11/01/2011

Escavações da/na alma

Você é arte pura.
Mas também sabe fazer o mal.
E bem que já ouvira dizer.
Mas não queria crer.

Foi você quem me descobriu.
Foi você quem me seduziu.
Você me destruiu.
E me destrói a cada dia.
Com toda sua arrogância e simpatia.

Você me tirou da caverna escura e preguiçosa
E me expôs à luz,
À cruz.

Você me tirou das trevas e me lançou na noite.
No açoite.

Você me seguia
E eu pensava até onde iria.
E cheguei aqui,
A lugar nenhum.
De você não sei.

E alimento seu mal com minha lira,
O masoquismo que há em você.
E que me faz sádico sem ser,
Sem saber.
Afinal, o torturador não quer a morte do torturado,
Quer apenas vê-lo sofrer.
O sofrimento do outro lhe dá prazer.

Agora tento fugir da noite e não consigo.
Você sempre está comigo.
Tenho o corpo marcado e doído;
E a alma cansada e caída.
Mas você não me deixa em paz.
Mesmo no silêncio.

Eu que sempre fujo
Já não consigo mais.
Trago comigo o fogo e os grilhões.
Trago você e nunca se acaba.
.................................................................................................
Imagem: Cabeza, Jean-Michel Basquiat (1982).
As estrofes dessa poesia podem ser recortadas e lidas aleatoriamente. A ordem em que as publiquei não foi a mesma em que as escrevi. Por isso, também não precisa ser a mesma ordem da leitura. É sempre assim, não há ordem na vida. Há ordens. Algumas são duras demais. Quem dá o sentido é você. O meu sentido pode não ser o seu: posso sentir mais que você. Ou menos. Vai saber?! Mas não tenho dúvidas, quem dá o sentido é você.
Uma coisa que esperava enquanto criava era que tudo fosse intensamente e bem devagar. Como gosto de fazer. Como gosto de ser. Como gosto de você! Sugiro que a leitura dessa poesia seja na cadência da música "Sofre", de Tim Maia. (link abaixo) Embora a versão de Nasi e Os Irmãos do Blues seja ainda melhor que a original. http://letras.terra.com.br/tim-maia/1277592/
Preciso ir. Há catástrofes mais importantes que a minha precisando de reflexões.