10/03/2007

Cultivo intelectual


Falamos de cultura como se fosse mesmo um conceito universal e entendido por todos de igual maneira, independente da cultura em que ele esteja inserido. Mais adequado seria falar em 'culturas', no plural, porque há muitos tipos de sentido para o termo, assim como há muitas culturas distintas.

Mas o sentido, sem dúvida, mais interessante, do ponto de vista do processo de cognição (conhecimento) e do papel político da cultura individual, é a cultura como como cultivo, como trabalho de reflexão e de apropriação da "visão de mundo" do outro. O sujeito culto antigamente era aquele que viajara o mundo, que conhecera outras culturas, que aprendera e observar e valorizar o sentido da vida de outras nações. Já não é mais. Simplesmente porque o consumismo transformou as culturas alheias também em mercadoria.

O cultivo da intelectualidade é como um lavrador que cultiva sua plantação, que planta, que rega, que poda, que limpa o terreno, que põe inseticida, que reza para que não haja intempéries (chuvas ou sol em excesso), que observa o desabrochar das flores, que espera a colheita e que, a seu tempo, colhe os frutos, ou os resultados esperados de seu trabalho e paciência. Cultivar a intelectualidade é conhecer criticamente. É duvidar dos fatos e buscar interpretações da realidade que se aproxime de uma "visão de mundo" consciente das circunstâncias, consciente de que os discursos são ideológicos e que, portanto, tendem a mascarar intenções, paixões, realidades.

Cultivar a intelectualidade é cultivar a resistência, é trabalhar arduamente para manter uma "visão de mundo" esclarecedora das situações que vivemos, mesmo (e principalmente) contrariando o discurso dominante. É trabalhoso, é cansativo, mas é necessário, para que não se sucumba ante os apelos consumistas e os discursos "convincentes" produzidos pelas mais diferentes instâncias de poder.