26/10/2010

Faça o certo?!

Às vezes é melhor fazer o certo.
Mesmo que ele não esteja por perto.
Mesmo que não exista o certo
Ou que ele seja incerto.

Às vezes a convenção é a própria realidade.
E aí não se apresenta nunhuma outra possibilidade,
Além da submissão
Ou da punição.
Ou os dois ao mesmo tempo,
Como uma forma de tormento.

Quando a gente não quer enfrentar,
O melhor é dissimular
Ou abandonar.

Mas quando se tem paixão pelas verdades,
Não satisfaz as amenidades:
É preciso ir fundo e desvelar as vontades
E revelar as verdades.

Mas quando a gente não pode enfrentar,
O melhor é acreditar.
Ou abandonar.

Penso que fugir é também resistir.
Fujo com quem quiser.
Fujo com quem puder.
Fujo pra bem longe
E trago comigo o que me consome.

Descubro que o mal está em mim
E que esse espírito malvado precisa sair.
Mesmo sem acreditar,
Preciso concordar
E me dissuadir,
Como um palhaço que vê o público aplaudir
Sem mesmo entender porque se está ali.

A segurança está aí:
Em que ser diferente
Produz desconforto nessa gente temente.
E eu que sou demente,
Preciso extrair a serpente
E seguir crente,
Carente
E insuficiente.
E isso é intransigente.

Penso que fingir é também garantir.
Finjo com quem quiser.
Finjo com quem puder.
Finjo pra ir longe
E trago comigo quem me consome.

Não há medo que justifique o fim.
Não há desejo que justifique o fim.
Aplacar, amansar, adestrar, castrar e controlar
É sempre melhor que arriscar?

E quando a gente foge,
Diz amém.
E quando a gente foge,
O dominador também.
E tudo se mantém.

É confortável seguir:
Faça o certo!
Crê no credo!
Viva o perto!
Morra o resto!

E depois abra os olhos
E não enxergue sua vida continuar.

É desconfortável resistir:
Faça ereto!
Pense o credo!
Prenda o reto!
Solte o verbo!

E depois feche os olhos
E veja seu próprio cadáver acabar.

Quando a razão faz parar o coração,
O medo paralisa a ação.
E aí não tem jeito,
O mal já está feito:
A técnica ataca
E a arte se mata.

Não recrimino a fuga,
Ela também é coragem.
Mas duvido que o medo
Encontre o amor.


Sinto por sua apatia.
E me ressinto da falta de alegria.
Lamento!
Está tudo perdido.