Existe algo pior que a morte. A ameaça de morte. Se a morte significar dormência, a ameaça de morte significa insônia. É melhor estar morto do que viver com o terror de ser morto a qualquer momento. A ameaça de morte é mais destrutiva que a própria morte. Ela cria o medo da morte, que é pior que a própria morte. A morte até poderia ser vista como uma coisa boa, como sinônimo de descanso, mas passa a ser encarada como algo terrível. O descanso que a morte representaria se consumada, passa a tirar a paz de quem está sendo ameaçado. Vislumbrar a morte como o fim de uma jornada seria cruzar a linha final exausto e feliz, independente da posição em que se chegasse, certo de que cumpriu o seu dever. Mas aquele que é ameaçado de morte vê a sua jornada encurtada, mesmo antes da morte chegar. E pior, não por Deus, que é o dono da vida e dos destinos humanos, mas por alguém, igual a ele, que resolve ameaçá-lo de não completar sua jornada, de retirá-lo da vida.
Ameaçar de morte é matar antecipadamente. É matar nos nervos, nas emoções, na razão. É tirar a vontade de viver do sujeito ameaçado, que questiona seu tempo aqui e imagina seu fim iminente. Ameaçar de morte é descredibilizar a vida, a história pessoal. É derramar sangue sobre um pedaço de papel com muitas letras e palavras sem nexo nenhum. Ameaçar de morte é não reconhecer que essas letras e palavras tem um sentido próprio, que é a vida do sujeito e suas experiências. Pior, é confundir essas letras e palavras, retirando seu sentido. Fazendo o ameaçado acreditar que sua vida não teve sentido, que não valeu a pena vivê-la.
Estou falando da ameça de morte que se ameaça chamando pelo nome: "ei, Fulano, eu vou matar você. Eu vou acabar com sua vida!"Coisa mortal é a ameça de morte. Haja força para suportar. Haja terapia.