamada "A felicidade bate à sua porta" e o próprio Paulinho da Viola canta essa idéia em "Perder e Ganhar".
A melancolia por apenas sobreviver é comum na produção cultural das classes populares, como o próprio Norbert Elias vai ressaltar num de seus textos quando analisa o surgimento (sociogênese) do romantismo. É preciso lembrar ainda que, no caso brasileiro, o samba nasce num espaço social (favela) composto de pessoas oriundas de diversas partes do território nacional, que trazem consigo suas experiências e culturas. Esse espaço de diversidade cultural é o cenário do sofrimento, das lutas, dos dramas de cada dia. É o lugar da saudade da família (e da terra natal) que ficou pra trás, da violência sofrida, do desprovimento material e da esperança de dar certo, do sonho no eldorado. Se há um termo que poderia resumir/expressar o sentimento presente na cultura popular, esse termo é distância ou separação. É uma distância/separação geracional, econômica, cultural, afetiva... Essa distância/separação é produto de uma sociedade desigual como a nossa. Nesse aspecto a cultura popular brasileira tira leite de pedra, extrai poesia da dor. Por isso, não vejo a melancolia só como tristeza, mas também como resistência e esperança, porque é isso que está sendo gestado na cultura popular brasileira, mudança social.
Fiz toda essa análise só pra render uma singela homenagem poética ao mestre Paulinho. Aí vai:
A melancolia rasgada,
Chorada,
Em forma de cantares,
Em forma de pesares.
Pesa na alma a saudade.
Sem nenhuma vaidade.
Só lamento,
A dor do desalento.
O amor impossível de se dar;
Impossível de se acabar.
E a condição é uma só:
Aguardar.
E guardar o que passou.
Imaginar que não acabou.
Resistir com esperança.
Trabalhar com perseverança.
Sabendo que um dia a expiação virá.
E que se fez o melhor que se podia,
Que a perda está no dia a dia
Constante,
Deprimente.
Mas quando a alegria voltar,
Quando ela voltar,
O sorriso retornará,
De canto a canto,
Com todo seu encanto.
Segue essa Viola!
_________________________________
Vão aqui dois singelos fragmentos de músicas de Paulinho da Viola que expressam bem essa idealização da mulher amada e a melancolia por não poder realizar o idealizado, seja pela distância geográfica (ela mora no Recife) ou social (socialmente condenado, reprovado). Para quem nunca ouviu nada de Paulinho da Viola, sugiro que comece ouvindo o maravilhoso disco Paulinho da Viola, de 1971 (capa abaixo). Aliás, os dois discos lançados naquele ano são muito bons. Mas o que me refiro, é impecável! Do início ao fim. Olha eu falando de fim novamente!
Para um amor no Recife (Paulinho da Viola)
A razão porque mando um sorriso
E não corro
É que andei levando a vida
Quase morto
Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue
E sepultar bem longe
O que restou da camisa
Colorida que cobria
Minha dor
Meu amor eu não me esqueço
Não se esqueça por favor
Que voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo este tempo passe
Para beijar você
Pressentimento (Paulinho da Viola)
Nosso amor não dura nada
Mas há de dar um poema
Que transformarei num samba
Quando a gente se deixar
Quando a gente se deixar
Nosso amor foi condenado
A breve amor nada mais
Eu tive um pressentimento
No nosso último beijo
Por isso faço um poema
Antes dele se acabar
E ponho uma melodia
Transformo em samba vulgar
Minha dor e meu lamento
Papel que solto no ar
Ai amor que sofrimento
Ver meu sonho se acabar
03/01/2011
Sobre a presença constante da finitude em meus textos

02/01/2011
Crise de meia-idade
Crise de meia-idade é coisa de homem que vive com mulher de meia-idade. Essas metades amargam inteiramente a relação.
01/01/2011
Aí e aqui
Aqui é perto daí.
Daí vim praqui;
Daqui volto praí.
E aqui, falta você.
Mas a regressiva
Nos aproxima.
Aí e aqui.
Daí vim praqui;
Daqui volto praí.
E aqui, falta você.
Mas a regressiva
Nos aproxima.
Aí e aqui.