Nas minhas andanças pelo Brasil tenho descoberto que as raízes anti-democráticas brasileiras são mais profundas do que talvez possamos imaginar, causando consequências graves para a estrutura social brasileira e para a auto-estima dos cidadãos brasileiros. Tenho visto todo tipo de abuso de poder e exploração do homem pelo homem: tráfico de influências, desprezo, assédios moral e sexual, humilhação, perseguição, exploração da força de trabalho.
Moro numa cidade onde alguns patrões se acham donos dos seus subordinados, como numa relação escravocrata que perdura. Os trabalhadores destes "senhores" são "proibidos" de ficar doentes, tem de voltar a trabalhar em uma semana após ter tido bebê, são vigiados por câmeras para não comer em serviço nem ficar à toa, realizam os trabalhos domésticos do patrão junto com o serviço obrigatório da empresa e não podem reclamar na justiça trabalhista por nenhuma irregularidade sofrida, sob pena de terem suas vidas desgraçadas.
Estes "senhores" (e "senhoras") se consideram e estão, de fato, acima da lei. Não há direitos para seus escravos, quer dizer, trabalhadores. Só o direito de ficar calado, para não ter suas palavras usadas contra si mesmos. A anti-democracia autoritária brasileira se alimenta da ignorância e da mão-de-obra barata para reproduzir a dificuldades que temos, como sociedade, de reconhecer os direitos do outro e de legitimar uma Justiça para todos.