A autoridade é uma forma de poder que se exerce legitimamente a partir de uma atribuição (legitimadora) do próprio grupo social. Vivemos num período em que a autoridade é questionada com maior intensidade do que era até meados do século passado, quando esse questionamento restringia-se à autoridade política. Hoje a crítica se dá a qualquer tipo de autoridade, da paterna à professoral, passando pela autoridade política, profissional, religiosa, acadêmica e outras. A crise de autoridade hoje está disseminada por toda a sociedade.O mais interessante e paradoxal é que numa sociedade cética como a de hoje, há uma valorização cada vez maior da autoridade, transformada em mito e mercadoria para consumo, que é também uma forma de desconstrução da própria autoridade já que consumir é gastar, destruir. Desafiamos a autoridade de alguém tentando provar que ela não tem a autoridade que aparenta ou buscando reconhecer o valor dessa autoridade. Quando alguém consegue provar, depois de testada, que merece a autoridade que tem, passa a ser reverenciada sem questionamentos, produzindo um paradoxo: a crise de autoridade é uma forma de desconstrução da autoridade a partir do questionamento; uma vez testada e aprovada, essa autoridade passa agora a ser mitificada e acreditada, dando margem ao surgimento de discursos carismáticos que arrebanham multidões de seguidores. Em meio a uma crise generalizada de confiança e autoridade, as pessoas ficam suscetíveis à crença no discurso de uma autoridade que fora provada e aprovada, transformando-a em guru, amigo(a) ou cônjuge. Afinal de contas, num período de escassez de autoridade, viver junto a uma é um luxo. É o consumo do exótico.